Açoriano Oriental
Covid-19
População de Ponta Garça dividida sobre imposição da cerca sanitária

Os habitantes da Ponta Garça dividem-se sobre a imposição de uma cerca sanitária naquela freguesia do concelho de Vila Franca do Campo, devido à Covid-19, alertando que deveriam ter sido tomadas medidas mais cedo.


Autor: Lusa/AO Online

Juntamente com Rabo de Peixe, Ponta Garça vai estar sob cordão sanitário até pelo menos 22 de janeiro, estando proibida a circulação na via pública.

O sino da igreja de Nossa Senhora de Piedade, altiva no meio da freguesia da Ponta Garça, badala a cada hora para marcar o compasso de mais um dia.

Contudo, é um dia diferente dos anteriores: aquela freguesia na costa sul da ilha acordou isolada devido à imposição de um cordão sanitário.

Em frente à igreja, perto do coreto que ainda está preenchido por uma cabana de presépio já sem figuras, várias pessoas aguardam na fila para entrar no centro de saúde.

Uma das pessoas é Marco Furtado, que explicou à agência Lusa que a afluência ao centro de saúde está relacionada com número de pessoas que vão ser testadas à Covid-19 na freguesia. É o seu caso.

“Eu vim fazer o teste à covid-19. Já fiz um, deu negativo, mas é preciso fazer novo teste seis dias depois. A minha mãe está positiva”, disse, explicando que vive com a mãe.

A conversa é interrompida por uma enfermeira que sai do centro de saúde quando repara que é Marco que está na fila. Depois de perguntar se é para realizar o teste, informa-o que deve entrar pela parte de trás. Todas as pessoas que vão ser testadas não entram pela entrada habitual do centro de saúde.

No breve caminho até às traseiras, Marco Furtado ainda falou sobre a cerca sanitária na freguesia.

“Eu não concordo muito com a cerca, não sei se fará diferença, porque as pessoas é que têm de ter responsabilidade. Eu não acho justo e não estou de acordo, porque assim ninguém pode entrar e sair. As pessoas é que tem de ter responsabilidade”, defendeu.

São poucas as pessoas a circular na freguesia e quase todas as que por ali passam vão em direção ao posto de saúde, como Ana Canadinha, que foi recolher umas análises.

“Eu concordo com a cerca, porque o número de casos está a aumentar e isso é um problema. Não podemos pensar só em nós. Se fosse outra freguesia a aumentar tanto os casos, eu também ia querer que fizessem uma cerca”, defendeu a jovem de 22 anos.

Apesar de concordar com a imposição, como trabalha como empregada doméstica, “não tem como passar declarações” que justifiquem as saídas: “por isso tenho de ficar esta semana toda em casa, sem receber dinheiro”, apontou.

 A jovem disse ainda aguardar que a cerca sanitária “seja só uma semana”, porque se for mais tempo, o “transtorno já começa a ser muito grande”.

"[A cerca sanitária] é um transtorno, mas também é uma semana, ninguém vai morrer. Temos aqui as coisas principais: temos mercado, centro de saúde”, disse.

Ao lado de Ana, a aguardar a vez para entrar no centro de saúde, Rita Matos discordou da jovem. Para ela, a freguesia deveria ficar isolada “pelo menos 15 dias”.

“Eu concordo com a cerca e acho que deveria ter sido imposta mais cedo e ficar por mais tempo. É verdade que há transtornos para quem trabalha, mas tem de ser”, defendeu.

A circular perto da igreja, o camponês António Machado admitiu saber que a circulação na via está proibida, mas salientou que só foi aos seus terrenos para ver se "estava tudo operacional".

Para ele, o número de casos na freguesia não se deveu à falta de informação.

“A gente aqui vai à missa todos domingos e o senhor padre avisou bastante, que festas e passagens de ano tinham de ser controladas, que não se podia juntar muita gente, mas as pessoas juntaram-se à mesma”, afirmou.

Um pouco mais acima da igreja, encontra-se mais um grupo de pessoas. Estão todas de máscara e distanciadas à espera de entrar no supermercado Vitória.

Angelina Furtado aproveitou para ir ao supermercado, já que teve de sair de casa. “Eu fui só cuidar do meu pai e parei aqui na loja”, justificou.

Sobre o cordão sanitário, defendeu que já deveria ter sido implementada e disse que, independentemente do isolamento, o “vírus vai continuar” na freguesia.

“A cerca deveria ter sido imposta antes do Natal no concelho de Vila Franca. Como há muitos casos aqui, concordo que se faça alguma coisa. Mas, pessoas continuam a entrar e a sair para as exceções e o vírus continua aqui”, afirmou.

Opinião idêntica tem Teresa Sociedade, proprietária do supermercado, que salientou que o aumento de casos na freguesia deveu-se aos ajuntamentos em período das festas.

“Eu acho a cerca nesta altura desnecessária, porque deveria ter sido feita mais cedo. A gente sabe que tem muitos casos, mas as medidas deveriam ter sido mais cedo, antes do Natal. Para mim foi tarde”, apontou.

Quanto ao negócio, a empresária disse que não tem existido qualquer problema com abastecimento do supermercado.

A afluência de manhã esteve “normal”, mas, confessou, prever dias com menos gente.

“Até agora está tudo normal, mas há sempre impacto, porque há menos gente. Mas, graças a Deus nós vamos sempre vendendo, mas sempre há aquela hora do dia em que as pessoas já não saem a rua”, frisou.


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