Açoriano Oriental
Repressão faz 9 mortos e 11 feridos em Rangum
Pelo menos nove pessoas, incluindo um jornalista japonês, foram mortas e onze ficaram feridas na repressão armada das manifestações de hoje na capital da Birmânia, anunciou o governo.
Repressão faz 9 mortos e 11 feridos em Rangum

Autor: Lusa / AO online
Ye Htut, um porta-voz da Junta Militar, referiu a ocorrência de confrontos entre a polícia anti-motim e os manifestantes em Rangum matando nove pessoas e ferindo outras onze, incluindo uma mulher.

Trinta e um militares ficaram feridos, segundo a mesma fonte.

A Embaixada do Japão na capital birmanesa confirmou entretanto que o operador de imagem japonês Kenji Nagai, 50 anos, foi morto a tiro quando cobria a carga policial sobre os manifestantes para a agência de fotografia e vídeo japonesa APF News.

Kenji Nagai, cuja morte foi testemunhada por outros jornalistas e fotografada por um repórter da Reuters, foi identificado pelo pai e por um responsável da agência para a qual trabalhava através de uma fotografia do seu cadáver tirada por responsáveis da embaixada japonesa em Rangum.

O Japão já fez saber que vai apresentar um protesto formal à Junta Militar birmanesa e exigir uma investigação aprofundada às condições que rodearam a morte do jornalista.

Segundo a televisão oficial, "os manifestantes atiraram tijolos, paus e facas na direcção dos militares, que se viram obrigadas a disparar tiros de aviso".

As autoridades birmanesas reprimiram hoje, pelo segundo dia e com maior violência, os protestos de dezenas de milhares de pessoas na capital e noutras grandes cidades do país.

Ante a repetição dos protestos, as autoridades avisaram os manifestantes de que tinham 10 minutos para dispersar sob pena de "medidas extremas".

Pouco depois, cerca de 200 militares das forças anti-motim avançaram pelas ruas, nas proximidades do pagode de Sulem, e segundo diferentes testemunhas, incluindo jornalistas, dispararam indiscriminadamente em todas as direcções.

Os confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes seguem-se a uma madrugada de violência, durante a qual polícia e militares entraram pela força em diversos mosteiros, segundo fontes da dissidência birmanesa no exílio.

Segundo essas fontes, os militares deitaram abaixo as portas de seis mosteiros da região de Rangum e detiveram um total de cerca de 800 monges.

Um monge foi morto a tiro, ainda segundo a dissidência.

A ofensiva nocturna também foi dirigida contra os membros da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido da Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, cujo porta-voz Myint Theint foi detido.

Outro dos alvos da Junta Militar foram os jornalistas estrangeiros, acusados de "distorcer os acontecimentos" num editorial de hoje do diário estatal "A nova luz de Myanmar" (designação oficial do país por determinação da Junta Militar em 1989).

Ao fim da manhã, segundo as agências noticiosas estrangeiras, um destacamento de soldados entrou no Hotel Trader e fez buscas quarto a quarto, à procura de jornalistas que tenham entrado no país com vistos de turistas, na impossibilidade de obter vistos de jornalistas.

O Hotel Trader, com 22 países e 407 quartos, é o mais escolhido pelos jornalistas estrangeiros por se situar no centro de Rangum, perto da zona onde os manifestantes se concentram habitualmente, e dispor de ligações telefónicas e de Internet.

As manifestações que se sucedem há mais de oito dias na Birmânia são as maiores desde que, em 1988, a Junta Militar reprimiu, a tiro, a vaga de protestos pela democracia e contra a ditadura militar.

Fontes ligadas à oposição avançam com um balanço de 15 mortos, 200 feridos e mais de mil detidos desde o início das manifestações.

Depois dos sucessivos apelos à contenção das forças de segurança e ao respeito pelos direitos humanos lançados pela comunidade internacional nos últimos dias, os Estados Unidos voltaram hoje a exigir o fim imediato da violência.

"O governo birmanês não deve colocar obstáculos ao desejo de liberdade do seu povo. Deve pôr imediatamente fim à violência contra manifestantes pacíficos", declarou um porta-voz da Casa Branca, Gordon Johndroe.
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