Açoriano Oriental
Outono atrai depressões
Os dias mais curtos e menos luminosos do Outono, que começa este domingo, potenciam o aumento de depressões e favorecem o agravamento de doenças mentais, chegando a provocar um acréscimo de pacientes nas consultas de psiquiatria.

Autor: Lusa/AOonline
De acordo com alguns responsáveis dos serviços de psiquiatria de hospitais portugueses contactados pela agência Lusa, a chegada do Outono pode ser sinónimo de mais trabalho.

"Nos consultórios, verifica-se um aumento do afluxo de pessoas nas consultas. Há casos novos, mas muitos já estavam a ser acompanhados e nestas alturas pioram", disse à agência Lusa Luísa Figueira, directora clínica do Serviço de Psiquiatria do Hospital Santa Maria, em Lisboa.

Os doentes bipolares e os pacientes com um historial clínico de depressão podem ter tendência para descompensar, já que a mudança na duração dos dias e a redução da luz solar interfere com o seu relógio biológico.

Durante o Verão, o corpo humano cria defesas contra o calor para se adaptar às condições climatéricas, verificando-se uma quebra quando começa o Outono, através da variação de humor.

Fadiga, irritabilidade, tendência para dormir mais e ingerir alimentos em excesso são alguns dos sintomas da depressão sazonal.

"Existem ainda algumas manifestações deste tipo de doenças que se traduzem em doenças físicas, como alergias ou doenças dermatológicas, gastrointestinais ou do foro cardiovascular", lembrou por seu turno a directora clínica do Hospital Psiquiátrico Júlio de Matos, em Lisboa, Maria Antónia Frasquilho.

 Luísa Figueira defende, contudo, que as alterações de humor provocadas por mudanças sazonais podem não significar que as pessoas sofram de uma "desordem afectiva sazonal", tratando-se apenas de adaptação ao novo clima.

Já a directora clínica do Hospital Júlio de Matos considera que estes casos não são catalogados como "doença" apenas porque os sintomas não têm uma duração tão prolongada nem um efeito tão nefasto no dia-a-dia das pessoas.

Apesar disso, esta especialista afirma que no Outono "pode haver um aumento de casos e intensificação da gravidade dos problemas, que acabam por se traduzir em mais internamentos".

As responsáveis hospitalares lembram, contudo, que as depressões sazonais são um subtipo de depressões que surgem, não só no Outono, mas também na Primavera.

O aumento de casos de suicídio é outra das consequências da chegada destas duas estações intermédias, mas as alterações climatéricas podem provocar diferentes reacções nas pessoas, consoante se trate da Primavera ou do Outono.

O caso mais sintomático das diferentes consequências associadas às duas estações são os doentes bipolares: "Têm crises depressivas no Outono e de euforia na Primavera. Nessa altura, os pacientes voltam a aparecer em força em todos os hospitais", afirmou Luísa Figueira.

Já Joaquim Ramos, director clínico do Hospital Magalhães de Lemos, no Porto, sublinhou que, apesar da existência de artigos medico-cientificos que referem este fenómeno, não existem estudos portugueses sobre a influência do tempo no agravamento de determinadas patologias, nem números nacionais na área da psiquiatria que possam confirmar esta realidade.

"Ao longo do ano há determinados períodos em que se verifica um aumento da procura dos nossos serviços ao nível da urgência e das consultas. Antes, esse aumento correspondia ao início das estações do ano, mas hoje já não é tão certo", afirmou.

"Antes conseguíamos ter uma definição clara das diferentes estações do ano, mas hoje isso já não acontece. Além disso, antigamente achava-se que só a influência do meio exercia efeito sobre nós. Hoje já se fala em código genético, condições sócio-económicas e até zona do país em que se vive", acrescentou.

Além dos medicamentos, começam a surgir em Portugal novas terapias, usadas há muito nos países nórdicos, onde a redução da luz solar é mais acentuada.

Entre os tratamentos possíveis para estas depressões sazonais, a médica Elsa Lara, do Hospital Cuf Infante Santo, em Lisboa, destaca-se por oferecer aos seus pacientes aparelhos de Terapia pela Luz.

Com cerca de duas dezenas de equipamentos, a especialista diz que a maioria dos seus clientes são estrangeiros ou pessoas que descobriram na Internet esta forma de tratamento, que exige a disponibilidade do paciente para estar exposto à luz durante cerca de meia hora, duas vezes por dia.
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