Açoriano Oriental
Primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, anuncia a sua demissão

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, anunciou a sua demissão, indicando que se manterá no cargo até que o seu partido escolha um sucessor

Primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, anuncia a sua demissão

Autor: Lusa/AO Online

“Tenciono demitir-me do cargo de líder do partido e de primeiro-ministro assim que o partido tiver escolhido o seu próximo líder”, disse aos jornalistas na capital, Otava.

Quase 10 anos depois de ter chegado ao poder, Justin Trudeau, 53 anos, estava sob pressão há semanas, com a aproximação das eleições gerais e numa altura em que a sua força política, o Partido Liberal (PL) do Canadá, está mal colocada em diversas sondagens.

“Este país merece uma verdadeira escolha nas próximas eleições. Tornou-se claro para mim que se tiver de travar batalhas internas, não posso ser primeiro-ministro”, disse o governante, que tem estado a enfrentar um descontentamento crescente em relação à sua liderança.

A saída abrupta da vice-primeira-ministra e ministra das Finanças, Chrystia Freeland, no final do ano, que discordava de Justin Trudeau sobre a forma de gerir a guerra económica iminente com os Estados Unidos, fez transparecer uma turbulência crescente no seio do governo canadiano.

Trudeau referiu que pediu ao presidente do Partido Liberal que inicie o processo de seleção de um novo líder.

Segundo fontes governamentais, o parlamento, que deveria ser retomado a 27 de janeiro, será suspenso pelo menos até 24 de março, data que permitirá a realização de uma corrida à liderança do Partido Liberal.

Trudeau chegou ao poder em 2015, após 10 anos de governo do Partido Conservador, e foi inicialmente elogiado por fazer o país regressar ao seu passado liberal.

Mas o também filho mais velho de Pierre Elliott Trudeau, um dos primeiros-ministros mais conhecidos do Canadá (primeiro entre 1968 e 1979 e depois entre 1980 e 1984), tornou-se profundamente impopular entre os eleitores nos últimos anos devido a uma série de questões.

Trudeau sofre atualmente de um baixo índice de popularidade, sendo responsabilizado pela elevada inflação do país, bem como pela crise da habitação e dos serviços públicos e pelo aumento da imigração. Com uma minoria no parlamento, foi enfraquecido pela retirada do seu aliado de esquerda e pelo crescente descontentamento dentro do seu próprio partido.

Trudeau, que tinha anunciado a intenção de se candidatar à reeleição, está a mais de 20 pontos percentuais do seu rival conservador, Pierre Poilievre, nas sondagens. As próximas eleições legislativas deverão realizar-se o mais tardar em outubro de 2025.

A campanha dentro do Partido Liberal pode durar vários meses e, mesmo que o processo seja acelerado, é pouco provável que Trudeau deixe o cargo em breve. Por conseguinte, deverá continuar a ser primeiro-ministro a 20 de janeiro, data da tomada de posse do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump.

As declarações de Donald Trump nas últimas semanas agravaram a crise política do Canadá e provocaram uma onda de choque em todo o país.

O país procura uma resposta para as ameaças do Presidente eleito, que prometeu impor tarifas de 25% ao Canadá e ao México assim que regressar ao poder.

Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial do Canadá e o destino de 75% das suas exportações. Cerca de dois milhões de canadianos, numa população de 41 milhões, dependem dos Estados Unidos.

O contexto político atual é “altamente invulgar”, comentou à agência noticiosa France-Presse (AFP) Lori Turnbull, professora da Universidade de Dalhousie.

Durante o período festivo, várias personalidades trabalharam nos bastidores para assumir a liderança do partido e, segundo uma fonte do Partido Liberal, o ex-governador do Banco do Canadá, Mark Carney, 59 anos, conselheiro económico do partido desde o verão passado, fez numerosos telefonemas nos últimos dias para obter o seu apoio. Tal como a antiga vice-primeira-ministra Chrystia Freeland.

O partido deverá realizar uma reunião importante na quarta-feira.

Mas há uma série de desafios à espera do sucessor de Trudeau, segundo os especialistas, que apostam numa vitória dos conservadores nas próximas eleições.

“É uma causa perdida”, afirmou André Lamoureux, especialista em ciências políticas da Universidade do Quebeque em Montreal (UQAM).

“Ninguém no Partido Liberal está hoje em condições de recriar um entusiasmo, um movimento de adesão”, destacou o académico.

Justin Trudeau procurou durante muito tempo o seu próprio caminho, nas mais diversas atividades: pugilista amador, instrutor de snowboard, professor de inglês e francês.

Enquanto primeiro-ministro, fez do Canadá o segundo país do mundo a legalizar a canábis, introduziu a assistência médica na morte e um imposto sobre o carbono, lançou um inquérito público sobre as mulheres aborígenes desaparecidas e assassinadas e pretende ainda assinar uma versão atualizada do Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA).


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