Açoriano Oriental
Paulo Afonso o colecionador de recordes mundiais em caça submarina

Paulo Afonso, natural da ilha do Pico é conhecido pela sua enorme capacidade em caça submarina. É detentor de quatro recordes do Mundo e também conta com recordes europeus. As fotografias e vídeos a praticar esta atividade correm o Mundo e promovem a riqueza do mar dos Açores

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Autor: Célia Machado/AO Online

Chama-se Paulo Afonso Melo, é de Santo Amaro do Pico e já habituou amigos e seguidores, quer aos vídeos gravados entre cardumes no mar, nos quais é o protagonista, quer às impressionantes capturas que faz em caça submarina. Em 2019, por exemplo, o vídeo do seu encontro com um tubarão-baleia teve destaque nacional.

Já em março deste ano a Associação Europeia de Recordes em Caça Submarina confirmou mais um recorde europeu, pelo atum-de-galha-à-ré (Thunnus albacares) de 115 quilos que capturou a sul do Pico.

Paulo Afonso é um verdadeiro colecionador de recordes mundiais (quatro) e europeus em caça submarina e pretende continuar a ampliar o rol de troféus, tendo mesmo batido os seus próprios recordes algumas vezes.

A sua mestria valeu-lhe um reconhecimento da Riffe Internacional, fabricante americano de equipamentos de caça submarina e mergulho livre de renome mundial, ao incluí-lo no seu grupo de elite, pelo que é o único europeu a ser patrocinado pela marca.

O Paulo e o mar são indissociáveis. Esta ligação vem desde quando?

Vem desde sempre. Sempre senti uma atração muito forte pelo mar e acredito que forças assim vêm do berço, pertencem-nos.

E com a caça submarina?

O meu pai é um homem do mar, apaixonado pela pesca. Os meus dois irmãos, mais velhos, já praticavam caça submarina. Ainda hoje se contam histórias das suas façanhas. E eu cresci neste ambiente salgado, numa ilha que me permitia liberdade. As incríveis histórias e os belos peixes que o meu pai e os meus irmãos traziam daquele misterioso mar deixavam-me em constante fascínio. Aos meus olhos, eles só podiam ter superpoderes e eu queria ser igual a eles.

Comecei por pescar com linha e anzol, mas não da forma convencional. Fazia-o dentro de água. Era uma enorme vantagem poder ver e, assim, selecionar quais os peixes que queria tentar pescar. Para mim, só assim fazia sentido.

Passei a maior parte da minha infância com a pele salgada e os lábios roxos. Extremamente curioso e, pelo que consta, perigosamente corajoso no que toca às coisas do mar, não levou nada até estar muito à vontade dentro de água e começar a aventurar-me um pouco mais além. O carro de linha e o anzol já não eram suficientes, precisava de uma arma para aqueles peixes maiores. E os meus pais compraram-ma... O resto desta história, já se sabe no que deu.

Que apego é esse? O que sente quando está no mar?

Essa é aquela pergunta para a qual eu deveria ter uma resposta pronta e concisa, mas não tenho. Sinto tudo sem sentir nada. É uma sensação muito genuína de pertença, uma coisa pura sem esforço, sem imposição de compromisso ou interesse. É ter a certeza absoluta de que aquele é o meu lugar! Mesmo quando em terra, é no mar que estou muitas vezes.

A minha cabeça, por vezes, pode ser bastante barulhenta mas, quando estou imerso, calam-se todas as vozes. O foco é total, é ali que melhor me reconheço.

O seu pai, já com idade avançada, persiste enquanto pescador. O Paulo Afonso herdou essa paixão... Os seus filhos sentem, igualmente, essa proximidade, esse chamamento? Passou-lhes para o ADN?

Eu gosto de pensar que sim, que também lhes está no sangue! Pelo menos no nome a ligação existe, pois ambos têm “Mar” como segundo nome: Afonso Mar e Noah Mar. Contudo, são muito novinhos e qualquer conclusão pode ser precipitada, ainda mais vinda de mim, que sou muito suspeito. Já se nota, claramente, que vieram de origem com um à-vontade muito especial dentro de água.

Faz parte da equipa da Riffe Internacional, um grupo de apenas 13 elementos escolhidos a dedo para representar a marca. Como surgiu a oportunidade?

