Açoriano Oriental
Concursos desertos nos Açores e na Madeira por falta de mão-de-obra e materiais

Na Madeira e nos Açores, o facto de haver concursos para obras desertos está a afetar empreitadas públicas e privadas, sobretudo devido à falta de mão-de-obra e materiais, num cenário agravado pela insularidade, segundo fontes governamentais e sindicais.

Concursos desertos nos Açores e na Madeira por falta de mão-de-obra e materiais

Autor: Lusa

A maioria dos concursos públicos a cargo da tutela das Infraestruturas nos Açores tem sido adjudicada após a realização de dois procedimentos devido ao aumento dos preços e às dificuldades logísticas, revelou o Governo Regional.

Entre os casos em que o executivo teve de lançar mais de um concurso, depois de os anteriores procedimentos terem ficado desertos, estão a proteção costeira de São Roque do Pico (43 milhões de euros), a construção do centro de investigação ligado ao mar Tecnopolo-Martec (mais de 20 milhões de euros) ou a requalificação da Unidade de Saúde do Corvo (370 mil euros).

Numa resposta enviada à agência Lusa, a Secretaria Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas revela que a situação se agravou a partir da pandemia da covid-19, já que “a crise sanitária global, seguida pela ação militar na Ucrânia, criou um ambiente de incerteza e dificuldades logísticas que afetaram significativamente o setor da construção”.

O Governo Regional destaca que os Açores apresentam “desafios únicos” devido à sua “natureza insular e dispersa”, uma vez que as empresas de construção civil “preferem trabalhos próximos das suas sedes, onde os custos são mais reduzidos”.

O executivo salienta que a “falta de mão-de-obra e materiais” e os “prazos apertados do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”, além de aumentarem os preços, contribuíram para a “hesitação das empresas em participar nos concursos, com receio de não cumprirem prazos e de garantir a qualidade dos investimentos”.

A secretaria do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas ressalva, contudo, que todas as suas empreitadas incluídas no PRR estão a “ser executadas e em velocidade cruzeiro”.

Na Madeira, a Associação dos Industriais de Construção (Assicom) e o Sindicato dos Trabalhadores da Construção (Sicoma) são unânimes em afirmar que há atrasos nas obras devido à falta de mão-de-obra, mas nenhuma fica por executar, sobretudo no setor público.

“Em consequência desta falta de mão-de-obra, é claro que as obras privadas sofrem mais, porque as públicas têm de cumprir os prazos”, diz à agência Lusa o vice-presidente da Assicom, João Carlos Gomes, explicando que, por isso, os empresários canalizam os trabalhadores para as empreitadas públicas.

O setor da construção civil emprega diretamente cerca de 16 mil pessoas na Região Autónoma da Madeira, mas tanto a associação como o sindicato defendem que para operar na plenitude, face ao volume de trabalho, seriam necessários mais 12 mil trabalhadores.

“Há empreiteiros que têm obras em carteira e não as lançam porque não têm mão-de-obra para começarem as obras”, refere o presidente do Sicoma, Diamantino Alturas, sublinhando que “até agora havia falta de mão-de-obra qualificada, mas já há problemas mesmo em termos de serventes”.

“Os problemas seriam muito maiores, atrasariam ainda muito mais as obras, se por acaso não tivéssemos já um número elevado de imigrantes aqui na Madeira”, realça, apontando para cerca de 8.000 trabalhadores estrangeiros no setor, sobretudo oriundos de países asiáticos, africanos e do Brasil.

Para a Assicom, “essa falta de mão-de-obra faz com que as empresas não consigam cumprir os contratos de empreitada a que estão vinculadas e não consigam até concorrer”, explica João Carlos Gomes, adiantando que a situação afeta o setor público e privado e que “há empresários que estão a receber encomendas com um ano e meio de antecedência”.

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