Açoriano Oriental
"Ópera é um espectáculo muito completo"
Cesário Costa, director musical da ópera "L’ elisir d’amore", em cena hoje e amanhã no Teatro Micaelense, revela como é complexa a preparação de uma ópera e fala do trabalho de bastidores
 

Autor: Paula Gouveia
L’elisir d’amore, de Gaetano Donizetti, é uma das óperas mais apresentadas a nível mundial. Integrada na Temporada do Teatro Nacional de São Carlos de 2007/2008, vai poder ser vista hoje e amanhã no Teatro Micaelense. Em entrevista, o maestro Cesário Costa, director musical da ópera, explica as razões do sucesso da obra composta por Donizetti. E revela ainda o exigente trabalho de bastidores de um espectáculo complexo, como a ópera.

O que tem a ópera “L’ elisir d’amore” de especial para se manter durante mais de um século e meio no repertório dos teatros de ópera?

Em primeiro lugar é a qualidade da música. Donizetti é um compositor de grande qualidade e consegue contar, através da música, uma história simples: um rapaz que está apaixonado tenta por todas as formas conquistar Adina e, pensando na história de Tristão e Isolda, acha que é através de um elixir mágico que pode conquistar a pessoa de quem gosta. Mas, ao longo da história, vamos ver que não foi isso que levou a que conseguisse conquistar quem pretendia.

Além da história, a música também contribui para o sucesso desta ópera?

É uma música belíssima e tem uma ária que toda a gente conhece – “Una furtiva lagrima” – que é ouvida muitas e muitas vezes.
Nesta produção, o grupo de cantores que fazem parte do elenco, o coro, a orquestra, a encenação, todos contribuem para que as pessoas possam desfrutar de uma grande noite de ópera no Teatro Micaelense.

A interpretação de uma ópera exige algum trabalho teatral. Como se consegue conjugar canto, orquestra e teatro?

A ópera é um dos espectáculos mais elaborados. É necessário realizar um tipo de trabalho muito específico em cada uma das árias. Há um trabalho musical que é desenvolvido pelo maestro com os cantores e, paralelamente, há um trabalho cénico desenvolvido, neste caso pelo Francesco Esposito, com os cantores, os elementos do coro e os figurantes. E podemos falar do cenário, do desenho de luzes, dos figurinos – a conjugação de todos estas vertentes é que fazem da ópera um espectáculo muito completo e complexo. Para mim, como maestro, é um dos espectáculos que me dá mais gozo dirigir!

E do ponto de vista da direcção musical, deve ser difícil acompanhar a movimentação em palco, uma vez que o espectáculo nunca é igual...

Sim, mas o facto de nunca ser igual é uma grande vantagem, pois permite que a profissão de maestro seja mais aliciante.

Naturalmente, quando contamos uma história, se calhar há um dia em que o fazemos de uma forma mais entusiástica, mas aquilo que um maestro tem de fazer é garantir a ligação entre o que os cantores fazem e o que a orquestra tem de fazer e conseguir que haja uma relação muito próxima, que haja uma empatia com todos os artistas que estão a participar no espectáculo de ópera, de modo a que a interpretação seja única e vá ao encontro do que o compositor escreveu.

Que trabalho de bastidores exige a preparação de uma ópera?

Do ponto de vista musical, há uma preparação individual da parte do maestro, da parte dos músicos da orquestra, dos cantores e dos elementos do coro. Para depois, quando chegarem ao período dos ensaios, estarem prontos para, em conjunto, começar a ser definida uma interpretação e um desenho do que será apresentado. Paralelamente, há um trabalho teatral realizado pelo encenador com os cantores, o coro e os figurantes. Em simultâneo há a concepção do espaço cénico – definem-se os cenários, a iluminação das cenas, o vestuário dos cantores. E todos estes elementos contribuem para que a ópera seja um tipo de espectáculo extremamente complexo.

E deslocar uma ópera para uma outra sala de espectáculos é difícil?

É complexo! O Teatro Micaelense e o São Carlos apostaram em trazer uma produção como o “L’elisir d’amore” - exactamente como foi apresentada em Lisboa. Isso implicou a vinda de dois ou três contentores de material, mais instrumentos que vieram de avião, mais uma equipa enormíssima de músicos de orquestra, mais o coro, mais toda a equipa técnica que teve de viajar, para permitir que a ópera funcione. E aqui julgo que foram reunidas todas as condições de produção para ser apresentado um espectáculo de grande qualidade.

E que papel terão os figurantes e músicos açorianos?

Os figurantes vão participar na história como soldados, aldeãos... Foram escolhidos pelo encenador.

E vai participar ainda a Banda Militar dos Açores. Donizetti incluiu na ópera uma banda de palco e, por altura do casamento, a banda de palco toca. Teremos em simultâneo a banda a tocar no palco e a orquestra a tocar no fosso, o que irá dar um colorido muito interessante ao ambiente festivo do casamento.

A ópera atrai ainda o público dos nossos dias?


Eu espero que sim! É a primeira vez que o Teatro Micaelense vai apresentar ópera e é um teatro que tem condições acústicas excepcionais e é um prazer dirigir neste teatro. Espero que as pessoas tenham curiosidade de ir ouvir uma história que, neste caso, é cantada e é tocada. A ópera, como espectáculo, continua a ser, em todo o mundo, para toda a gente. Ontem tivemos no ensaio geral um grande número de alunos de escolas de Ponta Delgada e a reacção foi extremamente positiva. Esperemos que nos dois dias de espectáculo esteja muita gente a assistir.
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