Açoriano Oriental
Kimié Miner nos Açores para descobrir as suas raízes

Trineta de micaelenses, a cantora havaiana Kimié Miner visitou os Açores pela primeira vez, numa viagem onde procurou descobrir as suas origens e a inspirou para um trabalho futuro sobre as suas raízes


Autor: Ana Carvalho Melo

Descendente de Isabel Emília da Conceição e Agostinho Claudiano Andrade, que em 1883, partiram de Ponta Garça para o Havai, a cantora e compositora Kimié Miner esteve de visita a São Miguel, onde ficou a conhecer melhor as suas origens.

“Eu sabia que era portuguesa mas nunca tinha conhecido a minha família dos Açores, nem conhecia a língua. Agora tive a oportunidade de conhecer este lugar que faz parte da minha identidade”, contou em entrevista ao Açoriano Oriental.

Como lembrou a cantora, apesar de já terem passado mais de cem anos desde a chegada ao Havai, a ligação da sua família aos Açores nunca desapareceu ainda que ao longo dos anos possa ter vindo a tornar-se mais ténue.

“Eu tenho muitos familiares açorianos com quem cresci e na nossa casa mantínhamos tradições que vinham de Portugal. A minha bisavó falava português, por isso eu tinha esta ligação à minha volta quando era criança, ainda que as gerações seguintes falassem cada vez menos português”, recordou.

No seu caso, Kimié Miner explicou que o facto de o seu pai ser havaiano fez com que desde sempre tenha tido maior contacto com a cultura destas ilhas norte-americanas no Pacífico do que com a açoriana. No entanto, a vontade de saber mais sobre as suas origens e da sua família foi o catalisador desta viagem.

“Eu queria saber mais sobre esta parte de mim, os meus familiares que aqui moram e a sua ligação a esta terra. Eu já conheço essa parte do meu lado havaiano, mas faltava o lado açoriano”, contou, realçando que pretende transmitir este legado aos seus filhos, que desta vez ficaram no Havai.

E sendo a primeira vez que está nos Açores, Kimié Miner não deixou de comentar o que mais a impressionou logo no primeiro instante da sua estadia. “É tudo muito semelhante, mas também muito diferente. Nós também temos montanha, verde, mar e vulcões mas são tão diferentes, as cores são diferentes, as plantas são diferentes”, afirmou.

Nesta viagem aproveitou ainda para conhecer a ilha tendo passado junto da casa onde os seus trisavós viveram em Ponta Garça, visitado diversos locais da ilha e também confraternizado com os primos que apenas conhecia pela troca de e-mails.

“Domingo fomos à casa dos meus trisavós em Ponta Garça e eu filmei-me à frente da casa o que me fez ficar mais próxima das minhas raízes”, destacou.

Ontem, já com a viagem perto do fim, Kimié Miner afirmava que estava mais rica e que não está fora dos seus projetos fazer música com influências portuguesas e desta viagem.

“Eu quero aprender fado e folclore de forma a compreendê-los e a poder incorporá-los na minha música”, contou, acrescentando: “Espero que esta minha experiência inspire todos os açorianos a descobrirem esta ilha para que o possamos honrar e partilhar toda esta cultura com o mundo”.

A cantora e compositora, que em 2019 teve o álbum “Hawaiian Lullaby” nomeado para um Grammy na categoria de Melhor Álbum de Música de Raiz Regional, contou que  este foi um momento de reconhecimento do percurso que tem vindo a trilhar.

“Sendo de uma ilha estamos afastados dos meios grandes, e, por isso, foi muito difícil chegar aos Grammys. A minha carreira demorou talvez duas vezes mais do que a de alguém no continente norte-americano a ter sucesso porque estava numa ilha pequena”, contou, frisando: “Estar afastada traz desafios, ser mulher traz desafios mas eu gosto de desafios”.

Salientou ainda que o facto de ter sido nomeada para este Grammy lhe deu acesso a uma plataforma que pôde aproveitar para contar a sua história e inspirar os outros.
“Acredito que todas as nossas histórias têm valor e por isso devem ser contadas. (...) Eu sou mentora de outros artistas e cantores e se eu os inspirar a procurar as suas raízes, vou contribuir para que abram a sua mente e pensem como cidadãos do mundo e se preocupem com outros”, defendeu.

“Podemos vir de uma pequena comunidade mas temos de ser grandes nos nossos objetivos e na forma como queremos tocar as pessoas”, acrescentou.

Ainda durante esta viagem Kimié Miner realizou um concerto nas Portas da Cidade em Ponta Delgada, uma partilha que lhe permitiu mostrar ao público local um bocadinho de quem é.

“Senti-me muito bem. A música é a minha linguagem de amor e é a partir dela que eu conto a minha história. Por isso vir cá, aprender as histórias dos meus ancestrais e da minha família e ser capaz de partilhar também algumas das minhas histórias era exatamente o que eu queria”, disse.

PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados