Autor: Tatiana Ourique / AO Online
“Recrutar dentro dos parâmetros pretendidos” é, para o jovem angrense, o maior desafio da “Doce Lar – Apoio Domiciliário”, a empresa que fundou em julho de 2016: “É muito complicado encontrar pessoas com vontade de trabalhar, aprender e evoluir, tornando se ainda pior se juntarmos requisitos como experiência na área, carta de condução ou viatura própria. As dificuldades, como em todas as áreas passam por fazer o cliente perceber que tudo tem um preço. Não podemos ter colaboradores de graça. Há uma estrutura montada que tem de ser paga naturalmente e esse valor vem única e exclusivamente dos clientes. Mas a valorização do serviço ainda para mais especializado como o nosso é uma dificuldade em todas as áreas”.
A formação dos profissionais de apoio domiciliário é feita através de formações
internas teóricas e práticas ministradas pelos profissionais de saúde: “médica,
enfermeira e terapeuta da fala, por exemplo, assim como através da organização
ou participação em eventos ligados a saúde como é o caso do congresso de apoio
domiciliário dos Açores”, adianta Rodrigo Silva.
Sobre o apoio domiciliário na região o jovem empresário garante que as ilhas mais pequenas são as mais penalizadas: “não existem empresas privadas em todas as ilhas e só estas vêm colmatar as lacunas no apoio social aos idosos. Por exemplo, existe uma equipa que presta cuidados de higiene ou mesmo que fornece alimentação mas e o resto? E cuidar da roupa? Da casa? Ir às compras? Ou mais grave fazer companhia? Estimular o idoso? Nós, temos idosos completamente ao abandono e quanto mais pequeno o meio menos serviços existem e se muitos ainda cá estão o devem a generosidade de amigos e vizinhos”.
Rodrigo Silva adianta ainda que o maior flagelo dos idosos açorianos é o isolamento social. “Se não se pode comer peixe come-se carne ou sopa. Muitos medicamentos são muito baratos (nem todos) mas, pior é o isolamento e temos idosos que são completamente abandonados pela família. Há filhos que são capazes de viajar e deixar os animais com o vizinho ou num hotel para cães, mas não são capazes de visitar os pais todas as semanas. Isto não é no terceiro mundo nem longe daqui. É o mundo real e muito mais comum do que alguma vez imaginei”.
Para além destas dificuldades, o terceirense sustenta ainda que as baixas pensões condicionam um envelhecimento digno. “Falta dinheiro para uma boa alimentação, falta dinheiro para medicamentos ou até para consultas de especialidade e nem falo de operações dadas as extensas listas de espera em todo o país. Se juntarmos ainda o facto de muitos idosos não conseguirem pagar a alguém para ajudá-los nas lides domésticas”. Rodrigo garante que em muitos casos não é um luxo, mas uma questão de saúde pública. Diz já ter visto casas infestadas de “aranhas, baratas e até ratos” e que em alguns casos já teve que requisitar empresas da área.
Na antevisão do segundo congresso, Rodrigo fez o balanço da edição do ano
passado: “foi incrível. Mais de 100 pessoas, visitantes de várias ilhas, tivemos
muitas pessoas que voltaram este ano, tivemos muitos jovens e temos este ano
novamente, foi mesmo muito boa a interação entre oradores e público e isso deixou-nos
muito orgulhosos”.
O programa desta segunda edição abre com um painel sobre alimentação com as nutricionistas
Tânia Rocha e Catarina Faria, a Foodblogger Sara Loureiro e moderação da
terapeuta da fala Vanessa Dias.
O segundo painel aborda o bem-estar físico e cuidados com o corpo. Neste painel intervêm a personal trainer Paula Moniz, o atleta paralímpico Jorge Pina e enfermeira Ana Homem sendo moderado por Claudine Lourenço.
“Como envelhecer bem?” é o tema do último painel com gerontóloga Tércia
Rocha, o comediante Pedro Miguel Ribeiro e com o próprio mentor do congresso.
O ingresso tem o custo de 10 euros dos quais 50% das receitas revertem para a associação de solidariedade social DAR- Dreams Are Real que ajuda crianças em África a terem melhores condições de saúde educação e alimentação.