Açoriano Oriental
UE à espera de conhecer copiloto de Scholz na locomotiva franco-alemã

A União Europeia aguarda com expectativa as eleições presidenciais de abril de 2022 em França para conhecer quem dirigirá juntamente com o novo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, o eixo franco-alemão, ‘motor’ do projeto europeu.

UE à espera de conhecer copiloto de Scholz na locomotiva franco-alemã

Autor: Lusa/AO Online

As eleições de setembro passado na Alemanha ditaram já uma mudança de fundo, pois não só marcaram o fim da ‘era’ de Angela Merkel, chanceler e figura de proa da UE durante os últimos 16 anos, que deixou a vida política ativa, como resultaram numa mudança de ‘cores’ partidárias no mais poderoso Estado-membro da União, com um novo governo de coligação liderado pelos sociais-democratas do SPD, de Scholz.

Mas se a mudança na Alemanha não acarreta inquietações no seio da UE, pois os três partidos da coligação (SPD, Verdes e liberais do FDP) são declaradamente pró-europeus e tudo aponta para uma política de continuidade – aliás, Scholz era o vice-chanceler na última coligação liderada por Merkel (2018-2021) -, já as eleições em França suscitam alguma ansiedade, uma vez mais face ao risco de uma hipotética vitória de um candidato de extrema-direita e eurocético.

Tal como em atos eleitorais anteriores em França, as sondagens apontam para fortes resultados da extrema-direita, que desta feita até tem dois ‘candidatos a candidatos’ de peso, pois, além da líder da União Nacional (antiga Frente Nacional), Marine Le Pen, surgiu o controverso escritor Éric Zemmour, que, de acordo com as mais recentes consultas, terá até mais possibilidades de disputar uma segunda volta do que Le Pen.

No entanto, se prevalecer a ‘lógica’, também a França permanecerá um Estado-membro europeísta em 2022, restando saber quem ocupará o Palácio do Eliseu, com as sondagens a apontarem a reeleição de Emmanuel Macron como o cenário mais provável, o que não colocaria em causa a dinâmica do ‘motor’ franco-alemão, ainda mais relevante na ‘engenharia’ da UE desde a saída do outro ‘peso pesado’ do bloco europeu, o Reino Unido, em 2020.

Curiosamente, a campanha eleitoral francesa e o ato eleitoral terão lugar em plena presidência francesa do Conselho da UE, no primeiro semestre de 2022, fator adicional para Macron fazer dos temas europeus uma ‘bandeira’.

Num sinal inegável do comprometimento de Scholz e de Macron com a continuação da aliança franco-alemã para fazer avançar o projeto europeu, Paris foi a primeira capital visitada pelo novo chanceler, a 10 dezembro, menos de 48 horas após a sua eleição, e mesmo antes de Bruxelas, onde se deslocou no mesmo dia, mas já depois do encontro com o Presidente francês no Eliseu.

Na ocasião, Macron disse que a primeira troca de impressões com Scholz refletiu “uma sólida convergência de pontos de vista" e "um desejo” dos dois países de trabalharem em conjunto, enquanto o chanceler garantiu que a Alemanha vai assumir “a sua responsabilidade” no projeto europeu e não vai limitar-se a assistir.

Mas mesmo num cenário de ‘normalidade’, ou seja, de derrota das forças anti-UE nas eleições francesas de abril, o eixo franco-alemão vai ser posto à prova em algumas matérias de extrema importância da política europeia, onde os pontos de vista de Paris e Berlim nem sempre são absolutamente convergentes.

Em pelo menos três matérias, França e Alemanha terão de aproximar posições, a começar pela reforma das regras de governação económica e disciplina orçamental, que deve ser concluída em 2022, de modo a aplicar-se a partir do início de 2023.

Nesta data está prevista a desativação da cláusula de flexibilidade das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, designadamente os limites de défice e dívida pública, para permitir aos Estados-membros fazer face à crise provocada pela covid-19.

Paris é muito mais defensora de uma reforma profunda das regras de disciplina orçamental, que continua a ser muito cara a Berlim, mesmo com um Governo liderado pelo SPD.

Outras duas questões nas quais são evidentes as divergências entre França e Alemanha são a energia nuclear – o desígnio defendido por Macron de fazer do nuclear um pilar na estratégia de descarbonização no quadro da transição ecológica não é nada bem acolhido pelos alemães, e sobretudo pelos Verdes, agora no poder -, e a visão sobre a autonomia estratégica e futura política de Defesa da UE, que Paris quer bem mais ambiciosa do que Berlim.

De todo o modo, se Macron for efetivamente confirmado em abril como o copiloto de Scholz na locomotiva franco-alemã, a generalidade dos analistas aposta na “continuidade” da boa cooperação entre França e Alemanha no plano europeu ao longo dos próximos anos, que se tem revelado indispensável para fazer avançar o projeto europeu.


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