Açoriano Oriental
Hospital de Bonecas veste prematuros dos verdadeiros
Muitos adultos ou quase têm visitado o Hospital de Bonecas, em Lisboa, para tirar as teimas, ou seja, confirmarem que foram ali compradas as roupas que usaram enquanto bebés prematuros, conta a proprietária.
Hospital de Bonecas veste prematuros dos verdadeiros

Autor: Lusa/AOonline

Também loja de brinquedos e museu, este hospital está no número 7 da Praça da Figueira desde 1830. Nos tempos em que as roupas de tamanho 00 ainda não eram fabricadas em massa, a maternidade Alfredo da Costa fazia encomendas de “cento e tal, duzentas” botinhas, diz Manuela Cutileiro.

Como a experiência é muita em fazer roupa para bonecos, a maternidade, que concentrava os equipamentos necessários para cuidar de bebés nascidos antes do tempo, era uma das principais clientes para “botinhas, gorros e camisinhas”.

“Andávamos todas a fazer ‘crochet’ pelo caminho para conseguir corresponder [às encomendas] porque as botas eram feitas à mão, não eram feitas em fábrica”, recorda Manuela Cutileiro, especificando que os gorros eram feitos numa máquina de tricotar.

“Tudo muito artesanal”, garante a anfitriã deste espaço, que recorda que era uma altura em que a esperança de sobrevivência dos prematuros era muito baixa e não era um negócio que interessasse às fábricas.

O Hospital de Bonecas era a “última esperança, para vestir essa gente tão pequenina”.

Agora, pela porta, Manuela Cutileiro vê entrar “muitas vezes, os pais com filhos já grandes” e que contam que as primeiras roupas foram ali compradas, sobretudo as roupas com que saíam da maternidade”.

“Vinham cá muito comprar as roupinhas de lã, os casaquinhos, os cueiros, e ainda hoje vêm cá confirmar se era verdade, ou não”, nota à agência Lusa.

A procura pelas roupas para prematuros continua, mas não tanto como antigamente.

“Até porque as modas dos bebés são um bocadinho diferentes e nós continuamos a manter a nossa traça antiga de pronto-a-vestir para bebés, mas de qualquer maneira continuamos a vender, vendemos muita botinha, os cueiros”, enumera Manuela Cutileiro.

Os clientes continuam a chegar por “saberem que toda a vida” se fez ali roupa para bonecos e afinal um “bebé prematuro é muito a dimensão de um nenuco [uma marca de brinquedo]”. E se no hospital se fazem “tamanhos pequeninos, devem-se adaptar às crianças”.

As roupas para os bebés têm, porém, cuidados extra, a nível dos materiais e usados, assim como na inclusão de fitas. “Coisas que não os aleijem”, resume.

A produção de roupa vendida no Hospital de Bonecas também se estende a figuras religiosas e fatos de Carnaval.

“Fazemos muitos fatos para meninos Jesus, para nossas senhoras, para senhores dos Passos, além das bonecas e da roupa de Carnaval”, informa a proprietária, referindo que as encomendas já passaram as fronteiras de Portugal.

“Fazemos um bocadinho de tudo, aquilo que nos pedem”, mas sempre em tamanhos pequenos ou pequeninos.

PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados