Autor: Lusa/AO Online
“Há pessoas que ligam quase religiosamente para o centro. Sabem o número e ligam a perguntar a previsão meteorológica para as suas atividades profissionais, para planear uma obra no exterior ou uma festa”, afirmou à agência Lusa o diretor da delegação regional do IPMA, Diamantino Henriques, acrescentando que “há pescadores que ligam diariamente antes de saírem para o mar”.
Num serviço prestado 24 sobre 24 horas e este ano 366 dias, trabalham seis meteorologistas, todos em São Miguel. Nas restantes oito ilhas do arquipélago estão observadores meteorológicos, a quem cabe recolher informação, sobretudo para fins aeronáuticos.
Em entrevista a propósito do Dia Mundial da Meteorologia, que se assinala na quarta-feira, Diamantino Henriques considerou que o gosto dos açorianos pela meteorologia se prende com o facto de viverem em ilhas dispersas.
“O tempo condiciona muito a atividade e qualquer situação meteorológica põe em causa o transporte marítimo e aéreo”, referiu.
“Desde o tempo do coronel Afonso Chaves [um dos pioneiros da meteorologia na região] os Açores estão na vanguarda. Eram uma espécie de ponto avançado de observação nessa altura, no início do século XX, quando não havia satélites, nem sistemas de informação meteorológicos como há hoje”, adiantou Diamantino Henriques, destacando que já em 1901 foi criado nos Açores um serviço meteorológico, integrado depois, em 1946, no serviço nacional de meteorologia.
Esta apetência dos açorianos pela meteorologia tem feito com que muitos meteorologistas amadores criem páginas nas redes sociais, algo que o responsável não critica, embora chame a atenção para o facto de “nem toda a informação disponibilizada na Internet ser correta”.
“Hoje em dia existe muita informação de boa qualidade na Internet. É preciso é saber interpretá-la”, advertiu Diamantino Henriques.
Além das regulares previsões meteorológicas, a delegação do IPMA nos Açores é responsável por boletins diários na RTP/Açores e por previsões do estado do tempo para o mar, algo que segundo Diamantino Henriques é “muito útil” à navegação internacional que passa ao largo do arquipélago.
O responsável pela delegação do IPMA nos Açores referiu que devido à evolução tecnológica tem sido possível “melhorar bastante” o grau de precisão e certeza das previsões meteorológicas feitas para três ou cinco dias, mas “nem tudo está feito”.
“Necessitamos de radares meteorológicos para termos uma observação com o mínimo de abrangência para todo o território dos Açores e melhorar o sistema de observação marítima”, defendeu Diamantino Henriques, salientando que atualmente o único radar meteorológico existente na região é propriedade norte-americana e está instalado na base das Lajes, na ilha Terceira.
Mundialmente conhecido pelo anticiclone dos Açores, o arquipélago tem sido cada vez mais notícia pela passagem de furacões e ciclones.
Segundo o responsável, “com o evoluir das alterações climáticas, esse tipo de fenómenos vai ocorrer com maior intensidade e não com maior frequência”.