Autor: Paula Gouveia
Licenciada em Artes
Plásticas pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, e com uma
pós-graduação em Design do produto - Joalharia pela Escola Superior de
Arte e Design, Isabel Silva Melo não tinha até então equacionado a
vertente da cerâmica, embora já se dedicasse há dois anos ao artesanato
na arte de elaborar Presépios de Lapinha, e depois Registos do Senhor
Santo Cristo dos Milagres, acumulando com a docência no Ensino
Secundário.
É, desde maio de 2017, artesã certificada na área da
cerâmica figurativa, tendo, desde essa altura, recebido convites e
participado em feiras e exposições.
Vê agora reconhecido este
percurso, iniciado há três anos, com a atribuição do Prémio
Empreendedorismo Novos Talentos, do Prémio Nacional de Artesanato.
“O
meu sonho é um dia dedicar-me exclusivamente à paixão que desconhecia -
o Barro”, confessa Isabel Silva Melo que sublinha que “o Prémio é para
mim alegria e alento para as 12 a 16 horas que trabalho todos os dias”.
A
artesã explica que, “desde o início do meu trabalho como ceramista
optei por fazer apenas, peças únicas”, ou seja, “únicas não devido ao
processo ser artesanal, em que todas as peças se enquadram de algum modo
nessa característica, mas, por serem assumidamente, do ponto de vista
formal, do conceito e da contextualização completamente distintas umas
das outras”.
“No ano passado, fiz representações de Santo António
dedicadas ao Sermão aos Peixes do padre António Vieira e outra às festas
de Lisboa, e, na série dedicada ao ‘Sermão aos Peixes’ fiz 10 peças
completamente distintas; e na série dedicada às Festas de Lisboa, fiz
cinco peças também elas completamente diferentes:”, exemplifica.
A
artesã procura abordar, desde o início, temas relacionados com a
representação dos costumes, cultura/representações religiosas das ilhas -
“temas esses que na representação da cerâmica figurativa se estão a
perder, e em alguns casos não existiam, de todo, na Região”, salienta.
Cada peça vai por isso acompanhada de uma ficha técnica, com textos seus
e da representante do núcleo de etnografia do Museu Carlos Machado,
para “divulgar todo o imaginário açoriano, contextualizar as minhas
peças, e contar a história subjacente à peça”.
Isabel Silva Melo
desenvolveu ainda um diversificado trabalho sobre as representações de
caráter religioso mais universal e algumas representações
tridimensionais dedicadas a pintores que aprecia. “Não efetuo a
reprodução do quadro do pintor, a Pintura é apenas a referência, pois
gosto mesmo é de recriar o quadro, chegando nalgumas situações, a ficar
apenas, a posição da figura, o contexto ou mesmo um sorriso ou a
expressão da figura representada”, explica.
Trabalha ainda “temas de
caráter não religioso, ligados à literatura, poesia, questões de ordem
política e social que estão muito ligados à minha participação no
Colectivo 18, ou encomendas especiais e desafios que me são propostos”,
revela, salientando que trabalha sem moldes.
Todas as suas peças vão
em embalagens recicláveis, manufaturadas e personalizadas para cada
peça pelo artesão/designer Vítor Marques.