Açoriano Oriental
Paixão por bichos leva estrangeiras a criar o Santuário Animal do Pico

Annia, Jess e Elke possibilitaram a esterilização, em 2021 e 2022, de um total de 400 gatos selvagens, assim como a adoção de algumas dezenas e assistência médica a muitos felinos


Autor: Célia Machado

Há mais de dois anos que Annia Hidalgo (Venezuela), Jess Foral (Reino Unido) e Elke Brockmann (Alemanha), que residem no Pico em localidades distintas, recolhem gatos selvagens, possibilitam a sua esterilização e devolvem-nos ao local onde foram encontrados. As três criaram, em outubro de 2020, o Santuário Animal do Pico.

Em 2021 conseguiram a esterilização de 180 gatos e em 2022 o número chegou aos 220. Quando encontram algum felino ferido, asseguram o seu devido tratamento e para crias é tentada a adoção responsável. Fazem todo este trabalho voluntariamente com o único desiderato de proporcionar o bem-estar animal. Nestes primeiros anos, a principal preocupação tem sido ajudar a controlar a população de gatos na ilha, visto que os municípios têm apenas condições para albergar canídeos (e, mesmo assim, os canis andam lotados).

As três entram em 2023 com a alegria de terem conseguido esterilizar, no velhinho 2022, ainda mais gatos do que no ano anterior, proporcionado a adoção de 40 bichanos e aumentado o grupo de voluntários que apoia a associação. “Às vezes, os gatos são adotados por famílias que têm crianças ou porque vão para as suas casas novas e querem um gato por perto, até para afastar roedores”, diz-nos Elke, que, por estes dias, tem dois gatos em casa a aguardar por quem queira dar-lhes amor e um lar.

Cerca de metade dos custos com as esterilizações é suportada pelo Governo Regional - o que envolve a colocação de um “microchip” e a realização de um pequeno corte numa das orelhas do animal, para ser possível identificar facilmente se já foi esterilizado. Ainda assim, o Santuário tem de suportar os restantes 50%, ao que acresce o pagamento, na totalidade, dos casos que precisam de tratamento.

Na época de Natal e final do ano, por exemplo, confrontaram-se com vários animais atropelados nas estradas picoenses: alguns já não é possível salvar, mas outros necessitam de assistência veterinária, como amputação de algum membro.

Apoio da comunidade

O dinheiro chega de doações, em parte conseguidas pela iniciativa das três amigas. O Mercadinho do Cruzeiro, que, semanalmente, acontece na Vila das Lajes, conta quase sempre com uma área dedicada ao Santuário Animal do Pico. É lá que roupas, bijuteria e objetos decorativos, entre outros, ofertados por pessoas amigas, aguardam por possíveis interessados. O pagamento? Cada um deixa a quantia que entende e leva o que pretende.

Contudo, o sonho maior deste trio de lutadoras é a criação de um verdadeiro santuário animal no Pico, um terreno aberto para que “os animais negligenciados, maltratados ou abandonados possam viver”. “Um espaço no qual a comunidade também se sinta envolvida”, frisa uma das responsáveis.

É sobretudo com o recurso a armadilhas que conseguem capturar os gatos. “Cada vez mais as pessoas estão atentas ao nosso trabalho e contactam-nos para nos informarem do local onde há uma colónia de gatos”, explica-nos Elke. É essa sensibilização que também continua a ser efetuada, quer junto da população como de entidades diversas. Em 2022, por exemplo, conseguiram o apoio da Câmara Municipal das Lajes, da Junta de Freguesia de São Caetano e de uma associação alemã, o que muito agradecem.

De 2022 para este ano novo transitam algumas histórias especiais. Um casal de turistas que, em visita ao Pico, durante a lua de mel, encontrou, na véspera da partida, uma gatinha selvagem que quis adotar. Na impossibilidade de tratar de tudo o que era necessário antes de regressar a casa, pediu ajuda ao Santuário Animal. Os turistas voltaram ao Reino Unido e, algum tempo depois, seguiu viagem o gato para se juntar a eles. Também para o Reino Unido foi um segundo felino, depois de uma foto do animal, publicada no Instagram do Santuário Animal do Pico, ter tocado o coração de uma inglesa. “É incrível o que as pessoas fazem por gostarem dos animais”, conclui Elke, transbordando de felicidade.

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