Autor: Ana Carvalho Melo
Em nota enviada à comunicação social a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), parceiro do projeto EELabs nos Açores e na Madeira, explica que entre as aves afetadas pela poluição noturna nos Açores se destaca o cagarro, motivo pelo qual anualmente se realiza a campanha SOS Cagarro durante a qual são resgatados os juvenis de cagarro, mas também os exemplares mais jovens de pardelas e painhos.
“Quando estas aves abandonam o ninho, ficam desorientadas, o que pode levar à colisão contra infraestruturas, serem atropeladas, tornarem-se presas de cães e gatos e até perecerem por desidratação”, é destacado.
Mas a
poluição luminosa interfere ainda na observação astronómica, nos
ecossistemas e até nos próprios ciclos circadianos (que controlam o
sono) humanos. Por isso, a SPEA recorda que é essencial a adoção de uma
iluminação pública adequada, que tenha em conta a eficiência energética,
mas também o impacto na biodiversidade.
Face a estas problemáticas
surge o projeto EELabs que visa maximizar a eficiência energética das
novas tecnologias de iluminação – principalmente, os LED - ao mesmo
tempo que se minimiza o efeito da poluição luminosa na luminosidade do
céu e nos ecossistemas naturais da Macaronésia.
Para tal, este projeto vai propor atividades para adquirir um conhecimento profundo da iluminação com LED assim como, dos ecossistemas naturais macaronésicos para atingir um crescimento sustentável onde o aumento da luminosidade, consequência do desenvolvimento económico, não comprometa os espaços naturais devido ao aumento excessivo da poluição luminosa.
Neste âmbito será medida a escuridão das noites de, pelo menos, cinco ilhas macaronésicas, através de equipamentos autónomos e não invasivos chamados fotómetros. A instalação destes sensores iniciou-se no passado mês de julho na ilha de Tenerife e La Palma. Ainda este ano serão feitos os primeiros testes na ilha do Corvo e no município de Santa Cruz na Madeira. “Os principais objetivos de EELabs são medir a contaminação luminosa dos ecossistemas naturais protegidos da Macaronésia através de laboratórios de poluição luminosa; criar um mínimo de quatro experiências de poluição luminosa com o objetivo de averiguar como se propaga a luz artificial noturna; envolver os mais jovens na procura de soluções e criar e aplicar legislação nos municípios que participarão do projeto, para proteger os ecossistemas noturnos”, enumera Miquel Serra-Ricart, astrónomo do IAC - Instituto de Astrofísica de Canarias e coordenador do projeto.
A SPEA realça, no entanto, que já existem nos
Açores exemplos de boas práticas, nomeadamente na ilha do Corvo, que
foi a primeira a realizar um apagão em 1991, tem realizado apagões em
áreas críticas durante a Campanha SOS Cagarro e, no ano passado,
realizou um apagão geral por uma noite. Além disso, o município do Corvo
e a EDA irão proceder à substituição da iluminação pública de toda a
ilha seguindo as diretrizes do Guia de Boas Práticas para a Poluição
Luminosa desenvolvida no projeto Interreg LuminAves. O EELabs é
financiado através do programa Interreg MAC 2014-2020.