Açoriano Oriental
Um em cada quatro namoros com violência
 Uma em cada quatro relações de namoro na adolescência é marcada por episódios de violência, revela um estudo da Universidade do Minho. À Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) chegaram este ano denúncias de meninas de 11 anos.

Autor: Lusa/AOonline
   "Insultos, estaladas, gritos, atirar e partir objectos, impedir ou controlar contactos com outros" são os actos mais relatados na tese de doutoramento sobre violência no namoro da psicóloga Sónia Caridade.

    De acordo com a investigadora da Universidade do Minho (UM), "25,4 por cento dos jovens foram vítimas, pelo menos uma vez, de um acto violento na relação".

    O estudo abrangeu 4.667 jovens entre os 13 e os 29 anos, mas à APAV já chegaram dois pedidos de apoio de crianças de 11 anos. No primeiro semestre de 2008, a associação recebeu seis denúncias, todas de raparigas, entre os 11 e os 17 anos.

    Um número "muito aquém da realidade, já que se trata apenas de quem decide fazer queixa", explicou à Lusa Rosa Saavedra, responsável da APAV. Destas seis vítimas, apenas duas mantinham ainda um relacionamento amoroso quando foram alvo de maus-tratos. A maioria queixou-se de agressões emocionais, a principal forma de violência no namoro.

    De acordo com o estudo da UM, um em cada cinco jovens reconheceu ter sido vítima de comportamentos emocionalmente abusivos, apesar de a maioria "não perceber esta forma de violência como inadequada", lembra Carla Machado, orientadora da tese. Actos de controlo por parte do companheiro ainda são vistos como manifestações de ciúme e confundidos com "provas de amor".

    Muitas vezes, a noção de gravidade do acto está condicionada a ocorrer ou não num local público, explica Carla Machado: "Os insultos são tomados como uma brincadeira, mesmo sendo muito humilhantes e recorrentes. Mas quando acontecem em frente a outras pessoas passam a ser mais valorizadas".

    Segundo as investigadoras, também os comportamentos físicos abusivos são muitas vezes desculpabilizados. "Não quer dizer que eles os percebam como correctos mas não lhes atribuem grande gravidade ou valoração", lamentou Carla Machado. O estudo revela existirem "18 por cento de jovens vítimas deste crime", lembrou Sónia Caridade.

    Já quando se fala em "murros, sovas e pontapés e ameaças com armas, todos os jovens percebem que isto é inadequado", lembrou a orientadora do estudo que detectou existirem 6,7 por cento de jovens alvo destes comportamentos.

    Pelo cruzamento dos dados é possível perceber que muitos destes actos são isolados, "acontecem uma ou duas vezes", mas existe também "um número substancial de jovens que relatam várias formas de violência", acrescenta.

    Sobre os agressores, os números são ainda mais elevados, já que 30,6 por cento dos inquiridos admitiram ter sido responsáveis por actos de violência. Segundo Sónia Caridade, um em cada cinco assumiu ter exercido abuso emocional, mas também há muitos casos de violência física (13,4 por cento). A psicóloga sublinha ainda que 7,3 por cento dos inquiridos reconheceu mesmo ser autor de actos de "violência física severa".

    Outro dos temas abordados, mas não tão aprofundado na tese, foi a violência sexual: "A não ser quando ela envolve actos de maior gravidade, esta não é percebida pelos jovens como forma de violência", garantiu Carla Machado, dando como exemplo situações de "pressão, coacção ou carícias indesejadas" que tendem a ser desvalorizadas.

    Estudos internacionais indicam que há uma tendência para que esses comportamentos agressivos se agravem ao longo do tempo. Segundo Carla Machado, apenas "um pequeno grupo de vítimas põe fim a estas situações". A esperança de conseguir mudar a outra pessoa permite muitas vezes que estas histórias se prolonguem no casamento.
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