Autor: Paula Gouveia
A Congregação das Religiosas de Maria Imaculada tem, neste momento,
apenas duas religiosas a viverem no Convento - a irmã superiora Célia
Faria e a irmã Margarida Pimentel. A irmã Zilda Melo, a última guardiã
que viu sair a imagem em procissão deixou São Miguel em novembro
passado, para ir para a comunidade de Lisboa, tendo ficado a irmã
Margarida Pimentel a zelar pela imagem do Senhor Santo Cristo dos
Milagres.
O Convento da Esperança ficará pois vazio, com a saída das últimas duas religiosas da Congregação, a não ser que seja encontrada alguma outra congregação interessada em dar continuidade à tarefa iniciada pela Madre Teresa d’Anunciada.
“É com muita pena nossa. Custa-nos deixar esta missão que nos foi confiada pela Igreja Diocesana. Já são bastantes anos no Convento da Esperança, com esta missão”, confessa a irmã Célia Faria.
Para a irmã superiora, as irmãs da comunidade do Convento da Esperança têm sido “as mediadoras entre o Santo Cristo e o povo açoriano”, sentindo a responsabilidade de “representar esta fé da Igreja, esta devoção”, “acolher os peregrinos no Santuário, escutar as suas aflições, os seus pedidos de orações”. “Sentimos que esta nossa presença foi de ajuda para o povo açoriano”, admite a religiosa.
“A irmã Beatriz que vai fazer dois anos que faleceu esteve cerca de 40 anos com a tarefa de zeladora da imagem do Senhor Santo Cristo, e é uma das grandes referências para o povo açoriano no que se refere ao culto da imagem do Senhor Santo Cristo”, lembra.
Diz por tudo isto que esta missão “já estava dentro de nós, do nosso coração, e custa-nos deixá-la, mas tivemos de tomar uma decisão pensando na nossa missão carismática”, explica.
Durante muitos anos, a Congregação teve um papel importante, a par da missão de zelar pela imagem e culto ao Senhor Santo Cristo, no acolhimento de crianças e jovens carenciadas e de jovens deslocadas de outras ilhas, para trabalho ou estudo (ver caixa). E, como salienta a irmã superiora, “foi deixando de ser tão necessária a nossa presença no âmbito da ação de promoção da jovem que estava fora do seu lar”.
A irmã Célia Faria recorda que a Congregação chegou a fazer “formações apoiadas pela CEE, disponibilizando cursos de datilografia, viola, bordados, costura, e aulas noturnas; e havia muitas jovens que passavam aqui as tardes de domingo”.
“Este trabalho, contudo, foi mudando. Começaram a ser menos
as jovens que pediam alojamento” e a valência de residência acabou por
fechar há três anos, explica, salientando que nos últimos anos, contudo,
“ainda tivemos iniciativas, como um grupo de jovens, colaborámos com a
Pastoral Juvenil, e chegámos a apoiar o projeto São Lucas e o Centro
Social da Paróquia de São José”. Mas, “fomos percebendo que este
trabalho, apesar de positivo, não justificaria a presença de uma
comunidade”, diz.
“Falámos com o reitor do Santuário e com o senhor
Bispo, e agora tomarão as suas decisões”, diz a irmã superiora que
lembra que a Congregação das Religiosas de Maria Imaculada é já a quarta
congregação a viver no Convento da Esperança.
“É uma fase de mudança
para a vida do Convento. E oxalá que traga vida nova!”, diz a irmã
Célia Faria que daqui a aproximadamente um mês irá para a comunidade de
Lisboa, enquanto a irmã Margarida Pimentel irá para a comunidade do
Porto, onde a Congregação tem a funcionar residências de jovens.♦
Congregação está em São Miguel desde 1954 e no Convento desde 1962
A Congregação das Religiosas de Maria Imaculada veio para São Miguel em 1954, para uma residência de jovens do Patronato de São Miguel, localizada na rua Comandante Jaime de Sousa, n.º20 , na freguesia de São Pedro, em Ponta Delgada.
Em 1962, as religiosas desta congregação mudam-se para o Convento da Esperança, porque havia cada vez mais pedidos de alojamento.
Ainda antes, em 1957, abriram uma “Casa de Trabalho” em Vila Franca, numa casa que os Viscondes de Botelho tinham oferecido à Diocese, e onde permaneceram até 1997. Tanto em Vila Franca do Campo, como no Convento da Esperança, em Ponta Delgada, chegaram a ter cerca de 80 jovens à sua guarda.
A Congregação esteve ainda na ilha de São Jorge, durante apenas quatro anos.