Açoriano Oriental
Análise do risco sísmico em debate
Proposto levantamento nacional sobre comportamento das construções
O especialista em engenharia sísmica Raimundo Delgado defendeu hoje, no Porto, a realização de um levantamento nacional que permita conhecer o comportamento das construções perante um eventual sismo.
Proposto levantamento nacional sobre comportamento das construções

Autor: Lusa / AO online

"É fundamental definir um conjunto de metodologias adequadas que permita caracterizar o parque construído e criar incentivos que possibilitem, aos privados, reforçar o seu património edificado", propôs o especialista da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Em declarações à Lusa a propósito do Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica, que decorre até sexta-feira, no Porto, Raimundo Delgado disse que a ocorrência de um sismo de grande magnitude em Portugal "é inevitável, só não se sabe quando ocorrerá".

"Em Portugal, os sismos são muito espaçados no tempo, o que agrava a percepção deste risco", alertou o especialista, considerando que, se tal acontecesse no imediato, "não se sabe o que aconteceria, porque se desconhece as condições de segurança do parque construído".

Contudo, Raimundo Delgado manifestou-se convencido de que, perante tal cenário, "não se espera que cidades sejam arrasadas".

"É garantido, porém, que as 'avarias' serão muitas e que alguns prédios poderão colapsar, o que implicará elevadas verbas para reparação e reconstrução", disse.

Citou, como exemplo, o último sismo ocorrido na cidade norte-americana de Los Angeles, que, apesar de preparada para estas ocorrências, gastou em reconstrução o equivalente a "uma vez e meia o Produto Interno Bruto português".

"Terá de existir em Portugal vontade política para criar medidas tendentes a reduzir as consequências de uma eventual ocorrência sísmica, criando medidas e incentivos para mobilizar instituições e privados a investir no reforço físico do seu património", frisou.

Actualmente, segundo o especialista, existe em Portugal legislação anti-sísmica, mas não existe fiscalização adequada, não havendo, por isso, como prever os prejuízos causados por um sismo em Portugal.

"Existe regulamentação, mas não há fiscalização a nível do projecto e obra para avaliar eventuais carências de segurança, que poderão estar a acontecer", frisou.

Na opinião do especialista, o ideal seria que este problema fosse considerado de resolução prioritária e fosse criado um programa de acção que permitisse fazer o levantamento do parque habitacional até à execução dos trabalhos de reforço.

"Esperamos que o próximo quadro comunitário de apoio direccione verbas para áreas desta natureza", disse.

Para diminuir a incerteza relativamente aos novos projectos, e já que as autarquias não têm capacidade para fiscalizar todos os aspectos relativos a estruturas, este especialista defende um sistema aleatório de revisão em pormenor de propostas seleccionadas e a criação de um "certificado de qualidade" dos edifícios.

A vulnerabilidade das infra-estruturas na zona da Grande Lisboa, a análise do risco sísmico em Portugal Continental ou a eventual fragilidade dos edifícios hospitalares em casos de sismos são alguns dos temas que estão em debate na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

A sétima edição do "Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica - Sísmica 2007" decorre até sexta-feira na FEUP, reunindo alguns dos melhores especialistas nacionais e internacionais na matéria.

O evento é organizado em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica.

Neste congresso, as apresentações dos vários temas e as posteriores discussões têm por base os mais recentes desenvolvimentos técnico-científicos nos domínios da Sismologia e Engenharia Sísmica, em que se inclui a implementação das novas regras europeias (o chamado Eurocódigo 8) no âmbito do dimensionamento sísmico das estruturas.

Serão também debatidas a "Avaliação da Segurança", "Sismicidade, Movimentos Sísmicos e Efeitos de Sítio", "Metodologias de Dimensionamento Sísmico, Códigos e Normas", "Reabilitação e Reforço do Património Construído", "Obras e Projectos de Engenharia Civil" e "Efeitos Sísmicos e Dinâmicos em Redes de Alta Velocidade", entre outros.

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