Açoriano Oriental
Meia de Rock
Grutera: uma guitarra a contar histórias

Sobre o que ainda não aconteceu não sei tocar. Sobre o que aconteceu, está aqui.” A frase é de Guilherme Efe e é retirada do pequeno – e único – texto inscrito na caixa do disco “Aconteceu”, que editou recentemente sob o nome de Grutera.

Grutera: uma guitarra a contar histórias

Autor: João Cordeiro

Poucas palavras no caixa do disco, nem uma palavra nas canções. Grutera “conta” o que “aconteceu” apenas com os dedos a percorrer a sua guitarra.

Sem qualquer formação musical, autodidata, Guilherme Efe diz que sempre soube que seria músico, “ainda que paralelamente tivesse qualquer outra atividade, mais ou menos lícita, mais ou menos nobre, com que fizesse mais ou menos dinheiro”.

Mas não se pense que a falta de aprendizagem formal signifique simplicidade na música de Grutera. De modo algum. O domínio da guitarra clássica é evidente e o álbum está repleto de momentos de complexidade técnica e de temas que se aproximam muito de uma abordagem clássica, que se interligam com momentos mais contemplativos, que dão espaço para a música respirar, antes de continuar a ação. Sim, ação. Faz todo o sentido olhar para as músicas de Grutera como ele próprio as apresenta. São histórias sobre o que aconteceu. Não há palavras, é certo. E nunca saberemos a história que as inspirou, mas isso não impede que olhemos para elas com sob esta perspetiva de narrativa em curso. Em cada música caberá aquilo que a imaginação de quem ouve for capaz de construir.

Quem ouve este “Aconteceu”, dificilmente o pode adivinhar, mas o percurso musical de Guilherme Efe começou nos antípodas de onde ele se encontra hoje. Foi com guitarra elétrica e com a distorção no máximo, em bandas de heavy metal, que deu os primeiros passos. Um caminho interrompido porque o ‘headbanging’ faz “dores de pescoço”, assume o próprio, com humor.

Depois disso, descobriu que tocar “guitarra clássica, à sua maneira, pouco ortodoxa, é a coisa mais simples e fácil que já alguma vez aprendeu a fazer”, e “escolhe esse caminho para alcançar a fama, riqueza e sucesso. Ou só fazer música que o emocione e que melhore alguns minutos da vida de alguém que a ouça”.

“Aconteceu” reúne dez temas compostos ao longo dos últimos cinco anos, que Guilherme Efe espera “não o envergonhe”. Da nossa parte, pode ficar descansado. Só tem motivos para ficar orgulhoso. Ficamos agora há espera de ouvir as histórias que Grutera terá para contar, à guitarra, sobre este estranho ano de 2020.


O percurso de Grutera visto pelo próprio

Em 2012 grava o “Palavras Gastas” e entra para os Novos Talentos FNAC, um álbum que, hoje em dia, o envergonha. Em 2013 grava “O Passado Volta Sempre” no Mosteiro de Cós, um álbum que hoje em dia, o envergonha, mas menos do que o primeiro. Em 2015 grava “Sur Lie” na Herdade do Esporão, um álbum que hoje em dia, o envergonha, mas menos do que o segundo. Em 2020 lança um novo disco, “Aconteceu”, um disco sobre o que aconteceu nos últimos 5 anos. Espera que este não o envergonhe.


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