Açoriano Oriental
“Jardim Iluminado” explora relação entre natureza e universo

A Galeria Fonseca Macedo dá continuidade ao projeto “Celebração e Resiliência” com a exposição coletiva “Jardim Iluminado”, que reúne obras de Cristina Ataíde, Sofia Caetano e Beatriz Brum, explorando a relação entre a natureza e o universo através da cor, do movimento e de uma abordagem conceptual

“Jardim Iluminado” explora relação entre  natureza e universo

Autor: Ana Carvalho Melo

A exposição coletiva “Jardim Iluminado”, patente na Galeria Fonseca Macedo, é a quarta exposição integrada no projeto “Celebração e Resiliência” que assinala dos 25 anos da galeria.

Esta exposição, que reúne obras de Cristina Ataíde, Sofia Caetano e Beatriz Brum, “cria um ambiente cheio de cor e algum movimento, já que as três artistas desenvolveram trabalhos sobre o jardim, as plantas, as flores, as árvores, o vento e, numa abordagem mais conceptual, é sugerida uma reflexão sobre as ligações e contactos entre as plantas, entre estas e o universo e entre estas e os humanos”, como revela ao Açoriano Oriental a galerista e curadora da exposição, Fátima Mota.

“As obras são, na sua maioria, desenho sobre papel e pintura sobre tela. Para além disso, e pela primeira vez, surge neste projeto um vídeo que reforça a beleza das cores e formas das flores, acompanhado de uma canção com letra e música inéditas. Diretamente da natureza, sobressai, na parede em frente à entrada da galeria, um tronco de árvore recolhido da terra, mostrando o efeito da passagem do tempo”, descreve.

Sobre os trabalhos apresentados, Cristina Ataíde revela: “O ar livre é o meu atelier predileto, chamando a natureza para ser coautora do meu trabalho. São os próprios elementos naturais que interagem, modificam-se, depositam-se, criam novas formas ou novas cores nas suas transformações químicas.”

“‘Com o Vento e Ainda o Vento’ são séries de desenhos em que o próprio vento espalha o pigmento que vou depositando no suporte ou movimenta as folhas das árvores, e eu tento captar o movimento dessas sombras. São também nas árvores, vivas ou já mortas, que crescem fungos ou cogumelos, que utilizo para cruzar com a lava basáltica, tão especial dos Açores”, descreve.

Já a jovem Beatriz Brum explica que a sua proposta para esta exposição é “um conjunto de telas pequenas, onde, através da pintura e do desenho, dou corpo à reflexão sobre o que podem ser essas conexões que existem nesses corpos (plantas).” “Penso sempre em três campos: a conexão entre as próprias plantas, entre estas e o universo (num campo mais alargado) e entre nós, seres humanos. Imagino essas paisagens energéticas como uma espécie de rizoma, onde tudo, de alguma forma, está conectado”, explica.

Por sua vez, Sofia Caetano descreve uma visão que surgiu no seu próprio jardim e que lhe trouxe uma nova esperança.

“No meu jardim, vi os bons-dias a sufocarem as minhas árvores de fruto. De longe, os pontinhos roxos das suas flores cobriam todo o jardim, numa nova camada. Outro dia, cheguei a casa e encontrei todas estas plantas, chamadas de invasoras, a fazerem amor umas com as outras. Nos dias seguintes, comecei a encontrar novas plantas, novas flores, novas bolinhas, resultado do cruzamento das primeiras invasoras. As suas cores cobriam a paisagem de todas as janelas da minha casa. Pensei que estas novas plantas poderiam ser curandeiras. Curandeiras invasoras. As novas plantas que vieram para curar todos os males do mundo”, relata.

A exposição agora patente na Galeria Fonseca Macedo partilha, com as que a antecederam, a reflexão sobre o tema da natureza, uma coincidência que tem levado também a curadora destas exposições a refletir.

“Tentei perceber e encontrar uma explicação para a escolha desta temática e cheguei à conclusão de que a beleza da natureza que nos rodeia na ilha de São Miguel é tão intensa que não deixa os artistas indiferentes. Mesmo aqueles que vêm de fora sofrem também esta influência magnetizante da força da natureza. Também é certo que, hoje em dia, os artistas estão muito conectados com a necessidade de se alterar o modo como a Humanidade se relaciona com a Natureza”, declara.

E, nesse sentido, recorda: “O tema da natureza tem sido explorado por quase todos os artistas, de uma forma completamente diversificada. Tivemos paisagens da ilha de São Miguel, nomeadamente na primeira exposição, apresentadas pelo artista Urbano e pela artista Margarida Andrade; tivemos fragmentos da natureza em regeneração nos desenhos a grafite e acrílico do artista Vasco Barata. Na exposição ‘Corpo de Pedra’, com os artistas Rui Chafes e Sandra Rocha, voltámos a ver algumas fotos das Furnas, ilha de São Miguel, assim como paisagens de outras latitudes mais distantes. Na exposição ‘O Instante do Mundo’, inaugurada em janeiro deste ano, voltámos a apreciar aguarelas do reconhecido paisagista português João Queiroz, juntamente com desenhos recentes da série ‘O Meu Jardim’, da nossa artista Catarina Branco, e de paisagens intituladas ‘Entre as Memórias’, do artista José Lourenço.”

Após esta exposição, que pode ser visitada até 30 de abril, a Galeria Fonseca Macedo vai receber a exposição da artista Andrea Santolaya, em simultâneo com o Museu Carlos Machado e, em julho, será a vez da coletiva com os artistas Pedro Cabrita Reis, Maria Ana Vasco Costa e João Miguel Ramos, que “será a última deste período longo e muito rico, tanto em número de artistas como em diversidade de obras apresentadas.”

“Como estava previsto desde o início, as exposições que inaugurámos foram coletivas, integrando artistas de várias gerações e geografias, com grande foco nos artistas dos Açores. Em consequência disso, os artistas mais novos puderam ter a experiência de trabalhar com artistas com longas carreiras e já representados em instituições museológicas de referência. Estou certa de que esta vivência permanecerá nas suas memórias e potenciará novos encontros entre artistas no futuro”, explica.

E acrescenta: “Para mim, como programadora e galerista, as várias exposições têm sido muito interessantes, têm aberto caminho a múltiplas leituras das obras apresentadas e têm aproximado muito os artistas de cada grupo. Penso que visitarei com prazer estas exposições – as imagens e textos de apresentação – no próximo ano, quando iniciarmos o projeto do livro que registará as memórias dos 25 anos da Galeria Fonseca Macedo ou, como eu gosto de dizer, de um quarto de século.”

PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados

Este site utiliza cookies: ao navegar no site está a consentir a sua utilização.
Consulte os termos e condições de utilização e a política de privacidade do site do Açoriano Oriental.