Apesar dos esforços para a eletrificação da frota automóvel, o consumo de gasolina 95 nos Açores ainda está em curva ascendente, tendo sido comercializados 55,1 milhões de litros nos Açores em 2024, um número que supera em quase 20 milhões de litros os 35,4 milhões comercializados em 2014.
Segundo os dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores, no último mês em que há dados oficiais, julho de 2025, foi mesmo ultrapassada pela primeira vez nos últimos 20 anos a barreira dos seis milhões de litros de gasolina 95 comercializados num único mês.
Um recorde de 6,2 milhões de litros que pode ser já novamente batido quando for conhecido o valor de agosto de 2025, uma vez que estes são tradicionalmente os meses em que se consome mais gasolina nos Açores.
Se olharmos, por outro lado, para o gasóleo, verifica-se um aumento de comercialização ligeiramente superior a 10 milhões de litros entre 2014 e 2024, embora aqui se tenha de ter em conta que a estatística do gasóleo comercializado inclui o gasóleo rodoviário, o gasóleo colorido para a Agricultura e para as Pescas e o gasóleo que ainda é utilizado para a produção de energia elétrica.
O gasóleo é o combustível utilizado na atividade comercial e industrial e, por isso, não é de estranhar que o consumo deste combustível seja muito superior nos Açores. Por exemplo, em 2024, comercializaram-se 55,1 milhões de litros de gasolina 95 nos Açores e 135,3 milhões de litros de gasóleo nas suas várias classificações.
Contudo, o aumento menor do consumo de gasóleo face ao da gasolina e uma vez que a atividade económica não diminuiu nos últimos 10 anos, dever-se-á sobretudo à diminuição do consumo do gasóleo rodoviário, que depois do escândalo das emissões em 2015 passou a ser muito menos utilizado na indústria automóvel como combustível para veículos ligeiros de passageiros.
Em declarações ao Açoriano Oriental, o empresário do setor automóvel, João Medeiros, considera que o aumento do consumo de gasolina 95 nos Açores se deve “a um aumento significativo de viaturas a gasolina face ao aumento do número de rent-a-cars e também das frotas dessas mesmas rent-a-cars”. Ou seja, há aqui sobretudo um efeito do turismo no aumento do consumo de gasolina nos Açores verificado nos últimos 10 anos.
Relativamente ao menor crescimento do consumo de gasóleo face à gasolina, João Medeiros justifica-o como consequência “da indicação da União Europeia para reduzir as emissões nos transportes rodoviários”, que levou a que as marcas de automóveis “começassem a apostar muito mais nos veículos a gasolina do que nos a gasóleo”.
O aumento do consumo de gasolina nos Açores também não tem uma correspondência direta na venda de automóveis ligeiros na Região nos últimos 10 anos, lamentando João Medeiros que não tenha avançado a medida em tempos proposta pela Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada de “incentivar a que as rent-a-cars tivessem sede nos Açores, de forma a poderem comprar as viaturas no mercado local e assim dinamizar a economia deste setor”.
Pelo contrário, lamenta o empresário do setor automóvel, o que se verifica é a operação nos Açores por parte de muitas rent-a-cars com sede no exterior da Região e que trazem de fora os veículos com que operam nos Açores.
Questionado sobre quando o avanço das viaturas elétricas poderá inverter a tendência que ainda se verifica de aumento do consumo de gasolina nos Açores, João Medeiros reconhece que a mobilidade elétrica “vai ser um facto”, mais cedo ou mais tarde, mas para que nos Açores se possam dar passos maiores nesse sentido é preciso aumentar a rede pública de postos de carregamento.
“Aqui o problema põe-se essencialmente na questão dos postos públicos, que eu continuo a pensar que são insuficientes para fazer face a uma possibilidade de aumentar as viaturas elétricas”, lamenta João Medeiros, para quem “enquanto não houver uma rede de postos suficientemente ampla para que possamos com facilidade proceder ao carregamento das viaturas, vamos ter muita dificuldade em fazer aumentar a venda de viaturas elétricas”, conclui.
