"Ferreira Leite e Sócrates são ditadores disfarçados"

Manuel Moniz defende que os eleitores devem avaliar a “atitude” dos candidatos na hora de escolher onde colocar a cruz. Mas, frisa, nunca em branco que é um “desrespeito pela democracia”. Moniz defende ainda a revisão do sistema eleitoral 


 Quais as razões que o levam a candidatar-se?

Acima de tudo, são duas: uma é de carácter pessoal, se eu não for eleito,desta vez, vou ter três anos sem actividade política  porque sou jornalista e, ao que parece, isto não é muito aceite pelas pessoas... embora a Constituição permita que os jornalistas tenham actividade política...
O cidadão jornalista é igual a qualquer outro cidadão...
E a Constituição garante-o! No entanto, a verdade é que, depois, na prática,  as pessoas não acham bem assim, e compreende-se... o que me criticavam é que eu só me candidatava uma vez de quatro em quatro anos (nas legislativas regionais) e eu pensei: “têm razão!” Era necessária uma actividade um pouco mais seguida e fi-lo. Mas, se eu não for eleito desta vez, são três anos durante os quais as ideias a que muitas pessoas aderem, vão desaparecer do panorama...
A segunda (razão pela qual me candidato) é a de que, realmente, é preciso alterar o figurino dos políticos regionais; peço imensa desculpa!, mas conheço centenas de pessoas que têm elevadíssima qualidade, que viveram fora, que sabem imensas coisas, altamente cultas e que fogem da política como “o diabo da cruz”! ... e isso não pode continuar assim!
Eu não me revejo em praticamente nenhum dos deputados regionais que estão na Assembleia regional, tenho muita pena! Os partidos político chegaram a um ponto - e isto é muito grave -que controlando a democracia (a democracia assim o exige, porque é uma democracia de partidos), controlam os seus partidos (aparelhos) de uma forma hermética a que os cidadãos não conseguem ‘mexer’. Quer dizer, um grupo de cidadãos que faça parte de um partido e que consiga ‘tomar de assalto’ a liderança de um partido, domina-o de tal maneira que os cidadãos não têm acesso...
Está a dizer que é uma falsa democracia aquela em que vivemos?
Completamente! Ainda esta semana encontrei na rua um professor universitário, com grandes responsabilidades, e disse-lhe: “Deixe-me oferecer-lhe um pacotinho dos meus chás”.  A televisão estava lá e ele disse: “Pá, gosto muito de ti mas para a televisão não!...” Estão com medo de quê?


Há medo nos Açores?

...Há uma auto-censura.


Porquê?

Penso que tem a ver, por um lado, com a nossa maneira de ser.
 Aliás, os jornalistas sentem isso muito; é muito difícil  hoje estarem a escrever sobre alguém de uma forma crítica, por exemplo (porque quando os jornalistas “falam mal de alguém” é porque esse alguém fez mal...), é muito complicado, porque depois vêem a pessoa na rua, a pessoa fica ‘chateada’... mas o facto é que os partidos posseram-se  a ‘jeito’.
Nós não vemos que os partidos sejam  maleáveis à crítica, quem criticar, aqui, um partido fica ‘queimado’ e, depois, é uma ‘chatice’ porque quem está no Governo controla os empregos, controla cerca de 20 mil empregos directos, e  não só: o Governo controla mais outros 20 mil, através das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social).


Denoto um tom negativo nesse “controlar”?

Não sei se é negativo se é positivo, é assim! E as pessoas que não são parvas nos Açores, são até bem inteligentes, acima da média, percebem que o melhor é não se meterem nestas ‘coisas’!


Julgo saber que o Manuel Moniz tem uma mágoa e que é a de não existir uma razão directa entre a aceitação popular que tem quando faz campanha eo voto no dia das eleições... o que é que tem estado a falhar?

Não falha nada, não pode haver pretensões de um pequeno partido chegar, ver e vencer...


Mas é frustrante?

Evidentemente, mas eu compreendo... a ‘gente’ pode não gostar muito de uma situação mas o facto é que a votação tem vindo a aumentar. Digo na brincadeira que com as médias de crescimento, daqui a cem anos conseguirei ser eleito!
Agora, quem é que não vota? Mais de 50 por cento dos açorianos não vota, e quem são eles? São, acima de tudo, os jovens, aqueles a quem caberia fazer a tal mini-revolução. (...)
Não imagina o número de pessoas que não sabe que está recenseada! Mas o pior é que tenho encontrado cada vez mais jovens a dizerem: “Eu não voto”. (...) E é difícil ‘tirar-lhes’ essa ideia, por uma razão: eles realmente não se revêem nos políticos que lhes pedem o voto!  
Fico é magoado de, por exemplo, nas eleições regionais houve dois por cento de voto em branco, quando havia um partido alternativo como o meu! Isso já me parece ser uma pretensão! Penso que são pessoas que têm algum nível cultural  e que não estão a perceber que o ideal não é o voto em branco porque o voto em branco não vale nada! O que na realidade estão a dizer, com o voto em branco, é que despeitam a democracia! Votar é o acto nº 1 da democracia, democracia é a liberdade em sociedade e o que estão a fazer, se calhar sem saber, é ‘magoar’ a democracia. E o que lhe vai acontecer quando tivermos uma descrença grande (...) é que vai aparecer uma ditadura!


A abstenção é muito elevada nos Açores e no País, como é que se consegue ‘dar a volta’?

(...) Cada cidadão tem um voto e está votando em quê? Em duas coisas:  uma, é no chefe do governo, e outra é nos deputados, mas nós só temos um voto para essas duas coisas! Ou seja, nós não temos realmente uma democracia representativa (...). Nós temos que alterar o sistema eleitoral.
 

O que é que gostaria mais de ver debatido nesta campanha eleitoral?

O que quer que seja que seja debatido em campanha eleitoral, não vale nada! Os partidos prometem o que quiserem, dizem o que quiserem, porque estamos a falar de quatro anos, de uma legislatura em que claramente não serão três ou quatro temas debatidos em 15 dias que vão mandar (...). O que os eleitores precisam de perceber é as atitudes (...).


Então concorda com a estratégia de Manuela Ferreira Leite de não prometer ‘grandes coisas’ e de dizer que há muitas leis que são feitas e que vêm dificultar o sistema em Portugal?

Sim e não. Sem dúvida, é uma realidade há leis a mais, e no caso açoriano é ridículo que se diga que é um problema de competências, nós temos ‘montes’ de competências que não exercemos, o problema é o que fazemos com as leis que temos (...).


Está a dizer que os açorianos não têm sabido aproveitar a autonomia que têm?

Sem dúvida nenhuma(...). No entanto (quanto a Manuela Ferreira leite), um partido que se candidata tem de dizer exactamente o que é que defende nas grandes linhas. (...) Ninguém percebe exactamente nem o PS e o PSD, são uma força que depende de quem está à frente. (..)
E o que estamos a ver neste momento entre a Manuel Ferreira Leite e José Sócrates é que são dois ditadores: um disfarçado e outro que se disfarça.
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Entre 2014 e 2024, a comercialização do leite e do queijo açoriano, no seu conjunto, registou um aumento de valor de 44 por cento, passando de 190,7 milhões de euros em 2014 para os 274,6 milhões de euros registados em 2024