Açoriano Oriental
Empresários recusam ser “financiadores” da dívida da Região

Gualter Couto frisou que “não podem” ser os empresários a ficar com o “ónus” de parte da dívida da Região e acusou os governos de terem “mais olhos que barriga”. Na inauguração da FICSA, Nascimento Cabral defendeu investimentos “estruturais” nos transportes e na saúde.


Empresários recusam ser “financiadores” da dívida da Região

Autor: Carolina Moreira

O presidente da direção da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada (CCIPD), Gualter Couto, deixou ontem o alerta de que os empresários açorianos “não podem” ser os “financiadores não remunerados” da dívida da Região.

“Não podem ser os empresários a assumir o papel de financiadores da Região e, ainda por cima, financiadores não remunerados! Não podem os empresários, com os seus próprios compromissos para honrar, ficar com o ónus de parte da dívida da Região. Os cadernos de encargos dos contratos públicos não preveem tal condição, assim como as margens praticadas nestes contratos não suportam encargos inesperados, resultantes do incumprimento”, frisou ontem no seu discurso de inauguração da FICSA 2025 - Feira da Indústria, Comércio e Serviço dos Açores, que decorre durante as Festas do Senhor Santo Cristo.

Na ocasião, Gualter Couto deu conta dos “pedidos de ajuda” rececionados na CCIPD relativamente ao incumprimento do Governo Regional nos pagamentos a fornecedores, principalmente nas áreas da Saúde e Construção Civil, e acusou os governos de, “muitas vezes, terem mais olhos que barriga”.

O presidente da CCIPD denunciou também a receção de pedidos de ajuda para “interferir” junto do executivo por “medo de represálias”, deixando claro que os empresários não vão aceitar “tiques de governos absolutistas”.

O representante dos empresários de São Miguel e Santa Maria disse, contudo, registar “com muito agrado” o recente anúncio do Governo Regional de que pretende saldar as dívidas a fornecedores no setor da Saúde até “final de junho”.

Na inauguração da FICSA 2025, Gualter Couto não se coibiu de apontar alguns dos principais desafios económicos para a Região, alertando para o “problema dos transportes marítimos, cada vez mais sobrecarregados e a necessitar de uma profunda revisão do modelo existente”.

Gualter Couto considerou que a solução poderá passar pela “introdução de OSP e/ou pela reestruturação do modelo que promova uma maior conexão entre tráfego local e tráfego externo”.

Os transportes coletivos terrestres não foram esquecidos, nem os “problemas na expedição de carga e nas acessibilidades interilhas”, tendo havido ainda uma palavra para a “necessidade de maior clareza”e “uníssono” na promoção turística da Região.

A insegurança, a escassez e baixa qualificação da mão-de-obra existente e a preocupação com o cumprimento de prazos e de execução de fundos, nomeadamente do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) também foram mencionados como desafios a enfrentar.

A inauguração da FICSA contou também com a presença do presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Pedro Nascimento Cabral, que desafiou a CCIPD a juntar-se à autarquia na “pressão” ao Governo Regional para que sejam realizados investimentos “estruturais” em áreas como os Transportes e a Saúde, que permitam a projeção do concelho “para a próxima década”.

“Viajar e entrar no aeroporto de Ponta Delgada, atualmente, é um verdadeiro caos. Não podemos encolher os ombros perante isso. Devemos exigir à ANA, que tem a concessão do aeroporto, a realização de investimentos. Mas não são investimentos de lavar a cara. São investimentos estruturais que obriguem à inauguração de mais uma ou duas portas de embarque, no mínimo”, frisou.

Nascimento Cabral criticou também o “atraso que se assiste numa verdadeira política de transporte marítimo de cargas e passageiros nos Açores que isola São Miguel das outras ilhas, que prejudica a circulação do turismo de São Miguel para as outras ilhas”, tecendo também críticas à “ausência de investimento público” nas vias terrestres.

O autarca abordou ainda a “política de Saúde deste Governo Regional”, alertando que a construção do Modular tem de ser uma “solução transitória”.

“De maneira nenhuma, poderá ser uma solução definitiva, porque é inadmissível que a maior ilha dos Açores não tenha uma estrutura hospitalar que seja um autêntico hospital central de referência”, frisou, desafiando Gualter Couto a “manter a pressão junto do Governo Regional para que a construção de um hospital digno desse nome não fique parado”.

Já a secretária regional da Juventude, Habitação e Emprego, Maria João Carreiro, salientou na inauguração da FICSA que, apesar de compreender as preocupações das empresas com a escassez de mão-de-obra, persistem “desafios ao nível da qualidade do emprego e dos salários que têm de ser superados”.

Nesse sentido, considerou ser necessário “afirmar com ainda mais convicção e determinação uma abordagem qualitativa ao mercado de trabalho” para “atrair, formar e reter talento nas empresas”.

No seu discurso, Maria João Carreiro apelou ainda às empresas para que “não subestimem o potencial dos trabalhadores que permanecem no desemprego”, defendendo que a formação é “essencial para a requalificação e reconversão profissional” destas pessoas.

De salientar que a FICSA 2025 pode ser visitada até 29 de maio, contando com uma área de cerca de 4.000 m2, 129 expositores ocupados por 49 empresas e entidades, 54 artesãos, três IPSS e a Universidade dos Açores. São esperados mais de 30 mil visitantes este ano.

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