Autor: Lusa/AO Online
A pretensão dos produtores e
gestores florestais foi manifestada durante o seminário intitulado
“Gestão da Floresta e da Paisagem do Algarve", que hoje decorreu em
Monchique, concelho que tem sido afetado por vários incêndios nos
últimos anos, no distrito de Faro. Promovida
pela Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) em parceria com a
Associação Florestal de Portugal (Forestis), que representa mais de
17.000 proprietários florestais, a iniciativa juntou produtores,
gestores florestais e representantes de entidades públicas e privadas. Ao
intervirem no seminário, a maioria dos produtores defendeu “a
clarificação da política florestal e a redução e simplificação das
normas de funcionamento, medidas complementadas com uma maior
disponibilidade de verbas por parte do Estado”. Em
declarações à Lusa, o diretor regional do Algarve do Instituto da
Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) considerou o encontro “muito
importante para debater a floresta”, porque a preocupação está também na
sustentabilidade, já que a floresta é “muito mais do que a madeira”. “Temos
de manter um território sustentável sem comprometer as gerações
futuras, porque a floresta é um ecossistema com grande biodiversidade,
com valor na retenção de carbono, na emissão de oxigénio, na flora e
fauna e na economia”, apontou Joaquim Castelão Rodrigues. Para
o dirigente regional do ICNF, “há que olhar para uma floresta
adaptativa, baseada em princípios como a diversidade,
multifuncionalidade e segurança, nomeadamente o risco de incêndio”. De
acordo com dados do ICNF, o Algarve tem uma área de 63% de floresta,
com maior representatividade do pinheiro manso, seguindo-se os sobreiros
e os eucaliptos. “Para uma gestão mais
eficaz da floresta precisamos de criar mosaicos, medida de ordenamento
que é defendida pelos produtores e gestores do espaço florestal”,
concluiu. Por seu turno, o antigo
secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Florestal, Miguel
Freitas, considerou como crucial, a existência de um programa de apoio à
gestão ativa da floresta que apoiasse as Zonas de Intervenção Florestal
(ZIF). Segundo Miguel Freitas, também
membro do conselho consultivo da Forestis e investigador da Universidade
do Algarve, era muito importante que se olhasse para a figura das ZIF,
dado existirem 200 “que gerem cerca de dois milhões de hectares de área
florestal em todo o país”. No Algarve, existem 21 que gerem 100.000 hectares, especificou. Para
o antigo governante, “é fundamental que se reforcem” as verbas para a
floresta, revelando que em 2018 o Fundo Ambiental tinha 145 milhões de
euros, dos quais 40 milhões eram destinados para a floresta e, em 2024 o
mesmo fundo tem 1,8 mil milhões de euros “e para a floresta, os mesmos
40 milhões”. “Isto é, nós aumentámos 10 vezes o valor do Fundo Ambiental e continuamos a dar o mesmo para a floresta”, notou. Segundo
Miguel Freitas, a floresta em Portugal tem um valor de 2,2 mil milhões
de euros, “em duas grandes componentes: na dos produtos, aquilo que é a
matéria-prima, e de serviços e ecossistemas, que é o ambiente”. “Temos
uma arquitetura daquilo que são as políticas públicas, onde se está a
trabalhar, quer no domínio dos povos rurais, quer no domínio da
transformação da paisagem, mas continua a faltar um elemento essencial
que é aquele que apoia a gestão”, concluiu.