Autor: Lusa/AO online
“A situação tem a ver com a grande estratégia norte-americana. O ciclo que foi iniciado com o 11 de Setembro de 2001, muito intenso do ponto de vista militar, está a chegar ao fim. Há uma série de opções que estão a ser feitas e que apontam claramente para um menor número de operações militares”, referiu em declarações à Lusa.
Na perspetiva de Miguel Monjardino, professor no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica e especialista em relações euro-atlânticas, os EUA estão a intensificar o planeamento militar “na faixa que vai do Médio Oriente, Golfo Pérsico, para a Ásia-Pacífico”, o que significa que “o Atlântico e a Europa não são agora uma prioridade estratégica” para Washington.
Em 19 de novembro, o Governo dos EUA informou os responsáveis portugueses sobre a recente ratificação, pelo secretário da Defesa, de uma proposta da Força Aérea norte-americana que prevê uma forte redução da dimensão da sua presença na base aérea nº 3 das Lajes.
A decisão não surpreendeu o académico, que a interpreta como “o final de um processo longo, o final de um processo burocrático” com pelo menos dez anos.
“O que me deixa surpreendido na reação nacional é a surpresa com que a medida foi recebida”, frisa.
“Existe um documento publicado em março de 2009 onde está tudo explicado em pormenor. É público, foi elaborado pelo Air Mobility Command (Comando de Mobilidade Aérea, AMC), que estudou os fluxos logísticos norte-americanos na sua rede de bases” porque “quem não tem logística não tem poder militar”.
Nessa ocasião, o AMC testou a rede logística norte-americana recorrendo ao avião C17-A, “um ‘cavalo logístico”, com uma carga de cerca de 40 toneladas e sem depósitos de combustíveis adicionais.
As conclusões revelaram que o raio de ação máximo do aparelho se fixava entre o norte da Argélia, norte de Itália, até ao limite entre a Europa central e de leste. Um raio que atingia as “seis bases aéreas” que os norte-americanos possuem na Europa, duas na Alemanha, duas em Inglaterra e duas em Espanha.
“Há três rotas para abastecer o Atlântico, a rota norte, a centro e a sul. Os EUA precisam de duas rotas sempre operacionais. A rota norte é dominada pela base norte-americana de Ramstein, na Alemanha, e a rota central é dominada por Morón e Cádis, em Espanha”, sublinha o investigador.
“O papel das Lajes, segundo este documento que está publicamente disponível, é apoiar o trânsito na rota central. Isto quer dizer que na classificação norte-americana, onde o nível 1 é o mais importante e o nível 4 o menos importante, as Lajes estão agora entre o ponto 3 e o 4”, especifica.
Esta avaliação foi feita após a reorganização dos comandos militares norte-americanos, que segundo Miguel Monjardino foi iniciada “há dez anos”, e abrangeu os Açores.
“Os Açores, que faziam parte da defesa avançada dos Estados Unidos, passaram nessa altura para a área do comando europeu, juntamente com a Islândia e a Gronelândia”.
Em 2004, um documento do então secretário da Defesa Donald Rumsfeld propunha uma revisão de toda a postura militar norte-americana em função das necessidades operacionais pós-11 de Setembro.
“No meio de muitas coisas, o que ficou claro nesse documento foi a redução muito substancial das bases a que chamavam ‘Little Americas’, as grandes bases norte-americanas que tinham tudo. Na altura optaram pelas designadas ‘bases espartanas’, as chamadas ‘gas and go’ [abastecer e sair]”, sublinha Monjardino.
Nas Lajes, ocorre assim a “transição da ‘Little America’ para uma ‘base espartana’. O plano aponta para 160 homens, e depois a manutenção de toda a estrutura de combustíveis, porque se for necessário reativam a base em 48 horas. É o final de um processo longo, não o considero uma surpresa”, conclui o académico.
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