Açoriano Oriental
Instrução do Vaticano apenas regulamenta destino das cinzas
A instrução, aprovada pelo papa Francisco, "Ad resurgendum cum Christo" "apenas regulamenta o destino das cinzas dos mortos, que não estava regulamentado", disse hoje à agência Lusa o monsenhor Vítor Feytor Pinto

Autor: LUSA/AO online

"A regulamentação é esta, [as cinzas] devem ser depositadas num cemitério ou num lugar de culto. Há igrejas que têm sarcófagos, há particulares que têm uma capela, onde estão os seus mortos e, claro que sim, podem aí depositar [as cinzas], nos jazigos também, e há cemitérios que têm lugares especiais para isso”, afirmou o clérigo à Lusa.

Segundo o documento "Ad resurgendum cum Christo", a Igreja Católica aceita a cremação, mas proíbe que as cinzas sejam espalhadas em qualquer lugar, ou divididas entre familiares, lembrando que devem ser mantidas em local sagrado, "ou seja, no cemitério, ou numa igreja, ou numa área especialmente dedicada para este fim pela autoridade eclesiástica competente".

"Para evitar qualquer equívoco panteísta, naturalista ou niilista, não é permitida a dispersão das cinzas no ar, terra, ou água, ou de qualquer outra forma, ou a transformação das cinzas em recordações comemorativas, em peças de joalharia ou em outros artigos", sublinha.

A Congregação para a Doutrina da Fé determina que, "caso o defunto tenha pedido a cremação e a dispersão das cinzas na natureza, por razões contrárias à fé cristã, as exéquias serão negadas".

À Lusa, monsenhor Feytor Pinto sublinhou que os párocos “devem acompanhar os corpos até à cerimónia de cremação”.

A Igreja Católica permite aos fiéis, desde 1963, escolher a cremação do corpo, embora prefira a sepultação, “precisamente pelo culto dos mortos”, explicou Feytor Pinto, acrescentando que, com “a cremação, perde-se um bocadinho [est]a relação”.

Feytor Pinto explicou que a cremação foi proibida pela Igreja Católica para evitar que alguém fosse queimado vivo, “o que hoje já não faz sentido, pois atualmente a medicina tem o diagnóstico da morte, e os médicos provam indiscutivelmente que a pessoa morreu”.

O administrador da paróquia do Campo Grande, em Lisboa, referiu ainda que a cremação “é uma facilitação social”, dada “a atual falta de cemitérios”, mas “tem um inconveniente muito grande, é que as pessoas deixaram de acompanhar [familiares e amigos] até ao cemitério".

Citando a sua experiência pastoral, o sacerdote afirmou que, no caso das cremações, "as pessoas assistem à missa de corpo presente, e depois é um reduzido número de pessoas que vai à cremação”.

“Praticamente só a família assiste à cremação, e deixa de haver aquela relação de facto de que a pessoa é pessoa e tida", disse à Lusa, acrescentando que "há aqui elementos muito interessantes a considerar”.

Sobre o documento tornado hoje público, Feytor Pinto afirmou que “é uma pastoral muito importante para acompanhar a família, acompanhar as pessoas que estão com saudade”.

“Nós temos de ser solidários com o sofrimento dos outros, o mais possível”, frisou.

Para a Igreja, "a conservação das cinzas num lugar sagrado ajuda a reduzir o risco de afastar os defuntos da oração e da lembrança dos familiares e da comunidade cristã", explicou hoje o consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, Angel Rodriguez Luno, na conferência de imprensa de apresentação do documento.

Deste modo, "evita-se a possibilidade de esquecimento, falta de respeito e maus tratos, que podem acontecer especialmente passada a primeira geração, bem como práticas inconvenientes ou supersticiosas".

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