Autor: Lusa/AO Online
Em declarações à agência Lusa, a propósito do Fórum LPAZ realizado na ilha de Santa Maria, a professora universitária Sandra Balão defendeu que os Açores podem ter um “novo papel” na “ligação entre o atlântico e o ártico”.
“Os Açores têm uma posição geoestratégica no atlântico norte, que já era reconhecida pelos americanos e antes deles pela Inglaterra, com utilização da Base das Lajes e que pode agora ser potenciada pelo facto de em Santa Maria termos o primeiro ‘space-port’ [porto espacial]”, afirmou a docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP).
A especialista em geopolítica salientou a relevância crescente do ártico, sobretudo a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia, para defender que Portugal deveria “extrapolar o seu espaço de intervenção tradicionalmente centrado no atlântico”.
Sandra Balão recordou, também, a “história e a prática” do país e dos Açores em relação ao ártico para advogar que o Portugal deveria submeter uma candidatura a membro observador do Conselho do Ártico.
“Toda a acumulação de conhecimento e de saberes e de tradição que os Açores encerram em si mesmos, conjugadas com localização, deveriam colocar-nos, se não na vanguarda, pelo menos muito próximos desta vanguarda em termos de apresentação de candidatura a membros observadores do Conselho do Ártico”, afirmou.
A professora universitária Licínia Simão concordou que o Ártico pode reforçar o “papel importante” dos Açores nas “rotas marítimas”, lembrando, ainda, que o “atlântico continua a ser fundamental” nas relações internacionais.
“Do ponto vista estratégico e militar o controlo do atlântico norte continua a ser muito importante, seja por força dos satélites, ou da presença física no espaço oceânico e terrestre. Os Açores continuam a ter importância”, assinalou.
A docente da Universidade de Coimbra considerou, também, que os Açores podem ter “relevância internacional” devido às transformações tecnológicas e as preocupações ambientais, dando como o exemplo as áreas marinhas protegidas.
"Agora é preciso colocar recursos para que áreas marinhas protegidas sejam uma realidade. Pode ser um exemplo. Há muita gente a olhar para os Açores", insistiu.
A professora de relações internacionais defendeu que o arquipélago açoriano “dá importância estratégica” a Portugal, uma situação que exige “investimento” por parte do Estado.
“Estamos a assistir a uma transformação tecnológica muito rápida. O que sabemos é que o atlântico norte continua a ser muito importante. Sabemos que os Açores continuam a ser um espaço terrestre, de presença humana e política que dá a Portugal essa responsabilidade”, vincou.
Já o historiador Luís Nuno Rodrigues destacou que os “Açores sempre tiveram ao longo dos séculos uma importância estratégica fundamental devido a sua posição geográfica no meio do atlântico”, mesmo com Portugal a assumir uma “dupla dimensão” de “país europeu e atlântico”.
“A nossa política externa, independentemente das flutuações conjunturais, terá sempre de manter esta dupla dimensão e esta dupla dimensão assegurará sempre ao arquipélago dos Açores, na minha opinião, um papel central na definição da estratégia portuguesa e da sua política externa”, reforçou à Lusa o professor do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.