Açoriano Oriental
Sonho de representar levou açoriana até Hollywood
Ana Lopes já acumulou, aos 26 anos, um curso de Direito e a preparação de base para concretizar o seu sonho: ser actriz. Ana é uma micaelense que o destino quis que nascesse e passasse o primeiro ano de vida em Coimbra, terra da sua mãe. Em Los Angeles, tenta agora a oportunidade de fazer uma carreira internacional, para já, sempre com um pé em Portugal. Ana é uma açoriana em Hollywood.
Sonho de representar levou açoriana até Hollywood

Autor: Rui Jorge Cabral

Tudo começou ainda no ensino secundário, que terminou certa de que queria ser actriz. Uma opção arriscada que não era bem vista pela família. A média de 18 valores fez também com que Ana pensasse duas vezes: "só tinha uma saída lógica que era ir tirar um curso superior", afirma. Escolheu Direito em Lisboa e na primeira semana de aulas inscreveu-se no grupo de teatro da faculdade. A estreia nos palcos deu-se no início do segundo ano do curso e, paralelamente ao grupo da faculdade, Ana foi fazendo formações em representação.

Com o clássico de Samuel Beckett, "À Espera de Godot", apresentou-se pela primeira vez em São Miguel. Apesar da aposta cada vez mais forte na representação, conseguiu acabar o curso em cinco anos. Ana revela então um episódio que marcou a sua vida até agora: "a minha mãe prometeu-me que se conseguisse acabar o curso no mínimo de tempo possível, deixava-me ir estudar cinema. Sabendo que ia ter uma oportunidade única, não olhei a meios termos e escolhi ir para Hollywood", revela.

Na capital do cinema, estudou durante um ano na New York Film Academy. Um grande passo para Ana Lopes, mas ainda longe do passeio da fama, conforme admite: "dediquei-me de tal forma que consegui sobressair no meio de tantos outros estudantes de representação. Mal acabei, foi-me atribuído um visto de trabalho de um ano. Fiquei por lá e dei o meu melhor para construir um bom currículo e conhecer gente que me pudesse ajudar a eventualmente conseguir um visto que durasse mais tempo, mas rapidamente me apercebi que a história da miúda que é descoberta na rua por um agente que a torna famosa não passa muitas vezes de uma ilusão que move milhões e é tema de conversa sem conhecimento de causa de outros tantos".

O dia-a-dia de Ana também ainda está longe do que se idealiza ser o de um estrela de cinema ou televisão: aulas, ensaios, aperfeiçoamento do inglês, castings e reuniões durante a semana, que junta à participação em projectos durante os fins-de-semana, praticamente não deixam tempo livre a Ana. Isto além do chamado "business of acting": promover-se, procurar um agente, actualizar fotografias, montar vídeos, escrever cartas... "Fui para ali para representar e era tudo o que me apetecia fazer, mas quando o curso acabou, foi chocante lidar pela primeira vez na minha vida com a falta de rotina e a incerteza do amanhã", admite. Uma realidade em que Ana faz de si própria no documentário "On The Verge", que deverá estrear no próximo ano.

Acabado o visto de um ano, Ana regressou a Portugal, onde participou na telenovela da SIC "Podia Acabar o Mundo" e em duas peças de teatro. Um regressou que não deixou de ser um choque pelo pouco trabalho que conseguiu por comparação com o que tinha em Hollywood, onde está novamente, ainda que sem visto de trabalho, o que a impede de ser paga pelo que faz. A poupança que fez só durou um mês e meio. "Fiquei sem dinheiro, mas senti-me mais realizada do que em oito meses em Portugal", revela.

Contudo, com o objectivo de juntar documentação para um visto de artista e poupar dinheiro, Ana vai regressar proximamente a Portugal, à espreita de oportunidades de trabalho, embora diga que não vai "ficar à espera que decidam que tenho o perfil que eles definem para as novelas portuguesas", apesar de depositar esperanças na agente que tem actualmente em Portugal.

Ana entra agora numa fase decisiva da sua carreira como actriz. Tanto pode estar a um passo do sucesso, como do fracasso. Mas só tem um objectivo: "não me importa se estou em Hollywood, em Portugal ou na China, desde que esteja a fazer o que amo, que é representar", garante. De preferência no cinema, que considera "a forma de expressão artística mais completa". Ana diz apreciar o registo histórico e biográfico e não esconde a "curiosidade" de vir um dia a fazer um papel de advogada, porque "já passei cinco anos da minha vida a preparar-me para ele", conclui.

 

Capital do cinema: "Los Angeles é um paraíso profissional"

Para Ana Lopes, Los Angeles, onde se inclui Hollywood, é uma cidade que "respira cinema e onde todos estão envolvidos na indústria de um modo ou de outro". Contrariamente ao que se possa pensar, Ana diz ter encontrado "pessoas simpáticas que me percebem e me incentivam", num lugar onde "tudo parece possível". Como actriz, sabe que o brilho de Hollywood tem também um lado escuro, "que para evitar basta ter os pés bem assentes na terra e, mais importante, um plano para seguir à risca", garante. Ana diz, no entanto, não sentir ainda uma ligação muito forte a Los Angeles. "É como se eu estivesse dividida entre Portugal e os Estados Unidos: num lado sinto-me preenchida a nível pessoal e, no outro, realizada em termos profissionais", afirma Ana Lopes.

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