Integrei a equipa Riffe em fevereiro de 2015. Aconteceu muito naturalmente. Paralelamente à minha evolução enquanto caçador submarino, houve sempre a necessidade de melhorar também a qualidade do equipamento essencial para a prática, principalmente quando comecei a aventurar-me para águas mais profundas, longe da proteção da costa, em busca de peixes maiores, muito mais poderosos e difíceis de alcançar. Era fundamental encontrar equipamento à altura do desafio. Foi então que me cruzei com a Riffe.

A Riffe International, sediada na Califórnia, foi fundada pelo lendário senhor Jay Riffe e é, até hoje, orgulhosamente gerida pela sua família. Tem a experiência de mais de 40 anos no desenvolvimento de equipamento de excelência, assente na enorme experiência do seu fundador e de toda uma equipa de atletas patrocinados. De momento 13 espalhados pelo mundo, minuciosamente escolhidos, não só pelas suas capacidades, mas, principalmente, pelo comportamento ético.

A fama desta marca, por fabricar as melhores e mais fiáveis armas de caça submarina do mercado, levou-me a adquirir uma arma Riffe adequada às minhas pretensões na altura e fiquei completamente rendido! A diferença dos resultados por mim obtidos em ação de caça desde que usava a Riffe era clara. A qualidade daquele produto aumentou imenso a minha confiança trazendo ao de cima o melhor das minhas capacidades.

Foi então que comecei, quase por brincadeira, a expor algumas das minhas capturas e as suas histórias nas redes sociais e revistas da especialidade, onde também seguia fascinado atletas de topo da caça submarina, alguns deles patrocinados pela Riffe. Nem sonhava que também eu estava a ser seguido/observado pela família Riffe.

Fish for the Future (Peixe para o Futuro) é este o lema da Riffe International, uma mensagem assente numa filosofia de ética e conservacionismo na prática da caça submarina. São valores dos quais partilho convictamente e a família Riffe, reconhecendo essa forma de estar em mim, achou que eu seria uma boa aquisição para a equipa. O convite foi oficializado através duma conferência via Skype, na qual estavam reunidos todos os responsáveis e membros da família Riffe. Eu seria, assim, o primeiro e único atleta da Europa a fazer parte deste grupo. Uma enorme honra para mim! Escusado será dizer que aceitei logo, sem pensar.

Sonho muito e nem nos meus sonhos mais loucos alguma vez imaginei vir a fazer parte dum grupo de atletas tão capaz, em representação da mais conceituada marca de caça submarina existente.

Tem alguns recordes europeus e quatro mundiais de caça submarina, inclusivamente bateu dois recordes que haviam sido estabelecidos por si. Há essa procura constante pelo exemplar maior?

Existe, efetivamente, uma busca constante pela aventura maior. Não propriamente pelo recorde em si, esse surge por consequência e é a parte à qual menos valor dou. Claro que o reconhecimento alimenta-me o ego e dá-me confiança... e sem confiança nunca sequer ponderaria tentar alcançar algumas das loucuras a que me proponho. Penso que o meu verdadeiro ímpeto está no prazer que tiro do desafio, na emoção, na adrenalina que vem no tentar.

Normalmente, as pessoas veem apenas o resultado final, a fotografia a segurar o peixe, a notícia do recorde, etc… a maioria não faz ideia do percurso até chegar ali, ao momento da foto.

Aceitar como possível aquele desafio/sonho que vem sendo visualizado espontaneamente na minha cabeça é onde tudo começa. Depois vem a escolha e preparação do equipamento indicado, a pesquisa, recolha de informação, estudo dos hábitos e comportamentos de cada espécie. Há que manter a forma física, há que ser muito paciente, teimoso, persistente e, acima de tudo, extremamente seletivo. Mais de 90 por cento das vezes eu regresso a zero e, normalmente, não é por falta de ver peixe.

É necessário estar sempre preparado para quando o momento certo aparecer, mas também é imperativo aceitar o facto de que esse momento pode levar anos a chegar. Eu ainda espero por alguns, mas não espero sentado!

Tudo isto pode parecer um bocado descabido, mas o sentimento de realização que vem com o atingir do objetivo faz valer todo o esforço e sacrifício.

Qual o recorde que ainda gostaria de ver associado ao seu nome?

Existem alguns que teriam um sabor muito especial mas isso são coisas que guardo para mim, não gosto de revelar. Talvez tenha receio de azarar ao expô-lo.

A terminar, a ilha do Pico tem bons locais para a prática da caça submarina?

Sim. Felizmente ainda podemos encontrar em redor da ilha do Pico, tal como em todo o arquipélago, spots muito interessantes com peixe variado e muito saboroso. 








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