Açoriano Oriental
Ceramista açoriana vence Prémio Nacional de Artesanato

Descobriu o gosto pela cerâmica há apenas três anos, e já com 51 anos de idade, depois de frequentar uma formação de Cerâmica no Museu Carlos Machado, orientada pelo ceramista Delfim Manuel.


Autor: Paula Gouveia

Licenciada em Artes Plásticas pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, e com uma pós-graduação em Design do produto - Joalharia pela Escola Superior de Arte e Design, Isabel Silva Melo não tinha até então equacionado a vertente da cerâmica, embora já se dedicasse há dois anos ao artesanato na arte de elaborar Presépios de Lapinha, e depois Registos do Senhor Santo Cristo dos Milagres, acumulando com a docência no Ensino Secundário.
É, desde maio de 2017, artesã certificada na área da cerâmica figurativa, tendo, desde essa altura, recebido convites e participado em feiras e exposições.
Vê agora reconhecido este percurso, iniciado há três anos, com a atribuição do Prémio Empreendedorismo Novos Talentos, do Prémio Nacional de Artesanato.
“O meu sonho é um dia dedicar-me exclusivamente à paixão que desconhecia - o Barro”, confessa Isabel Silva Melo que sublinha que “o Prémio é para mim alegria e alento para as 12 a 16 horas que trabalho todos os dias”.
A artesã explica que, “desde o início do meu trabalho como ceramista optei por fazer apenas, peças únicas”, ou seja, “únicas não devido ao processo ser artesanal, em que todas as peças se enquadram de algum modo nessa característica, mas, por serem assumidamente, do ponto de vista formal, do conceito e da contextualização completamente distintas umas das outras”.
“No ano passado, fiz representações de Santo António dedicadas ao Sermão aos Peixes do padre António Vieira e outra às festas de Lisboa, e, na série dedicada ao ‘Sermão aos Peixes’ fiz 10 peças completamente distintas; e na série dedicada às Festas de Lisboa, fiz cinco peças também elas completamente diferentes:”, exemplifica.
A artesã procura abordar, desde o início, temas relacionados com a representação dos costumes, cultura/representações religiosas das ilhas - “temas esses que na representação da cerâmica figurativa se estão a perder, e em alguns casos não existiam, de todo, na Região”, salienta. Cada peça vai por isso acompanhada de uma ficha técnica, com textos seus e da representante do núcleo de etnografia do Museu Carlos Machado, para “divulgar todo o imaginário açoriano, contextualizar as minhas peças, e contar a história subjacente à peça”.
Isabel Silva Melo desenvolveu ainda um diversificado trabalho sobre as representações de caráter religioso mais universal e algumas representações tridimensionais dedicadas a pintores que aprecia. “Não efetuo a reprodução do quadro do pintor, a Pintura é apenas a referência, pois gosto mesmo é de recriar o quadro, chegando nalgumas situações, a ficar apenas, a posição da figura, o contexto ou mesmo um sorriso ou a expressão da figura representada”, explica.
Trabalha ainda “temas de caráter não religioso, ligados à literatura, poesia, questões de ordem política e social que estão muito ligados à minha participação no Colectivo 18, ou encomendas especiais e desafios que me são propostos”, revela, salientando que trabalha sem moldes.
Todas as suas peças vão em embalagens recicláveis, manufaturadas e personalizadas para cada peça pelo artesão/designer Vítor Marques.

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