Autor: Lusa/AO online
“É uma família com três crianças, uma delas com autismo mais profundo, as outras possivelmente com Asperger. Obviamente que um cão de assistência fará todo o sentido, porque não só ajudará a uma maior conexão familiar, porque acaba por ser sempre o elo de ligação, mas também para ajudá-lo a abrir o seu mundo”, adiantou, em declarações à Lusa, Rui Elvas, presidente da APCA.
Criada em 2014, a associação trabalha com cães nas áreas do autismo, da epilepsia, da mobilidade reduzida, da doença mental e da diabetes.
Já treinou três cães, um na Dinamarca, para uma pessoa com diabetes, e dois em Portugal, para portadores de autismo, estando atualmente a treinar 12 cães para diferentes patologias.
Esta é a primeira vez que a associação treina cães para os Açores e o pedido chegou, quase em simultâneo, por parte da mãe das três crianças com autismo e por parte de pessoas interessadas em estender a associação à ilha Terceira.
“Trabalhamos pela Europa toda. Trabalhamos em Portugal e estamos a treinar cães já na Dinamarca, na Alemanha e no Luxemburgo. Nos Açores nunca tínhamos treinado e nunca nos tinha sequer sido solicitado apoio nesse sentido, apesar de agora virmos a descobrir que realmente existem muitas crianças com perturbação do espetro de autismo nos Açores”, salientou Rui Elvas.
O objetivo é criar uma delegação da APCA nos Açores e formar treinadores na ilha Terceira para dar resposta aos pedidos que surjam no futuro no arquipélago, “sem que haja tanta necessidade de deslocação de um treinador do continente”.
Esta será também a primeira vez que a associação, que tem treinado labradores e cães de água, trabalhará com a raça barbado, da ilha Terceira.
“O barbado da Terceira é um cão muito parecido em termos de comportamento e de caráter com o cão de água, portanto para nós é um excelente exemplo de podermos trabalhar com um cão da terra”, adiantou o presidente da associação, que treina cães desde 2010.
A APCA já tem um cão barbado da Terceira, mas a formação e certificação ronda os 4.000 euros, por isso, este sábado, organiza em conjunto com a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e outras entidades uma angariação de fundos, num evento com comida e animação musical, que decorre no Centro Cultural de São Bento, a partir das 19:00 (hora local, mais uma em Lisboa).
A iniciativa vai contar também com a presença do primeiro cão treinado em Portugal para dar apoio a portadores de autismo, o Sinatra, que é acompanhado pelo seu dono, Miguel.
Segundo Rui Elvas, é um exemplo de como um animal treinado pode fazer uma “grande diferença na vida de uma criança autista, não só porque quebra as barreiras que a criança cria à sua volta, como também lhe dá a segurança para aceder a espaços e a áreas onde eventualmente sente algum desconforto”.
“O Miguel era uma criança com um autismo de moderado a severo. Não comunicava, não interagia, não fazia contacto visual, não deixava ser tocado, não entrava em espaços públicos (...). Tinha uma série de limitações. À medida que o cão foi inserido na vida do Miguel todas essas situações começaram a ser reduzidas em grande parte”, salientou.