Açoriano Oriental
Catarina Martins acusa Costa de estar “zangado com o país” e avisa que BE não se habitua

A coordenadora do BE acusou hoje o primeiro-ministro de estar “zangado com o país” e avisou que o partido “não se habitua” a um Governo que “troca o salário pela mão estendida do apoio de vez em quando”.

Catarina Martins acusa Costa de estar “zangado com o país” e avisa que BE não se habitua

Autor: Lusa /AO Online

Num almoço-comício do Bloco de Esquerda (BE) no Mercado do Forno do Tijolo, em Lisboa, Catarina Martins referiu-se, por várias vezes, à entrevista de António Costa publicada esta semana na revista Visão, considerando que o primeiro-ministro está “zangado com o país” e “sente-se injustiçado”, criticando igualmente o aviso aos partidos para que se habituem à maioria absoluta do Partido Socialista (PS).

“Não nos habituamos, nem aceitamos que alguém diga que faz política de esquerda quando ataca salários e pensões, quando troca o salário pela mão estendida do apoio de vez em quando, que o Governo quer dar em vez do direito ao salário decente, digno de quem trabalha”, afirmou.

A coordenadora do BE lamentou ainda que as “boas notícias” sobre as contas públicas não se reflitam na vida concreta das pessoas.

“Não há nada mais aviltante para o país do que ouvir o Governo dizer que a economia está a crescer mais do que está à espera, gabar-se disso e, ao mesmo tempo, quem vive do seu salário e pensão vive cada vez pior. Mas está a crescer o quê e para quem?”, questionou.

No seu discurso, a líder do BE elegeu a habitação como “uma das principais preocupações” do partido e prometeu que irá falar no tema “todos os dias”, contra os vistos ‘gold’ e os privilégios fiscais para os residentes não habituais.

No almoço-comício, participaram os fundadores do BE Luís Fazenda – que também discursou -, Francisco Louçã e Fernando Rosas.

Em tom irónico, Catarina Martins disse estar preocupada que, num mês que deveria ser de encontros e conciliação, António Costa se tenha mostrado tão zangado por a esquerda não estar a reconhecer os méritos da sua governação.

“Só mesmo por maldade é que esta esquerda não está agradecida à maioria absoluta do PS (…) António Costa está zangado com o país, com quem não percebe esta coisa extraordinária que, se não fosse a maioria absoluta do país, ia ser pior, como se prova pelas declarações do PSD que, a cada medida do PS, vem dizer: ‘Isso era mesmo o que nós íamos fazer”, continuou.

Já em tom sério, a líder do BE disse estar mais preocupada com “a aflição da vida das gentes”, apontando a subida de 20% do cabaz alimentar ou o aumento dos preços da habitação, lembrando que há meses o primeiro-ministro disse que os vistos ‘gold’ “já tinham cumprido o seu papel e não eram precisos”.

“Qual foi esse papel se não acolher quem esconde dinheiro que roubou noutros lugares do mundo no nosso país, se não a forma de Portugal acolher oligarcas do mundo, incluindo russos?”, criticou, acrescentando que os vistos ‘gold’ “são também uma forma de tornar os preços das casas incomportáveis”.

No entanto, denunciou Catarina Martins, os vistos ‘gold’ não acabaram, nem sequer no centro de Lisboa e do Porto, como tinha sido prometido.

“Continuam a existir através de fundos e a fazer o preço da habitação disparar”, acusou, lamentando que a maioria dos portugueses não consiga viver perto do local onde trabalham, perdendo “horas loucas de transporte” e que também aumentam as emissões prejudiciais ao ambiente.

Catarina Martins acusou o PS de, em matéria de habitação, só estar a ajudar os especuladores imobiliários.

“Esses vão aplaudir a maioria socialista, quem quer uma casa para morar vai ser uma oposição a este Governo e é aqui que está o Bloco”, assegurou.

Os problemas com a habitação estiveram também no centro dos discursos da deputada Joana Mortágua e da vereadora municipal em Lisboa Beatriz Gomes Dias, enquanto Luís Fazenda fez uma intervenção mais ideológica.

“Não nos peçam moderação, ninguém tem moderação nos tempos que correm (…). Do nosso lado, só podemos opor a radicalidade, a radicalidade que não quer as meias tintas do centro político, que não quer centrão e que quer sobretudo esvaziá-lo”, afirmou, defendendo que a alternativa à esquerda tem de ser “clara, direta, e límpida”.


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