Açoriano Oriental
Perfil dos criminosos distingue-se pela escolha do local do crime
A melhor arma para lidar com um criminoso é conhecer o seu perfil. A distinção dos assaltantes faz-se pela selecção do local do crime: há os "obsessivos" que preferem bancos, os "impulsivos" que escolhem gasolineiras e os "confiantes" que entram na casa das pessoas.

Autor: Sílvia Maia, Lusa/AO online
    O perfil destes criminosos é traçado pela psicóloga criminal Ana Rodrigues, que aponta como mais perigosos para a população os que escolhem as casas particulares para cometer o crime.

    A opção por um local completamente desconhecido indica que estes assaltantes, em relação aos outros, são "confiantes" e se sentem mais "seguros consigo próprios", explicou à Lusa a psicóloga criminal.

    "Todos os criminosos são perigosos, porque nunca sabemos como vão reagir. A situação de mais tensão é aquela em que eles entram na casa das pessoas, porque estão a entrar num território que não conhecem, estão dentro de quatro paredes e por isso é mais perigoso. Nestas situações é a dinâmica entre a personalidade do indivíduo que está a assaltar e o assaltado que vai determinar o desfecho do acontecimento", explicou Ana Rodrigues.

    Apesar do perigo, um assalto bem sucedido é sempre aquele em que se consegue o dinheiro sem provocar quaisquer danos. No entanto, um indivíduo com uma personalidade "impulsiva" é sempre mais perigoso.

    "É preciso ter mais cuidado, porque é alguém que pode reagir de forma brusca e violenta", explicou a investigadora, lembrando que neste grupo se encontram também os assaltantes de gasolineiras e os jovens adultos do 'carjacking' (roubo de viaturas com violência na presença do condutor). Nesta "tabela", os menos perigosos são os assaltantes de bancos.

    A imagem de espaços altamente vigiados e invioláveis faz com que só os mais "estudiosos" arrisquem a sua sorte numa dependência bancária.

    "Dos assaltantes, os que escolhem bancos são os que têm mais conhecimentos. Podem não ter grandes habilitações literárias, mas interessam-se e estudam. Claro que normalmente são conhecimentos na área do crime. São por isso mais ponderados", explicou.

    Os assaltantes de bancos "têm personalidades bastante vincadas. Acham-se mais inteligentes, espertos e são mais audaciosos, narcísicos e ambiciosos. São detalhistas, dão muito valor ao pormenor para planear o crime para que corra bem e seja proveitoso", explicou.

    Planear um assalto a um banco obriga a estudar a rotina da agência bancária, conhecer quem lá trabalha, quais as medidas de segurança existentes, se há agentes destacados, onde estão as câmaras de vídeo-vigilância. E, no final, "é preciso elaborar um plano de fuga", lembrou Ana Rodrigues.

    Roubar estes espaços acaba por ser uma tarefa reservada a alguém "mais obsessivo, que dê muito valor ao detalhe". Para definir o plano e garantir que a operação será bem sucedida, existe um elemento no grupo, o líder, que "planeia tudo com mais pormenor, que distribui as tarefas e que acaba por dar coesão ao grupo", explicou.

    Já os assaltantes de bombas de gasolina e estações de correios são mais "impulsivos", desejam ter resultados mais rápidos e correr menos riscos. Têm uma vida de antecendentes criminais bastante vasta e vivem uma cultura de violência urbana. No entanto, estas são características que atravessam toda a "classe" de assaltantes.

    Segundo Ana Rodrigues, todos eles gostam da adrenalina do risco, não apreciam a ideia de ter uma profissão normal, apesar de estarem na faixa etária produtiva, e por isso dedicam-se exclusivamente a actos criminosos.

    Oriundos de meios sócio-económicos baixos, vivem em bairros sociais e têm um acesso fácil a armas que adquirem nos contactos que têm através do submundo do crime.

    Os mais novos são apontados como os principais autores de 'carjacking'. Na sua maioria entre os 17 e os 26 anos, são imigrantes de segunda geração influenciados por uma cultura norte-americana em que "tudo pode estar ao nosso alcance e por isso acabam por escolher o caminho mais fácil".

    Quando roubam um carro, o objectivo não é magoar ninguém mas sim conseguir um meio de mobilidade para conseguir fazer alguns assaltos.

    "Com um carro roubado conseguem fazer quatro assaltos numa manhã. E enquanto a Polícia está no primeiro assalto eles já estão no quarto", explicou Ana Rodrigues.

    Independentemente da idade, todos eles têm um sentimento de impunidade: "Os criminosos têm a ideia de que ou não são apanhados ou então são mandados para casa com penas suspensas ou com uma pulseira electrónica".
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