Açoriano Oriental
“Não temos dado atenção ao preço a pagar” pela mineração em alto mar para baterias

A bióloga marinha da National Geographic Sylvia Earle alertou para o preço a pagar pela mineração em alto mar para produzir baterias capazes de armazenar energia, tal como aconteceu com a exploração de combustíveis fósseis.


Autor: Lusa/AO online


“A mineração em alto mar tornou-se uma atividade popular, […] estão a tirar pedaços do fundo marinho para produzir baterias, para armazenar energia. […] Nós precisamos disto, mas qual é o custo? Estamos apenas a começar a compreender a magnitude do que estamos a fazer”, afirmou a oceanógrafa norte-americana, que está em Lisboa por ocasião da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que termina hoje.

Sylvia Earle participava no evento paralelo promovido pela EDP e pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD Portugal), no Convento do Beato, em Lisboa, com o objetivo de debater a abordagem do setor privado ao oceano.

“Não temos prestado atenção ao preço a pagar [pela exploração dos recursos do oceano]. Há 50 anos talvez tivéssemos a desculpa de não saber o que estava lá em baixo, mas não podemos dizer isso hoje”, sublinhou a investigadora, que foi considerada a primeira Heroína pelo planeta, em 1998, pela revista Time.

Sylvia Earle vincou que a humanidade deve estar “grata” aos combustíveis fósseis, porque permitiram o seu desenvolvimento, embora tenha falhado a “calcular os custos” da sua exploração, advertindo para que não se cometa os mesmos erros com a mineração em alto mar.

Este tipo de mineração do fundo do mar envolve a extração de minerais e depósitos encontrados em profundidades de 200 metros ou mais, utilizados na produção de baterias, entre outras aplicações.

“Trata-se dos nossos vizinhos [a vida marinha], eles têm uma história que precede a nossa existência no planeta. […] Não é difícil para os seres humanos darem um passo atrás e perceberem que não estamos sozinhos no planeta. Precisamos deles todos”, vincou a bióloga marinha.

Por seu turno, o presidente executivo da EDP, Miguel Stilwell d’Andrade, defendeu que é necessário aproveitar o potencial do oceano, para a produção de energia ‘limpa’ e acessível, mas de uma forma que seja “compatível com o ambiente”.

A EDP anunciou recentemente que vai investir cerca de 1.500 milhões de euros em energia eólica no mar (‘offshore’), através da Ocean Winds, que pode representar até 17 gigawatts (GW) de capacidade renovável no oceano.

Em declarações aos jornalistas no final do evento de hoje, Stilwell d’Andrade lembrou que se trata de um investimento até 2025 e que, em Portugal, não estão previstos investimentos em eólicas ‘offshore’, pelo que a verba se destina a projetos na Escócia, Bélgica, Estados Unidos, Coreia do Sul ou França.

Também presente na sessão esteve o secretário de Estado do Mar, José Maria Costa, que foi presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo entre 2009 e 2021, local onde a EDP está a desenvolver um projeto de energia eólica ‘offshore’ flutuante, o WindFloat Atlantic.

O governante lembrou os compromissos assumidos pelo primeiro-ministro, António Costa, no início da Conferência dos Oceanos, de proteger 30% das áreas marinhas nacionais e atingir 10 gigawatts (GW) de energia renovável oceânica, até 2030.

“A economia azul sustentável é a economia do conhecimento, é a economia da ciência. [Temos de] convocar o melhor que temos da nossa ciência para salvarmos o oceano”, afirmou o secretário de Estado.

A sessão contou ainda com a participação do presidente do BCSD Portugal, António Pires de Lima, do administrador da Ocean Winds (‘joint venture’ formada pela EDP e pela Engie) Grzegorz Gorski, do vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), Ricardo Mourinho Félix, do diretor geral do Fundo Mundial da Vida Selvagem (WWF International), Marco Lambertino, e de Raquel Gaião Silva, da Faber Ocean.


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