Açoriano Oriental
Dia 28 setembro, no Teatro Micaelense
‘Uníssono’ questiona a individualidade e o nosso papel no coletivo

Victor Hugo Pontes, diretor artístico do espetáculo de dança contemporânea “Uníssono - Composição para cinco bailarinos” que será apresentado sábado, pelas 21h30, no Teatro Micaelense.

‘Uníssono’ questiona a individualidade e o nosso papel no coletivo

Autor: Carolina Moreira

“Uníssono - Composição para cinco bailarinos” será apresentado no próximo sábado, dia 28 de setembro, no Teatro Micaelense, no âmbito do Paralelo - Festival de Dança. Em que consiste este espetáculo de dança contemporânea?

Trata-se, como o nome indica, de um espetáculo dançado em uníssono por cinco bailarinos, ou seja, é como se fosse um solo, mas estão os cinco a dançar exatamente a mesma coisa, sendo que a nível de composição tanto podemos ver um como ver dois ou quatro, vai existindo diferentes configurações. É um espetáculo que não pretende, de todo, ter uma narrativa, mas sim fragmentos soltos de diversas possibilidades de narrativa. Claro que, olhando para o objeto, levantamos outro tipo de questões, temos cinco indivíduos a dançar exatamente a mesma coisa, numa primeira fase aparecem com identidades muito distintas e que, ao longo da peça, se vão transformando na mesma identidade. Acima de tudo, interessa questionar a ideia de identidade e a ideia de força ou poder que um grupo tem ou não, ou se nós nos salientamos no meio da multidão ou se somos absorvidos por ela. Conceptualmente, o espetáculo é muito simples, porque parte desta ideia de um uníssono e de uma composição para cinco bailarinos e é uma peça extremamente física, porque eles estão a dançar intensivamente durante cerca de uma hora. Levanta estas questões da própria identidade do coletivo ou do indivíduo, até que ponto é que nós perdemos a nossa identidade estando absorvidos no meio de um coletivo. Isto também nos remonta para a sociedade e para percebermos de que forma nos organizamos e, até que ponto, as nossas decisões vão tendo significados distintos de acordo com a forma como nos vamos agrupando em sociedade.

Qual é a mensagem que quer transmitir ao público?

A mim interessa mais questionar do que transmitir uma mensagem. Acho que é um momento de reflexão sobre o que somos, quem somos e como nos relacionamos com os outros. E ainda como é que perdemos ou evidenciamos a nossa identidade, porque cada vez mais temos a ideia de querer repetir o outro, de o copiar, e cada vez mais se perde esta ideia de individualidade. Isso para mim é muito interessante, porque mesmo nos cânones da dança, as aulas formatam os bailarinos para serem todos iguais e eu faço uma peça que, à partida, falha porque eu escolho cinco pessoas completamente distintas umas das outras para tentar pô-las a fazer exatamente a mesma coisa. Claro que elas nunca vão conseguir, mas são essas diferenças que me interessam, porque é aí que se encontram as individualidades.

Em Ponta Delgada, o espetáculo terá a participação de bailarinos açorianos?

O espetáculo estreou em 2016, é uma coprodução do Teatro Municipal do Porto com o Teatro São Luíz em Lisboa, já esteve a circular pelo país e agora será apresentado em Ponta Delgada. Os bailarinos são da formação inicial, menos o André Cabral que será substituído pelo Dinis Santos, até porque se trata de uma peça difícil de executar, tecnicamente é muito exigente e seria quase impensável fazer com outras pessoas.
O que vai acontecer é que estarei a dar uma ‘masterclass’ a bailarinos de São Miguel na própria manhã do espetáculo, em que vou estar a utilizar os pontos de partida usados no processo de composição da própria peça e aí, se as pessoas quiserem conhecer melhor o meu processo criativo, poderão ter essa possibilidade na ‘masterclass’.

E a música?

A música foi composta de propósito para este espetáculo e é do Hélder Gonçalves, compositor dos Clã. É muito rock, com muita guitarra elétrica e muito vibrante.

Como surgiu esta colaboração com o Paralelo?

Curiosamente, soube que quem organiza este festival também faz parte do Núcleo 37.25 com quem já trabalhei, em 2013. Confesso que me senti muito honrado até porque, junto com a Marta Silva Ferreira, fui o primeiro coreógrafo a criar para o núcleo. Agora poder voltar e colaborar num festival organizado por eles, faz-me sentir muito honrado.

Qual é a sua opinião sobre a existência deste festival de dança?

O Paralelo é mais um passo na afirmação da dança contemporânea nos Açores. É uma iniciativa extremamente importante para a formação do público e acho que a dança deveria estar na programação do Teatro durante o ano inteiro. O festival Paralelo passa a ser um marco da dança nos Açores, que depois é falado internacionalmente, porque também tem a ambição de trazer companhias internacionais ao arquipélago. De certa forma, trata-se de posicionar o festival também num contexto europeu e mundial.








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