Autor: Lusa/AO online
Para realizar o trabalho, a organização não-governamental (ONG) Freedom House juntou, entre junho e outubro, 27 “grupos de discussão”, que incluíam sul-africanos de todos os grupos raciais e níveis de rendimento, do meio rural e urbano.
No relatório “Vinte anos da democracia sul-africana”, a ONG com sede nos Estados Unidos refere que “os sul-africanos encaram os seus direitos humanos como um dado adquirido e mantêm a crença no sistema democrático, com um forte apoio à votação”.
A Freedom House constatou, por outro lado, que existe “considerável cinismo acerca do governo e dos políticos” e que “os cidadãos veem as instituições legislativas como fracas (…) e corruptas”, embora o descontentamento não se reflita no Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder desde 1994.
Prevalece “um profundo sentimento de identificação com o ANC”, visto como o movimento que libertou o país do ‘apartheid” e que transformou a sociedade em termos raciais.
“Os sul-africanos sabem que os seus líderes foram enriquecendo, no entanto, acreditam que, se um novo partido chegar ao poder, os novos líderes podem também começar a acumular riqueza, afastando ainda mais os cidadãos dos ganhos do sistema democrático”, indica-se no relatório.
O partido que deu o primeiro presidente negro à África do Sul (Nelson Mandela, que morreu no passado dia 05) “criou um monopólio em relação às associações com a libertação”, adianta a organização.
O principal partido da oposição, a Aliança Democrática (AD), é referido “como uma reminiscência do passado racial” e, ainda que o considerem “bom como partido de oposição”, os participantes nos grupos de discussão revelam dúvidas quanto à possibilidade de o passado voltar se lhe derem o seu voto.
Se a liberdade política é considerada um facto, são “poucos – sobretudo entre os negros – os que conseguem ver mudanças positivas ao nível da educação, saúde, serviços básicos e apoios sociais” e a maioria aponta falhas a todos estes serviços, que alguns consideram muito deficientes.
“Os participantes também exprimiram a ideia de que os que têm ligações políticas e os que não têm não são iguais perante a lei”, indica a Freedom House, que refere ainda “uma extrema falta de confiança na polícia, alimentada pela criminalidade desenfreada”.
O relatório sublinha, no entanto, que a “desilusão da maioria dos cidadãos em relação às instituições do governo democrático e às elites políticas não significa que repudiem as eleições”.
“Alguns vão votar para mudar a situação (…) Outros votam no ANC para proteger a vitória de 1994. Também apoiam o ANC numa homenagem ao que veem como a democracia virtuosa de Mandela”, assinala a ONG.