Autor: Lusa/AO On line
“Há que entender que este é um momento delicado, de fragilidade da confiança, e há que fazer tudo o necessário para consolidar e fortalecer a confiança” em Portugal, afirmou José Ángel Gurría, entrevistado pela Lusa poucos dias após ser reeleito para um segundo mandato à frente da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económicos.
José Ángel Gurría recordou que foi ministro das Finanças do México (1999-2000) e que conhece “muito bem” a importância da discussão em torno do orçamento, que compreende ser o ponto alto do jogo partidário.
“Não há crise política em Portugal. O que há é um ambiente pré-orçamento que é muito normal em todos os países. Conheço bem e posso identificar claramente as características deste período”, frisou o secretário-geral da OCDE.
Feita essa ressalva, porém, José Ángel Gurría alerta que “jogar à política como ‘business as usual’, como se (Portugal) estivesse num tempo normal, é brincar com o fogo. É expor o país, a sua economia e os portugueses a um perigo, a uma vulnerabilidade”.
Essa vulnerabilidade, acrescenta Gurría, “evita-se, ou que pelo menos reduz-se, na medida em que Portugal dê uma mostra de unidade de propósito, ainda que dentro da diversidade política mas com uma convergência última na intenção de consolidar o crescimento, a criação de empregos e o nível de bem estar”.
O secretário-geral da OCDE apresentou em Lisboa, a 27 de setembro, na presença do primeiro ministro José Sócrates, o último estudo económico da organização sobre Portugal, documento que por diversas vezes salientou a necessidade de “consenso”.
José Ángel Gurría explicou à Lusa que “o consenso vai mais além do que o orçamento do próximo ano. Mas começa também no próximo ano. Começa hoje”, enfatizou Ángel Gurría.
“Uma das coisa que se vê, para o mercado, para os agentes económicas, os investidores, para os bancos, para os próprios portugueses, é qual é a capacidade de Portugal de consensualizar medidas e fazer que elas sejam aprovadas e cumpridas”, explicou.
Por outro lado, interessa avaliar “também qual é o custo em termos de tensão superficial que gera a adoção destas medidas (de austeridade). Claramente, se houver mais consenso, ou pelo menos uma convicção inteligente, pois pode não haver entusiasmo, mas se os agentes económicos, o setor privado, os bancos, os sindicatos, atuarem em consequência, o custo das medidas é mais baixo”.
Ángel Gurría refere-se “ao custo político e económico” e referiu que quando há consenso “a eficiência que se consegue com as medidas é, no todo, melhor porque não há resistência de certos grupos que o que fazem é demorar o efeito ou o benefício dessas medidas”.