Autor: Miguel Bettencourt Mota
O projeto é da autoria Sasha Pohflepp e Chris Woebken e conta
com a particularidade de olhar às características do clima dos Açores, bem como
à respetiva história botânica.
Para tal, a dupla de artistas convidada a participar no
festival procurou o conhecimento de climatólogos portugueses, botânicos,
arquitetos e historiadores.
Em São Miguel, Sasha e Chris “conversaram com Isabel
Albergaria da Universidade dos Açores, que desenvolve trabalhos sobre as
quintas e jardins de São Miguel, falaram também com o Diogo Correia, arquiteto
paisagista, e com o Filipe Figueiredo, engenheiro florestal na SPEA”, disse a
este jornal a responsável pelo programa de conhecimento do Walk&Talk.
“Tentavam perceber como é que daqui a 80 anos o clima se
apresentará em São Miguel”, indicou Sofia Carolina Botelho, adiantando que a
conclusão a que chegaram foi a de que “os invernos serão muito mais chuvosos,
os verões mais secos e a temperatura subirá”.
Depois, prosseguiu a também diretora artística do evento,
trataram de plantar as espécies que “melhor se ajustarão” ao cenário de
alterações climáticas que está previsto.
Como tal, quem visitar aquele canteiro - localizado na
entrada sul do Parque Urbano e preparado para enfrentar os novos ‘humores do
clima’ em 2100 - vai poder vê-lo com plantas como “medronho, urze, festucas,
loureiro e pau branco”, deu nota Sofia Carolina Botelho.
Assume-se, assim, como uma pequena amostra do que poderá ser
a paisagem micaelense no dobrar do próximo século.
O projeto Declimatize incorporou o circuito de arte pública
da oitava edição do festival Walk&Talk.
Este ano, o circuito acabou por ficar desenhado também com as propostas artísticas Composaz, Daniel Rourke & Luiza Prado, Navine Khan Dossos, Shift Register - Jamie Allen & Martin Howse.
A proposta curatorial foi, entretanto, estabelecida pela
inglesa Dani Admiss, que “convida a olhar São Miguel, numa lógica de ilha
aberta e permeável a influências, assim como ponto de passagem de várias rotas,
as comerciais e mesmo as relativas aos pensamentos”, disse a diretora
artística.
Circuito de arte cruza ciência com a prática artística
Em grande parte do circuito de arte pública deste ano a
componente científica acaba por se cruzar com a prática artística. Isso mesmo
foi assumido por Sofia Carolina Botelho, que divide a direção artística do festival
com Jesse James.
“Foi um desafio e nós quisemo-lo. É nosso apanágio convidar
curadores diferentes todos os anos para tentar trazer novas referências ao
Walk&Talk”, afirmou a responsável pelo programa de conhecimento do evento,
entendendo ser essa “a melhor forma de perceber o que resulta em termos de arte
pública”.