Açoriano Oriental
Filósofo Habermas alerta para exigência dos cidadãos de uma democracia direta
O filósofo alemão Jurgen Habermas afirmou hoje, em Lisboa, que no mundo ocidental há uma apatia e um distanciamento em relação aos políticos e há uma exigência, por parte dos cidadãos e grupos de protesto, de uma democracia direta.

Autor: Lusa/AO Online

A convite da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito de uma conferência internacional sobre educação, o teórico alemão, de 84 anos, falou sobre democracia na Europa, sobre a "transnacionalização" democrática perante a crise na zona euro.

Jurgen Habermas identifica um "síndroma da pós-democracia", com "o declínio na participação eleitoral e partidária e noutras formas de intervenção política" e um aumento da pressão das "minorias mais ativas e dos grupos de protesto" "para a existência de uma democracia direta".

Para o filósofo, "no caso da pós-democracia, a perceção é que os governos não só perderam a vontade como também a força para intervir de modo a alterar o estados dos mais desfavorecidos".

Habermas sustentou ainda que nos anos em que o mundo 'virou agulhas' para uma política neoliberal de desregulação [económica], "os Estados tiveram que ceder o controlo dos seus mercados e ficaram incapazes de desempenhar um papel que era suposto ser independente num cenário de Estado-Providência". Como tal, a palavra "governação" tornou-se um "eufemismo".

Perante o cenário de crise que afeta países como Portugal e Espanha, e setores da sociedade que são desfavorecidos, sobretudo "uma nova geração de desempregados", Jurgen Habermas defendeu que os Estados deviam "romper com a imagem obsoleta que têm deles mesmos, segundo a qual gozam de soberania e toma decisões políticas ao nível fiscal, social e económico sem ter em conta os efeitos colaterais noutros países".

Jurgen Habermas foi apresentado em Lisboa pelo constituicionalista Gomes Canotilho como um "angustiado da razão".

A conferência na qual participou versa sobre o livro e a leitura perante o mundo digital, mas Habermas admitiu ter hoje uma visão diferente sobre os media massificados.

"No meu trabalho diário sentir-me-ia perdido sem o meu computador pessoal, mas não sou verdadeiramente um habitante do novo espaço virtual. Não participo nas redes sociais, não leio 'ebooks' e de tempos a tempos escuto os relatos da minha neta sobre o seu admirável mundo novo", disse o filósofo.

A intervenção do ensaísta foi das mais concorridas na Conferência Internacional de Educação, com dezenas de pessoas a esgotarem o auditório, a encherem outra sala e todo átrio - com pessoas sentadas na escadaria da sede -, nos quais se projetou a transmissão televisiva da sessão.

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