Açoriano Oriental
Homem acusado de assassinar mulher escreveu ter agido por ciúmes
Dois amigos do homem acusado de ter assassinado a esposa em Mangualde afirmaram em tribunal que este escreveu uma carta a outra mulher onde se mostrava arrependido e justificava ter agido por ciúmes.

Autor: Lusa/AO online
Paulo Silva, de 31 anos, começou a ser julgado no Tribunal de Mangualde pelo crime de homicídio qualificado. O corpo da sua mulher, Carla, de 30 anos, foi encontrado na lagoa de uma pedreira da Cunha Baixa ao final da manhã de 14 de Julho, um sábado, apresentando indícios de agressão e de ter sido baleado várias vezes.

    Na sexta-feira de manhã, o marido comunicou a familiares e vizinhos o desaparecimento da mulher e chegou a participar nas buscas, mostrando-se sempre calmo, de acordo com relatos de várias testemunhas.

    Hoje de manhã, dois inspectores da Polícia Judiciária de Coimbra referiram que Paulo Silva terá agido premeditadamente e por motivos passionais, uma vez que se comentava que "teria ou pretendia ter um relacionamento com outra pessoa".

    A mulher em causa, casada, de 32 anos, trabalhadora de um café frequentado pelo arguido, foi ouvida durante a tarde de hoje e negou a existência de um relacionamento, ainda que tenha reconhecido ter falado com ele várias vezes ao telemóvel e recebido duas cartas.

    No dia 11 de Julho, supostamente véspera da morte de Carla, a mulher recebeu cinco chamadas de Paulo Silva, nalguns casos de perto de meia hora, mas que disse constarem apenas de "parvoíces", conversas "chochas" em que ele dizia gostar dela. No dia 12 a última chamada que recebeu dele foi às 17:13, tendo-lhe ela enviado uma mensagem às 18:49, da qual não deu a conhecer o teor ao tribunal.

    A mulher contou ter recebido duas cartas de Paulo Silva quando este já estava detido, mas garantiu ao tribunal que as queimou sem as ter lido.

    O teor de uma das cartas foi, no entanto, do conhecimento de dois amigos do arguido.

    Ambos contaram em tribunal que Paulo Silva justificou ter agido por ciúmes, mas que passado pouco tempo se arrependeu, acrescentando que ainda poderia ser feliz depois de sair da prisão.

    Um deles contou que Paulo Silva escreveu que estaria preso "seis ou sete anos" e depois estaria livre e poderia ser feliz.

    O outro relatou que ele escreveu que "tinha falado com o advogado, ia apanhar entre 10 a 15 anos e depois ainda podia ser feliz".

    Ambos afirmaram que Paulo Silva falava na primeira pessoa, mas que a carta tinha como destinatária a empregada do café.

    Um dos irmãos de Carla - que ao entrar na sala de audiência chegou mesmo a ameaçar o cunhado e a cuspir-lhe - afirmou que a irmã "deve ter descoberto alguma coisa de muito grave e ele calou-a".

    A possibilidade de Carla ter um amante foi refutada por várias testemunhas ouvidas durante a tarde, que a apontavam como uma rapariga honesta, reservada, triste e que por vezes era até interpretada como antipática.

    Uma amiga de infância e de trabalho, na fábrica da Citroen, disse que a única vez que ouviu a insinuação de que Carla teria um amante, um engenheiro, partiu da boca de Paulo, já no sábado, antes de ter sido encontrado morta na lagoa.

    O engenheiro em causa garantiu que "tinha pouco relacionamento profissional e nenhum pessoal" com a vítima, admitindo ter sido alvo do rumor "por vingança", uma vez que não integrou Paulo Silva na sua equipa da Citroen como Carla tinha pedido.

    A última das 17 testemunhas ouvidas no primeiro dia de julgamento foi a tia-avó de Paulo Silva, que contou que o sobrinho lhe ficou com um cheque de perto de 40 mil euros resultante da venda de uma casa.

    Da parte da manhã, o arguido tinha optado por ficar em silêncio. Segundo os inspectores da PJ, ele chegou a confessar o crime, mas apenas numa conversa informal.

    O advogado de acusação, Nuno Lobo, disse aos jornalistas considerar que o julgamento está a "correr muito bem" e que, "para os assistentes (os pais de Carla), "há poucas incertezas e uma certeza apenas: ela não está cá e deixa uma filha de dois anos".

    Além do processo-crime contra Paulo Silva, os assistentes intentaram uma acção de inibição do poder paternal total. Há já uma sentença provisória, que tem efeitos até ao juiz emitir a sentença final, e que reconheceu o poder paternal aos avós.

    Está também a correr em tribunal o processo de inventariação dos bens do casal.

    O julgamento prossegue terça-feira, às 9:30 (hora local)
, estando prevista a audição das restantes testemunhas - incluindo a perita de Medicina Legal -, que completam um total de 39.
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