Açoriano Oriental
Associações ambientalistas açorianas criticam escolha das Sete Cidades para festival

Associações ambientalistas dos Açores criticam a localização do festival musical projetado para as Sete Cidades, na ilha de São Miguel, mas o Governo Regional e a organização do evento afirmam que os impactos ambientais estão salvaguardados.

Associações ambientalistas açorianas criticam escolha das Sete Cidades para festival

Autor: Lusa/AO Online

O ambientalista Filipe Tavares, da Associação Regional para a Promoção e Desenvolvimento do Turismo, Ambiente, Cultura e Saúde (ARTAC), considera, em declarações à agência Lusa, que a “dimensão do evento em causa é bastante relevante naquele contexto e a localização, de facto, não é a mais adequada para o que se pretende fazer”.

A lagoa das Sete Cidades vai acolher o “Concert for Earth”, a 22 e 23 de julho, com The Black Eyed Peas, Stone Temple Pilots e Pitbull, entre outros, para “celebrar o planeta de forma positiva”, numa iniciativa da produtora Atlantis Entertainment, liderada pelo músico Nuno Bettencourt.

“Dada a dimensão e o grande fluxo de pessoas que se espera com este evento, seria mais sensato realizá-lo numa zona mais urbana, nomeadamente no Parque Urbano da cidade de Ponta Delgada, porque tem área suficiente e tecnicamente é mais simples”, afirma o ambientalista.

As Sete Cidades são um geossítio do Geoparque Açores, Geoparque Mundial da UNESCO, e encontra-se classificada como massa de água protegida, através do Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Sete Cidades (POBHLSC), sendo ponto de paragem obrigatória para aves na sua migração entre as placas europeia e americana.

O ambientalista está convicto do sucesso do evento mesmo noutro local, referindo que estas iniciativas, “independentemente do sítio onde acontecem, se tiverem uma grande preocupação na sua programação e nas medidas implementadas”, podem ter “reduzido impacto, desde que haja uma estratégia bastante sólida em prol da sustentabilidade”.

Rui Coutinho, do núcleo de São Miguel da associação ambientalista Quercus, ressalva que a zona das Sete Cidades é habitada e tem uma atividade agropecuária “que é considerável”.

No seu entender, face à “realização de um evento com as caraterísticas do que agora se pretende, seguramente existiriam locais, na ilha de São Miguel, também muito interessantes e onde se produziria um impacto muito menor”.

Segundo o dirigente da Quercus, em causa estão as emissões de dióxido de carbono e o impacto sonoro e luminoso que “se farão sentir no ecossistema que ali existe”.

“A realização destes eventos é muito bem-vinda, mas no local apropriado, e a cratera das Sete Cidades não é objetivamente este local”, afirma Rui Coutinho.

O músico Luís Bettencourt, que integra a organização do evento, considera que estão reunidas as condições necessárias para salvaguardar o ambiente: "Foram muitas horas, muitos dias e meses a estudar, em conjunto com a Direção Regional do Ambiente, a forma mais correta de realizarmos este evento."

O músico açoriano refere que foram entregues estudos de impacto ambiental, um plano de prevenção e segurança, outro sobre a geologia e vulcanologia sumária da zona em causa, bem como um parecer relativo à fauna terrestre existente à beira da lagoa azul, junto ao Canto dos Carneiros.

Nuno Bettencourt, responsável pela promotora do evento, considera que mudar o festival de local "é um pouco ridículo porque terá exatamente o mesmo impacto na ilha", sublinhando que foi feito um estudo de impacto ambiental.

Fonte da Câmara Municipal de Ponta Delgada, concelho onde se localiza a freguesia das Sete Cidades, referiu, por seu turno, à agência Lusa que “o apoio do município é logístico” e que “a localização foi determinada pela organização e pelo Ambiente”.

O secretário regional do Ambiente e Alterações Climáticas, também em declarações à Lusa, referiu que foi exigido ao promotor do evento um conjunto de documentos, "incluindo uma avaliação ambiental e da capacidade de carga, mapas da zonas de estacionamento, um documento a comprovar que o festival é 'carbon zero', um levantamento topográfico, um mapa do festival".

Foi ainda exigido "um memorando de geologia e vulcanologia, um parecer elaborado da Universidade dos Açores, pelo Departamento de Biologia, e um plano de prevenção e de segurança".

"Após a análise rigorosa de toda a documentação, em 17 de maio de 2022 foi emitido um parecer positivo com condicionantes à sua realização, uma vez que o evento tem enquadramento em todos os normativos legais aplicáveis no local", esclarece.

O titular da pasta do Ambiente refere que o evento vai ser transmitido e visualizado "por milhões de pessoas" que terão a oportunidade de assistir a vídeos de projetos e ações ambientais em curso na região em termos de conservação da natureza e proteção ambiental, a par da divulgação das ações integradas nos cinco projetos "Life" em curso nos Açores, do geoparque, das reservas da biosfera e dos parques naturais de ilha.


PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados