Autor: Sara Lima Sousa
David Rodrigues tem 51 anos e é natural da ilha do Pico, embora sublinhe: “sou natural de todo o sítio onde me deixam ficar”.
Desde cedo, enquanto ainda andava na escola, surgiu o interesse pela fotografia através de “uma coisa tão caricata como o cheiro dos químicos”, nos dias em que tirava as fotografias para a matrícula do ano letivo.
O momento em que as fotografias apareciam no material era algo que fascinava o agora fotógrafo. “Era mágico, quase”, recorda.
Durante os estudos, no ensino secundário, “embora desenhasse muito mal, tinha atenção ao pormenor”, aspeto este que impulsionou ainda mais o seu interesse pelas artes fotográficas, pela sua relevância na área.
No início da sua trajetória, o açoriano recorda-se de ir até à ilha do Faial, porque não havia laboratórios no Pico, para revelar fotografias. Para ele, aquilo era “surreal”.
Foi aos 17 anos que foram dados os primeiros passos na sua formação em fotografia, quando entrou para a Marinha de Guerra Portuguesa, em Lisboa, onde foi militar, de 1992 a 2001.
Nessa altura, durante três anos da sua estadia na capital, frequentou um curso extracurricular em fotografia, como formando, uma vez que era permitido por aquela instituição militar. E foi aí que começou a dedicar-se a essa vertente artística.
“A verdade é que esta fase foi só o princípio. A parte académica é importante, mas houve algumas partes no meio do meu percurso que me ensinaram muito mais do que a componente académica em si”, realça.
Por volta de 1994, quando ainda era militar, foi ajudante de fotógrafo, acompanhando fotógrafos que iam para casamentos realizar reportagens sociais.
Para além disso, fez parte do seu percurso um estágio “num grande clube de Portugal”, que lhe possibilitou alguns conhecimentos a nível de fotografia de desporto, que mais tarde vieram a ser “bastante importantes”.
Depois de alguns anos em Lisboa, voltou aos Açores e mudou-se para a ilha de São Miguel, onde conheceu a sua esposa e reside hoje. David Rodrigues lembra-se da primeira vez que visitou São Miguel, em criança.
“O meu pai era pescador na faina do atum e eu escondia-me dentro das traineiras e corria todas as ilhas dos Açores com ele”, conta. Foi aí que começou a sua conexão com o mar.
Esta atividade, de que “gostava muito”, é a primeira prova dessa ligação, que originou o gosto ainda muito presente de David Rodrigues em percorrer as ilhas açorianas.
A carreira em fotografia, a nível profissional, começa em São Miguel, com as oportunidades que foram aparecendo. “Houve quem acreditasse em mim e quem não acreditasse.
Faz parte do processo”, relata. Tudo começou em laboratórios de fotografia: primeiro, em Vila Franca do Campo, onde esteve dois anos, seguindo-se outro laboratório em Ponta Delgada. Trazia o conhecimento académico, que foi “posto em prática”, mas grande parte da sua aptidão é fruto da experiência que adquiriu nessa época, a trabalhar com outras pessoas com mais anos de carreira, a partir das quais “assimilou tudo” o que pôde. “Enquanto alguns gastavam um filme fotográfico ao metro, eu gastava ao quilómetro”, aponta sobre a sua dedicação ao processo de aprendizagem. Ainda assim, reconhece a importância da parte académica, que lhe “abriu os horizontes”.
Depois, durante algum tempo, colaborou com a comunicação social, a nível regional e nacional, enquanto ‘freelancer’. Trabalhou à peça para quase todos os jornais de São Miguel, inclusive o Açoriano Oriental, e para grupos editoriais no continente português.
Com a crise de 2008, “tudo abana” e o açoriano vê-se obrigado a ponderar o que poderia fazer a seguir com a máquina fotográfica. “A vida obriga-nos a ser polivalentes”, confessa.
“Esta ligação ao mar que eu tenho, que é quase embrionária”, dava-lhe a capacidade para fazer “aquilo que poucos conseguiam fazer”, acrescenta.
É nesse período temporal que regressa ao primeiro plano a sua conexão com o mar, e acaba por se juntar à sua atividade profissional, através de uma empresa açoriana de pesca desportiva.
As suas tarefas consistiam em entrar dentro da embarcação e fotografar os clientes em ação. No fim, tentava vender-lhes as fotografias que tinha tirado. Ao mesmo tempo, acontecia o ‘boom’ nas redes sociais e David Rodrigues tentava também promover a empresa, o que “surtiu efeito”.
Passados seis anos, em 2017, surgiu a oportunidade de trabalhar na Futurismo, empresa em que exerce a profissão de fotógrafo interno até à data. “Pelo meio, o que há são algumas dezenas de milhares de fotografias”, afirma.
Além disso, também desempenha funções de ‘skipper’ e marinheiro na empresa em que trabalha há oito anos.
Hoje em dia, lida “de uma forma muito próxima com a natureza”, numa empresa que tem uma “projeção mundial”, refere. Estes aspetos permitem com que todos os dias sejam “diferentes”, na ótica de David Rodrigues. “Fotografar seres diferentes, com comportamentos díspares. Tudo isso é desafiante”, destaca o açoriano. Por outro lado, considera que aprende com os mais novos e espera que aprendam com ele também. “Há sempre uma aprendizagem constante”, admite.
Para além da carreira fotográfica, a fotografia é também um escape para o picoense, que confessa gostar de “pegar na mota e sair com equipamento mínimo para fazer fotografia em terra”. David Rodrigues gosta de explorar e descobrir horizontes, com equipamentos como drones e câmaras de ação.
“Se conseguir mostrar às outras pessoas que vivo num paraíso e que elas conseguem usufruir dele da mesma forma que eu consigo, já é muito bom”, sustenta ainda.
É adepto do improviso e considera “extremamente gratificante pensarmos que esse momento fez parte da vida de alguém e da nossa também”, confessa David Rodrigues. Mas como repara o também homem do mar: “enquanto era pequeno, andava longe de pensar que ia ser fotógrafo. Quando era rapaz, só queria ser grande”.