Autor: Lusa/AO online
O alerta é dado por um especialista em geologia costeira, área de estudo que se dedica, entre outras matérias, à análise de registos geológicos consequência de Tsunamis (onda de porto, na tradução literal do japonês) para perceber a distância temporal com que estes fenómenos acontecem e as suas consequências. O "Registo Geológico de Tsunamis em Portugal" foi o tema da conferência que hoje decorreu no auditório do Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, e que faz parte de um ciclo intitulado "O Mar nas Veias - História, Ciência, Surf", que decorre todos os sábados desde 31 de Outubro até 14 de Novembro. De acordo com César Andrade, a vantagem de estudar os registos geológicos está sobretudo na "janela de oportunidade" que se abre para aumentar a dimensão de tempo "da informação de base que é necessária para calcular, por exemplo, intervalos de retorno de eventos extremos". Tal como explicou este especialista do Departamento de Geologia e Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, os registos documentais "podem recuar para trás no tempo alguns séculos", os registos instrumentais "obviamente são mais curtos", enquanto os registos geológicos recuam no tempo "alguns milhares de anos". "Isto permite-nos, se formos capazes de identificar nesse registo os sedimentos que correspondem a antigas inundações motivadas por Tsunamis, constituir uma boa base de dados que depois podemos utilizar para retirar alguma informação quantitativa sobre essas inundações, que por sua vez será útil para adaptação ao risco ou para efeitos de protecção civil", explicou à Lusa César Andrade. Sublinhou que "não é possível prever um sismo ou qualquer catástrofe natural", mas é possível calcular o risco de retoma e é provável que nos próximos 3 mil anos ocorra um sismo e um tsunami com a dimensão daquele que ocorreu em Portugal no século XVIII. "São acontecimentos muito espaçados no tempo, o que, para uma pessoa mais distraída pode resultar numa falsa sensação de segurança, mas não deve estar porque isto são estatísticas de distribuição médias e nada impede que dois acontecimentos se sucedam num intervalo de tempo muito curto", sustentou. Razões para alarme que aumentam quando, actualmente, um terço da orla costeira de Portugal Continental está "irremediavelmente ocupada", seja por portos, habitação, turismo ou industria, e mais de três quartos (3/4) da população habita em permanência na costa. É por isso que este especialista não tem dúvidas em afirmar que se o evento de 1755 ocorresse a 08 de Agosto de 2010 (data escolhida por ser um pico de ocupação costeira por causa do período de Verão), ocorreria uma "grande calamidade". "Fundamentalmente pelo elevadíssimo número de pessoas que estarão a ocupar as praias, obviamente porque dentro da faixa costeira é a região mais exposta a um acontecimento desta natureza", explicou. Graças ao estudo do registo geológico, disse ainda César Andrade, é possivel saber que houve ocorrência de tsunamis na costa portuguesa nos anos 60 a.C., 380 d.C, em 1531, em Lisboa, em 1722, em Tavira e em 1755, em Lisboa.