Açoriano Oriental
Tribunal inicia julgamento de advogada nos Açores sem presença de arguida

O Tribunal Judicial de Ponta Delgada, Açores, iniciou esta sexta-feira, o julgamento de uma advogada acusada de um crime de abuso de confiança, praticado no exercício da sua profissão, mas sem a presença da arguida que apresentou um atestado médico.

Tribunal inicia julgamento de advogada nos Açores sem presença de arguida

Autor: Lusa/AO Online

O início do julgamento deste caso tem sido sucessivamente adiado e a advogada em causa está acusada de ter ficado com parte do valor de uma indemnização dos seus clientes, num processo que envolve três pescadores do Pico abalroados em 2004 por um navio da National Geographic.

Os pescadores, que foram resgatados, viriam a ser indemnizados pelo armador, mas a advogada que os defendia terá ficado com grande parte do dinheiro.

Já em maio deste ano, o Tribunal da Relação de Lisboa indeferiu o pedido de recusa da juíza formulado pela advogada.

A arguida nunca compareceu em nenhuma audiência de julgamento agendada e hoje voltou a não estar presente, apresentando um atestado.

No entanto, a juíza notificou a médica subscritora da baixa médica apresentada hoje para esclarecer "a doença de que padece a arguida", tendo em conta "os sucessivos atestados que a advogada tem apresentado".

Ainda assim, a advogada da arguida garantiu que esta “não prescinde do direito de prestar declarações" numa eventual segunda audiência de julgamento que possa ser marcada.

Hoje, na primeira audiência de julgamento, o Tribunal prescindiu do testemunho de um dos pescadores lesados que seguia no barco porque este não estava com capacidade para prestar declarações, tendo sido afetado por um AVC.

Contudo, a sua mulher sublinhou ao tribunal que o marido continua "muito perturbado com tudo", admitindo que o homem tenha sofrido um AVC "devido às preocupações" relacionadas com a indemnização "a que tinha direito, mas que não recebeu na totalidade, tal como sucedeu com o filho", que era o proprietário da embarcação.

“Imploro que façam justiça”, sustentou a testemunha, alegando que o marido e um filho assinaram uma procuração "várias vezes pressionados" pela arguida, que alegava estar "a negociar".

De acordo com a testemunha, em 2014, a família "acabou por ter conhecimento de que a arguida tinha ficado com parte da indemnização" e foi aí que decidiram avançar com uma queixa no tribunal.

Emocionada, a mulher do pescador lesado disse ainda que a situação "afetou" a vida financeira do agregado familiar que esteve "sem um escudo para comer".

Acabariam mais tarde, por comprar, "com a ajuda da família", uma "lancha de menores dimensões", mas viram "diminuir" os rendimentos familiares.

Ao tribunal, o filho mais novo disse recordar-se do acidente porque seguia na embarcação de pesca com o pai, assegurando que "foi uma sorte" o salvamento.

“Tinha 17 anos. Eu estou vivo e já não ligo muito ao dinheiro, mas os meus pais têm passado muito com esta situação. São 15 anos de sofrimento”, reforçou.

Aquela testemunha referiu que a arguida "inventava desculpas atrás de desculpas" quando era questionada sobre as indemnizações e que alegava que "as procurações eram para as negociações".

"A minha mãe estava sempre a ligar para ela, mas ela dizia que estava a negociar", contou.

Já o irmão que era proprietário do barco abalroado "está preso no Peru por tráfico de droga", o modo que encontrou para "tentar arranjar dinheiro para a família", afirmou a testemunha, acrescentando que o irmão "nunca chegou a receber os 80 mil euros a que tinha direito".


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