É natural da ilha do Pico e tem 36 anos. Fábio Silveira vai ter a sua ordenação diaconal amanhã, domingo, 23 de novembro, na Sé Catedral de Angra, o mesmo lugar onde deverá também ser ordenado padre a 14 de junho de 2026. Vai ser o último padre formado integralmente nos Açores.
Isto porque, depois de Fábio Silveira, os futuros padres naturais dos Açores estão a fazer a sua formação, com reconhecimento civil, na Universidade Católica e no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, na cidade do Porto.
Ser o ‘último seminarista’ dos Açores é para Fábio Silveira “um sentimento agridoce”, conforme afirma em entrevista ao Açoriano Oriental. Um sentimento agridoce “por estar realmente sozinho numa fase em que almejaríamos ser cinco prostrados no chão a fazer a nossa profissão de fé e a nossa ordenação diaconal, sendo um de cada ilha, todos de idades diferentes, uma riqueza enorme”. Contudo, acrescenta Fábio Silveira, “por outro lado, também é um sentimento de satisfação e de algum orgulho por ter chegado aqui, numa caminhada que não é fácil, que foi árdua e que não é garantida”.
O processo de formação de um padre é, para Fábio Silveira, um processo de “enamoramento, de aprendizagem e, sobretudo, de discernimento, porque até o último dia é sempre uma opção livre”.
Mas como é que surgiu a sua vocação? O que
fez Fábio Silveira ir para o Seminário de Angra para um dia ser padre?
“Esta é a pergunta para vários milhões”, começa por responder com um
sorriso o futuro padre, recordando que teve na sua juventude um percurso
“muito normal” e que “a minha vida nada encaminhava para isto”.
Conforme
recorda Fábio Silveira, “eu queria casar, namorei, tinha a minha vida
organizada e depois vim para a Terceira cedo, com 20 anos, formei-me
aqui (em Música), trabalhei, tinha a minha vida estável até que...” e
foi aqui que se deu ponto de viragem. Mas como? “A gente nunca sabe o
que é... Deus não nos chama por telefone nem por carta... Ele chama-nos
ao coração, nas formas mais reservadas e mais estranhas e vai buscar
pessoas ao fim do mundo para seguirem a sua missão. Eu fui um deles e
fui tocado, de alguma forma”, explica Fábio Silveira.
O futuro padre recorda que “tinha sempre um cunho muito cristão em tudo aquilo que fazia”, salientando igualmente o papel que a sua área de formação, a música e a cultura, tiveram na sua vocação. Até porque “não foi por falta de padres, amigos e alguns párocos da minha paróquia me aliciarem e dizerem que eu devia ir para o Seminário”, lembra Fábio Silveira. Contudo, conclui, “eu não achava que era o ‘timing’ e que tinha de ser para mim”, uma vez que a Igreja “não vive só de padres, mas também de leigos ativos e eu queria ser um desses leigos ativos”.
Fábio
Silveira teve um estágio integrado numa paróquia enquanto terminava os
estudos e está atualmente a prestar serviço na Ouvidoria da Povoação,
em São Miguel.
Para Fábio Silveira, quais são os principais desafios
para um padre atualmente? “Um deles é a credibilidade, porque as
pessoas hoje põem em causa tudo e todos e põem em causa o próprio papel
da Igreja na sociedade”, começa por responder.
Mas para Fábio Silveira, “a minha pastoral é uma pastoral muito social e muito feita entre e para as pessoas”, considerando por isso “ser esta a minha vocação” e também o seu grande desafio como futuro padre, procurando igualmente contribuir para estreitar os laços entre a cultura e a fé. A outra prioridade de Fábio Silveira é a juventude e, nomeadamente, “tentar reaver a credibilidade que a Igreja tem perdido” junto dos jovens. E em jeito de conclusão, Fábio Silveira garante: “eu quero fazer parte desta mudança que é urgente e necessária para a Igreja e em especial para a Igreja diocesana”.
Peça de teatro “O Último Seminarista” foi premonição há 50 anos
Ser o último aluno a completar o sexénio filosófico-teológico integralmente no Seminário de Angra é algo que, para Fábio Silveira, “fez-me ecoar uma lembrança de uns padres mais antigos, que invocavam uma peça de teatro que foi apresentada no Salão do Seminário de Angra que se chamava ‘O Último Seminarista em Angra’. Estamos a recuar há 50 anos atrás talvez e longe de imaginarem na altura que haveria realmente um último seminarista em Angra”. E esse último seminarista é precisamente Fábio Silveira.
Quase a ordenar-se diácono e daqui a seis meses padre, Fábio Silveira recorda ao Açoriano Oriental que quando entrou para o Seminário de Angra “partilhei casa com 25 jovens que procuravam chegar ao sacerdócio”, sendo que neste percurso “mais de metade desistiu pelo caminho e eu aqui realmente termino sozinho”, conclui.
