Autor: Rui Jorge Cabral
Tudo
isso parece hoje arcaico, na era digital e das redes sociais, mas até
há 20 anos atrás, era assim que se fazia e foi assim que os Açores -
particularmente a ilha de São Miguel - viveram os tempos gloriosos das
bandas de garagem e viveram uma explosão de bandas de Heavy Metal, em
vários registos de som mais ou menos ‘pesado’, que atingiu o auge na
década de 1990, num fenómeno que dificilmente se repetirá nos tempos
atuais.
E é o som de algumas dessas bandas que agora irá renascer no
seu formato original, em cassete, através do projeto ‘Azorean Heavy
Metal 1980-2000 Collection’, desenvolvido pelo músico Paulo Andrade.
São
oito bandas, cujos registos em cassete serão reeditados em seis
volumes, com o primeiro, dedicado à banda Prophecy of Death, a estar
disponível para entrega às pré-encomendas (os endereços de e-mail estão
disponíveis no grupo ‘Azores Heavy Metal “1980-2000” Collection’ na rede
social Facebook) a partir de 22 de março e com apresentação física
prevista para o dia 27 de março, previsivelmente no Colégio do
Castanheiro.
Os volumes seguintes deverão ser lançados mês a mês. O segundo volume em cassete vai reunir as gravações da banda ‘In Peccatum’; o terceiro, a banda ‘Obscenus’; o quarto, as bandas ‘Wreck Age’ e ‘Sanctimouniously’; o quinto, as bandas ‘Necropsia’ e ‘Hangover’ e o sexto volume será dedicado à mais conhecida destas bandas e uma das únicas (juntamente com os ‘In Peccatum’) que ainda está ativa, os ‘Morbid Death’. A edição das cassetes é da Mars Productions, do músico Paulo Andrade, em parceria com o projeto do Museu do Heavy Metal Açoriano.
Uma das vantagens desta reedição é a de reunir, nalguns casos, várias Demo Tapes lançadas pelas bandas numa única cassete.
Em
entrevista ao Açoriano Oriental, Paulo Andrade, contabilista de
profissão e músico há mais de 20 anos em várias bandas que marcaram o
‘underground’ micaelense, recorda como tudo começou: “foi num dia de
chuva, em que eu partilhei no Facebook uma memória das cassetes,
afirmando que esse era um bom dia para ouvi-las. O interessante é que
essa publicação teve mais de 200 comentários”. E foi aí que o projeto
nasceu até porque, explica Paulo Andrade, “a cassete ainda é muito
vendida no ‘underground’ do Metal no continente”.
Paulo Andrade
recorda também como foi difícil recuperar todos estes ‘tesouros’, uma
vez que na maior parte dos casos, nem os músicos das bandas tinham as
velhas Demo Tapes consigo, que só foram possíveis de recuperar através
de colecionadores no continente.
Cada volume desta coleção de cassetes custa 5,5 euros em pré-encomenda e 7 euros já depois do lançamento, havendo uma edição de 100 cassetes por cada volume, divididas em quatro lotes de 25 cassetes, todas numeradas. Os quatro lotes têm a ver com as quatro cores das cassetes disponíveis para venda: cinzento, amarelo, verde e preto. Há quem já tenha até pré-encomendado uma cassete de cada cor, mesmo sabendo que o conteúdo é repetido.
E
quem não conseguir arranjar um leitor de cassetes, mas quiser muito
ouvir essas antigas Demo Tapes, tem na mesma a possibilidade de fazer o
‘download’ do conteúdo, através de um código fornecido na caixa da
cassete.
Paulo Andrade recorda também que não foi fácil encontrar
quem produzisse as cassetes, uma tecnologia que está hoje descontinuada,
embora esteja a renascer em mercados de nicho, como o dos
colecionadores e o da nostalgia pelas tecnologias que marcaram o século
XX. E a resposta acabou por ser encontrada numa empresa familiar
instalada no Concelho da Maia, no Distrito do Porto.
Paulo Andrade salienta ainda que, apesar do nicho de mercado a que esta edição especial se destina, o primeiro volume já está quase esgotado só com pré-encomendas, havendo também alguma expectativa relativamente às vendas destas cassetes nalgumas lojas físicas, no continente e em Ponta Delgada.
Até porque, conclui Paulo Andrade, “quando a minha filha viu as cassetes, ela não sabia o que era”.