Açoriano Oriental
Refugiados sírios na Turquia elegem os primeiros representantes comunitários
Um campo de refugiados sírios na Turquia reproduz a primeira experiência de uma eleição livre e democrática para eleger os seus representantes comunitários, uma iniciativa que vai no segundo ano consecutivo.

Autor: Lusa/AO online

 

Esta experiência pioneira está a realizar-se pelo segundo ano consecutivo no campo que recebe o nome de Nizip, a cidade mais próxima localizada a 40 quilómetros de Gaziantep. O campo situa-se na via rápida que liga Sanliurfa a Gaziantep, um importante centro industrial do leste da Turquia banhado pelo rio Eufrates, que atravessa a Síria.

Este é um dos primeiros campos instalados pelo governo turco para receber sírios que fogem da guerra iniciada em março de 2011, opondo rebeldes ao regime do Presidente Bashir al-Assad.

O campo de Nizip acolhe 10.700 sírios de língua árabe, a maioria proveniente de Aleppo, no noroeste, cidade que tem sido alvo de recentes ataques da Frente al-Nusra, braço da Al-Qaida na Síria e que luta ao lado do regime de Bashar al-Assad.

"Esta foi a primeira vez que votei na minha vida inteira. Não sei bem como funciona, na Síria nunca tinha votado. Lá era só um candidato. Tanto fazia votar ou não, pois o resultado já estava feito", disse à agência Lusa Mustafa Kerkuz, 57, anos.

Tímido e sem conhecimento sobre o processo democrático de eleição direta, admitiu ter ficado curioso para eleger o seu representante comunitário no campo de Nizip.

"Se na Síria houvesse condição de escolher, a gente iria exercer a democracia. Como não existe oposição, a população é obrigada a escolher uma única pessoa", acrescentou.

Dentro do campo de refugiados, Kerkuz vive no bairro de letra K na tenda 57. Nizip tem 1.800 tendas, muitas são de 4 metros por 4 metros para acolher cinco pessoas. Já para famílias acima de oito pessoas, as tendas têm tamanhos de 6 metros por 6 metros.

"Votei no meu vizinho, tenho confiança nele. Eram quatro candidatos para representar a nossa comunidade, espero que ele represente a nossa vila. O candidato fez promessas e se não cumprir, no ano que vem vou votar noutra pessoa", disse Kerkuz.

Demir Celal, assistente da direção do campo de refugiados, explicou à Lusa que esta é a primeira vez que os refugiados votam livremente na vida. "A nossa ideia é ensiná-los a ter uma eleição livre. Os sírios só tiveram a opção de votar num único partido", comentou.

A jovem turca de 25 anos, Ebru Kon, que integra a comissão eleitoral explicou que na primeira edição em 2013, a participação foi muito baixa e mulheres não compareceram à assembleia de voto.

"Quando colocamos pela primeira vez a urna para a escolha dos representantes, eles não entenderam muito bem o que nós queriamos fazer", conta Kon ao explicar que os candidatos podem fazer a sua própria campanha e a pessoa pode votar apenas pelo seu nome e não no lugar de outro residente do campo.

O calendário de eleição de cada um dos 11 bairros de Nizip ocorre em um mês diferente do ano, assim todos os meses se realizam eleições no campo de refugiados.

Em geral, para cada 500 pessoas aptas a votar em cada bairro, cerca de 200 exercem o direito de voto.

"Esperamos que nas próximas ocasiões eles adotem essa ideia de democracia, aos poucos eles vão aprendendo e acostumando-se", concluiu Kon.

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