Autor: Carolina Moreira
A partir de janeiro, Gertrudes Labaça, a personagem criada pelo cabeleireiro furnense Bruno Costa durante a pandemia, vai “saltar” das redes sociais para uma digressão pelas comunidades de emigrantes açorianos, com espetáculos agendados para os Estados Unidos da América (EUA), o Canadá, a Bermuda e a Jamaica.
Gertrudes Labaça surgiu durante o primeiro confinamento quando Bruno Costa decidiu “animar as pessoas mais próximas nas Furnas”, tendo em conta o nervosismo instalado com o aparecimento da Covid-19, tornando-se viral passado pouco tempo.
“A realidade é que as pessoas estavam com tanta sede e com tanta vontade de rir que a Gertrudes viralizou”, afirma Bruno Costa, explicando que o nome Gertrudes foi escolhido “porque a minha mãe em criança brincava muito com esse nome e Labaça porque aqui chamamos a Povoação ‘cova da labaça’, em tom de sátira e brincadeira”.
Com 46 mil seguidores de várias partes do mundo no Facebook, a famosa e desbocada drag queen de cabelo vermelho das Furnas vai agora “dar o salto” das redes sociais para os palcos na diáspora, tendo o espetáculo nos EUA vendido em apenas dois dias.
“A Jéssica Botelho, uma grande fã da Gertrudes na América, e o Ricardo Farias, apresentador do programa De Cá P’ra Lá que passa na RTP/Açores, estão a organizar o meu espetáculo nos EUA que foi vendido em dois dias. Também vou fazer dois espetáculos na Casa dos Açores na Bermuda, vou ao Canadá e ainda a um resort na Jamaica, tudo de 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2022”, destaca.
Em entrevista ao Açoriano Oriental, Bruno Costa explica que o espetáculo pretende “mostrar a evolução da Gertrudes Labaça de gata borralheira para uma mulher glamorosa, tipo diva de Hollywood”, numa alusão ao seu crescimento desde o ano passado.
“A personagem evoluiu do 8 para o 80 graças a muito trabalho, mas também aos fãs e aos patrocínios de lojas que oferecem a roupa, sapatos, perucas, jóias, maquilhagem, tudo”, realça Bruno Costa.
Segundo o cabeleireiro, Gertrudes Labaça retrata
“uma mulher independente, que não tem medo de dizer o que pensa, livre e
que personifica o ‘sê quem tu és’”. Ao mesmo tempo, Gertrudes é “uma
típica mulher açoriana muito desbocada, uma típica enrediadeira, mas é
uma mulher moderna, toda para a frente”.
“Defendo muito as mulheres e acho que os Açores precisam desta personagem, porque temos uma cultura ainda muito machista, e a Gertrudes entra aqui para desmistificar isso tudo”, constata Bruno Costa, destacando que, desta forma, “mesmo sem querer, tenho ajudado muita gente”. “Recebo mensagens de pessoas com depressão que gostam dos meus conselhos, dos temas tabu que abordo”, salienta.
Nos ‘lives’ da sua página do Facebook, Gertrudes Labaça aborda temáticas relacionadas com a aceitação das pessoas, a igualdade e gosta de “dar conselhos às mulheres para se valorizarem, para se vestirem e maquilharem como querem”, sempre num tom de sátira social e crítica de costumes, mas apelando à valorização da figura e das singularidades femininas.
“A Gertrudes também tem a parte cultural, de ‘entertainer’, porque enquanto faço a minha maquilhagem nos ‘lives’ nas redes sociais, vou conversando com artistas regionais ou com ligação aos Açores, e assim dinamizo e dou a conhecer o trabalho deles. E esta é uma das partes que as pessoas mais gostam”, destaca Bruno Costa, adiantando que dará continuidade a esse trabalho durante o próximo ano, mas com aposta em artistas do continente. “Já tenho confirmada a Rosinha, o Flávio Furtado, a Fanny, etc. Isto porque a Gertrudes já tem muitos fãs no continente, o que me deixa de boca aberta”, confessa.
Além do reconhecimento dos seguidores, Gertrudes Labaça ganhou recentemente o prémio “Humor e Criatividade”, no âmbito da primeira edição dos Azorean Business Awards, que decorreu no dia 10 de dezembro, tendo como concorrentes Balada Brassado e o Helfimed.
“Para mim, o prémio significou muito, porque foi o reconhecimento do meu trabalho, do meu mérito. Sou de famílias muito pobres e foi um orgulho atingir essa meta só com o meu trabalho e com um telemóvel e nada mais”, afirma.
Para Bruno Costa, o próximo ano será recheado de trabalho e novidades, adiantando ao jornal que, quando regressar da digressão pela diáspora, irá trabalhar com a agência Hunt Global na criação de uma série televisiva sobre a Gertrudes, tendo ainda planeado “um grande espetáculo” em São Miguel que depois irá “correr todas as comunidades emigrantes açorianas”.
Ao jornal, Bruno Costa confessa ainda que os
seus objetivos profissionais não se ficam pela Gertrudes. “Consigo fazer
qualquer personagem e quero levar sempre o nome dos Açores comigo.
Gostava de ter a liberdade para fazer o que eu quisesse, fazer um filme
de comédia por cá e até ter o meu próprio programa de televisão”,
adianta.