Autor: Lusa /AO Online
Não será por acaso que o lema do Congresso, no fim da noite de sábado, mudou de “Portugal ao centro” – a divisa do líder desde sempre – para “Novos Horizontes para Portugal”: um partido a falar para o país.
Foi isso que fez Rui Rio, no seu discurso final, onde depois de evocar a realização das eleições “por força do esgotamento de uma solução política de má memória”, foi enumerando, ponto por ponto, a necessidade de novas políticas na educação, saúde ou ambiente, criticando, de permeio, a “desastrosa” gestão do Novo Banco ou da TAP sem, todavia, apontar uma solução para esta.
“Em síntese, precisamos de um novo Governo com coragem para levar as reformas nos diversos setores da nossa vida coletiva”, disse, garantindo: “estamos prontos para assegurar a diferença”.
Mas destacou: “não vamos fazer nenhuma revolução, nem vamos destruir tudo o que os outros fizeram. Queremos apenas, de forma sensata, mas corajosa e realista, desenvolver o nosso país e voltar a trazer a esperança aos portugueses”.
A maneira como o obterá, afirmou-o logo no princípio do seu discurso, ao sublinhar que encara “como muito relevante, senão mesmo como decisivo para o futuro de Portugal, o diálogo entre partidos políticos”.
Todavia – salientou – “a democracia não pode ser símbolo de facilitismo”. “Sem rigor, sem respeito pela lei e sem disciplina não há democracia; há, sim, uma via para a anarquia”.
Confortado com o reforço da votação na Comissão Política Nacional e com a vitória das suas listas para o Conselho Nacional (11 listas, eleitas por método de Hondt) e para a Mesa do Congresso, Rui Rio está, porém, ciente de que o ambiente nesta reunião magna foi também o da unidade conformada.
Já no Conselho de Jurisdição, a lista do atual presidente e adversário interno, Paulo Colaço, repetiu a vitória, derrotando a de Nuno Morais Sarmento, proposta por Rui Rio. No decorrer do seu mandato, Colaço tentou sancionar o próprio líder e o presidente do grupo parlamentar, Adão Silva, a propósito da lei da eutanásia.
Se os seus rivais dentro do partido se calaram por agora – com exceção de Miguel Pinto Luz, a única voz que afirmou claramente no palco do Europarque a sua divergência – não deixaram de lhe impor o rumo de alcançar a vitória.
Paulo Rangel marcou o tom, mal chegou a Santa Maria da Feira, ao princípio da tarde de sábado. A vitória “está perfeitamente ao alcance” do partido e tem “todas as condições para ganhar as eleições de 30 de janeiro”, disse, mostrando “imensa confiança” nesse objetivo.
E repetiu, no domingo: “o partido está totalmente mobilizado, unido, e totalmente focado nas eleições legislativas”.
No sábado, Carlos Moedas, o presidente da Câmara de Lisboa e primeiro orador a fazer levantar o congresso em ovação, havia apelado a que o partido fosse “unido” para as legislativas, “sem extremismos”, vincando a Rui Rio que “não está sozinho”.
“Rui Rio, quero aqui dizer-lhe, alto e bom som, que não está sozinho. Tem um partido inteiro atrás de si. Tem um país ávido de mudança consigo”, afirmou.
O próprio Luís Montenegro, adversário de Rio nas diretas de há dois anos, apelou diretamente ao líder para fazer “o mesmo ao Dr. António Costa e ao PS” que lhe fez a ele e a Rangel, ambos derrotados internamente.
“Eu queria dizer-lhe, dr. Rui Rio, você já demonstrou cá dentro que consegue ser eficaz e aproveitar as oportunidades para ganhar eleições diretas. E eu que o diga e que o diga também o Paulo Rangel” afirmou.
Presidente do PSD há praticamente quatro anos, Rui Rio ficou com o caminho livre para disputar as legislativas, mas obrigado a ganhar, sob pena de voltar a estar na mira da oposição interna.
A prová-lo ficou o eco das palavras de Luís Montenegro, ao anunciar o fim do seu "período de recato", mas também de Pinto de Luz, ao reiterar as divergências e avisar que o partido corre o risco de ficar "assustadoramente mais pequeno".