Açoriano Oriental
Câmara desmente surfistas que se queixaram de obra em Angra do Heroísmo

 O presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo disse esta sexta feira que a obra de proteção costeira na freguesia de São Mateus da Calheta “não teve qualquer interferência com a onda”, depois de queixas de surfistas.

Câmara desmente surfistas que se queixaram de obra em Angra do Heroísmo

Autor: Lusa /AO Online

Em causa está a construção de um talude de 30 metros, que dá continuidade a uma empreitada de proteção que foi feita há quase dez anos, com uma extensão de “cerca de 300 metros”.

“Esses cerca de 30 metros já se encontram concluídos. A parte que poderia interferir com a onda já está feita nesta altura, estão apenas a fazer a estabilização do topo do talude” e “a verdade é que não houve nenhuma interferência”, garantiu hoje à Lusa Álamo Meneses, acrescentando que quem o diz são os “engenheiros responsáveis”.

O autarca reagia a um comunicado enviado na quinta-feira pela Associação de Surf da Terceira (AST), no qual os surfistas dizem que “aquilo que afirma o senhor presidente da câmara e o projetista que a obra que foi realizada há dez anos e esta continuação não afetarão a onda está longe de ser verdade”.

De acordo com o comunicado, “atualmente o muro de proteção, construído sobre uma muralha que fazia parte do histórico Forte do Espírito Santo, causa na preia-mar uma reflexão considerável da onda, pois a praia de calhau rolado que desapareceu deixou de ter o seu papel, o que resulta em dias de 'swell' (ondulação com boas condições para prática de surf) [com] uma maior agitação que não só afeta a qualidade da onda a rebentar, como parte da sua energia se concentra junto ao muro”.

A AST refere que essas condições fazem com que a ondulação possa “galgar o caminho, torna perigoso o acesso ao mar” e traz “maiores dificuldades ao surfista [para] conseguir passar a rebentação para chegar novamente ao local onde a onda se forma”.

“Ora, se a obra prevê aumentar o enrocamento nessa zona e fazer a continuação do muro de proteção é fácil concluir que a energia da ondulação a quebrar aumentará a sua reflexão (o ‘backwash’) e afetará a dinâmica de formação e rebentação da onda, tornando a prática do surf impossível”, lê-se no comunicado.

O presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo adiantou que “o que está a ser criado é um talude, não é um muro”, e especificou que um talude “é um conjunto de pedras colocadas num ângulo que permite a absorção da energia das ondas”, pelo que o mar não irá galgar aquela zona.

“O resto é construído sobre uma restinga em pedra, não tem contacto direto com o mar e depois tem ligação com um conjunto de proteções que estão na zona portuária, que tem a ver com o molhe do porto”, prosseguiu.

Álamo Meneses afirmou ainda que parte das acusações da AST são “completamente fora da realidade”, porque “não há nenhum forte do Espírito Santo e nunca houve nenhum forte naquela zona”.

“Lamento que os senhores surfistas não tenham estudado bem a sua lição e tenham escrito um conjunto de coisas que mostram um profundo desconhecimento da realidade naquele lugar”, disse o socialista.

A totalidade da obra, um investimento de 600 mil euros, implica também “a construção de um caminho, que 90% dele é construído em terra”, e liga a zona do Biscoitinho e o Terreiro.

Os surfistas referem que o projeto “não tem apenas por objetivo proteger as pessoas e os bens”, motivo que isentou a obra de avaliação de impacte ambiental, “mas a construção de uma zona balnear e aproveitamento para a construção de um passeio pedonal de ligação à já existente zona balnear do Negrito, a uns escassos 950 metros”.

“É uma filosofia de uso de dinheiro público, no mínimo, discutível”, considera a AST, esclarecendo que “não está contra os investimentos na freguesia de São Mateus da Calheta, desde que potenciam efetivamente o desenvolvimento socioeconómico de uma localidade com uma importância assinalável”.

Para o presidente da câmara, “pelo contrário, este investimento irá valorizar uma zona que está em franco crescimento”.

“É uma zona que foi, durante muitos anos, uma zona socialmente muito deprimida, muito pobre, e felizmente está-se a conseguir contrariar, está-se a criar uma ligação entre duas zonas que, nesta altura, já são fortemente visitadas, o que vai permitir um desenvolvimento socioeconómico a essa zona”.



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