Açoriano Oriental
Almoço de natal procura colmatar falta de afecto familiar dos utentes
Cerca de oitenta utentes da Associação Novo Dia estiveram ontem reunidos num almoço de natal em Ponta Delgada, numa festa em que houve lugar para prendas, música e convívio, e na qual a instituição de reinserção social procurou proporcionar uma tarde diferente a quem menos tem.

Autor: João Cordeiro

Com o objectivo de “colmatar a falta de afecto familiar, que nesta altura é muito sentida” pelos utentes da Associação Novo Dia, a instituição proporcionou um almoço de convívio durante o qual, apesar das dificuldades do dia a dia, houve lugar para sorrisos.
A intenção foi promover um contacto mais próximo com os utentes da associação, assim como a confraternização entre eles próprios, “numa altura em que estão mais sensíveis, porque a maioria não tem família, ou não vive junto da família”, explica Paulo Fontes, director da associação de reinserção social.
O almoço, que teve lugar no salão dos escoteiros do Grupo 80, da Associação dos Escoteiros de Portugal, em Ponta Delgada, juntou à mesa cerca de oitenta pessoas - um pouco menos do que as esperadas -, que ficaram com a barriga cheia e  que receberam afectos pouco frequentes.
Canja de galinha, lombo de porco assado, salada, fruta, bolo rei, arroz doce e mousse de chocolate fizeram as delícias de quem durante todo ano poucas vezes se pode dar ao “luxo” de ter uma refeição tão completa.
O Almoço, que contou com a presença do artista Carlos Galvão, “correu muito bem: os utentes portaram-se bem e gostaram. Conversaram, cantaram e dançaram”, refere Paulo Fontes.
No decorrer da iniciativa houve ainda tempo para distribuir presentes simbólicos pelos utentes, assim como para jogar bingo, também com direito a prémios.
Este ano, pela primeira vez, e ao contrário dos últimos anos, em que eram realizados três jantares separados - um por cada centro de acolhimento da associação - foi organizado um único almoço, que juntou todos os utentes, assim como vários sem abrigo de Ponta Delgada.

Balanço de 2008
Ao longo de 2008 a Associação Novo Dia ajudou cerca de 200 pessoas - homens, mulheres e crianças - através da prestação de apoio básico: acolhimento, alimentação, higiene e saúde.
Este trabalho é realizado por um profissional de medicina interna, um psiquiatra e uma equipa de rua que trabalha junto dos sem abrigo, apoiando-os e procurando tirá-los da rua.
Como principal ponto positivo do ano que agora termina, Paulo Fontes destaca o facto de o Fundo Social Europeu ter acreditado o Centro de Informação e Promoção de Políticas de Igualdade, da Associação Novo Dia, para dar formação profissional, salientando que estão agora em fase de candidatura diversos cursos na área da igualdade de oportunidades, assim como cursos para a qualificação dos utentes da instituição, e de entidades parceiras: grande objectivo para 2009.
Neste momento está também em preparação a abertura do quarto centro de acolhimento da Associação Novo Dia, o segundo para homens.
“As obras estão em curso e o centro deve abrir dentro de cerca de dois meses”, revelou Paulo Fontes, acrescentando que “este novo centro vai servir para separar os públicos”: aqueles que estão numa fase mais avançada de integração vão passar para o novo centro, enquanto que aqueles que ainda estão “desorientados e a consumir, com um pé na rua e outro no centro”, ficarão no outro centro de acolhimento.
Questionado sobre a evolução do número de casos de exclusão social grave, Paulo Fontes refere que “a crise afecta todos, mas afecta principalmente quem tem menos dinheiro”, acrescentando que “a pobreza está a aumentar e que há uma franja da classe média que está mesmo pelas pontas”, o que se nota no aumento de pedidos de ajuda que a associação recebe.
O responsável pela instituição acredita mesmo que “a face visível do problema - as pessoas na rua - só não tem aumentado, graças ao trabalho da Associação Novo Dia e de outras instituições similares.
No futuro, a instituição pretende criar uma valência de acolhimento prolongado e uma empresa de economia solidária. ||

Perigo de derrocada obriga a mudança

O centro de acolhimento para homens da Associação Novo Dia situado na freguesia de Santa Clara vai ser desocupado em breve devido ao perigo de derrocada que põe em risco todo o lado sul da Segunda Rua de Santa Clara, onde se situa. “Estamos a fazer tudo para sair de lá na próxima semana”, explica Paulo Fontes. A procura de novo espaço “não tem sido fácil” porque é necessário encontrar uma casa grande e com boas condições. O responsável pela instituição que apoia essencialmente pessoas com problemas de alcoolismo, toxicodependência, sem-abrigo, repatriados dos Estados Unidos da América e Canadá, assim como vítimas de violência doméstica garante, no entanto, que “há já uma casa em vista”, e estima que as mudanças comecem na próxima semana.

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