Açoriano Oriental
Milhares na Avenida da Liberdade pelos direitos e conquistas em perigo
Milhares desfilaram hoje pela Avenida da Liberdade celebrando os 41 anos da revolução dos cravos, invocando valores e direitos conquistados em 1974 e que muitos consideram estar agora em perigo.
Milhares na Avenida da Liberdade pelos direitos e conquistas em perigo

Autor: Lusa/AO Online

Cravos nas lapelas, erguidos bem alto nas mãos dos manifestantes, ou aos molhos nos braços das floristas que os vendiam a 50 cêntimos cada a quem integrava o desfile que esta tarde desceu a Avenida da Liberdade, foram pintando de vermelho a moldura humana que encheu a principal artéria da cidade de Lisboa para assinalar os 41 anos do 25 de Abril.

A palavras de ordem habituais como “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!” juntaram-se bandeiras de Portugal e cartazes, alertando para o perigo de se “adormecer em democracia e acordar em ditadura” ou pedindo o fim da corrupção entre a classe política.

Mas maioritariamente, as pessoas protestavam contra a política do atual Governo e a perda de direitos.

“Venho, porque me sinto revoltada com certas medidas que estão a ser tomadas. Tinha 17 anos quando foi o 25 de abril. Já passaram 41 anos de revolução, mas continuamos, não digo pior, mas quase igual ao que vivíamos antes do 25 de Abril. É lamentável que as pessoas hoje em dia estejam a voltar ao que havia antigamente. As pensões que são cada vez mais cortadas, não há condições de trabalho, é uma coisa sem explicação”, disse à Lusa Eva Martins, que se fez acompanhar no cortejo da sua irmã.

Adelino Jesus tinha acabado de regressar da Guiné-Bissau quando aconteceu a revolução que pôs fim a quase cinco décadas de ditadura em Portugal, o dia que acabou por ter “uma importância maior” para si, porque com ele “os jovens ficaram livres de ir para a guerra colonial”.

“O 25 de Abril para mim tem toda a importância uma vez que veio acabar com o regime. Só pesa de facto a juventude deste país não pegar bem no que foi o 25 de Abril, no que foi dar a oportunidade aos portugueses para que tivessem outras oportunidades. Não temos os governantes que o povo merece. É por isso que estamos na rua mais uma vez, para que o país continue numa democracia e a favor dos mais desfavorecidos”, disse.

Ao lado dos pais, a ver o cortejo passar, o pequeno Baltasar, de 11 anos, que ergue convicto um cartaz criado e desenhado por si, não hesita quando lhe perguntam o que significa, afinal, o 25 de Abril

“É a comemoração de uma revolução que aconteceu, porque o fascismo estava a destruir Portugal”, afirmou, acrescentando que com a revolução dos cravos “mudou muita coisa, muita política” e que seria “muito mau” viver sem liberdade.

A mãe de Baltasar, Susana, alemã, não estava em Lisboa em 1974, mas não tem dúvidas que o momento que hoje se celebrou é muito importante para “defender os valores de Abril”, porque ainda que ache que não estamos a caminho de uma nova ditadura, não acredita que se esteja a trilhar o caminho certo. Nem em Portugal, nem na Europa.

“Eu acho que a Europa, a União Europeia podia ser uma comunidade solidária, mas não é. São regras muito restritivas e sobretudo os países mais pobres sofrem muito com isso”, disse.

No final do desfile, ameaçado pela chuva que chegou a cair no arranque, mas que acabou sem quase ser necessário abrir o guarda-chuva, houve ainda lugar ao ‘Grândola, Vila Morena’, contra-senha da revolução da autoria de José Afonso, antes do discurso do major Bargão dos Santos, da Associação 25 de Abril.

No palanque montado na praça do Rossio, onde a afluência esteve longe dos milhares que encheram a Avenida da Liberdade, as palavras do militar de Abril foram também sobretudo para os mais fragilizados pela crise.

“O combate à atual crise exige a participação ativa das mulheres e dos homens sérios de Portugal. […] Temos de ser capazes de com um esforço coletivo e devidamente organizado dar resposta à corrupção, aos escândalos financeiros, à permanente destruição do aparelho do Estado e às arbitrárias privatizações do setor público, bem à vista, bem à revelia dos interesses nacionais”, disse Bargão dos Santos.

O militar disse ainda que é preciso não aceitar “a indignidade” das “atuais formas de pobreza e miséria”, defendo o resgate e promoção de uma “cidadania ativa”, “para que possamos intervir nas decisões que nos dizem respeito, defendendo os valores de Abril”.

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